Champions League: a roda-gigante na principal competição de clubes do mundo

Assim como nos investimentos, no futebol valem a organização, o planejamento e o longo prazo

Nesta semana tivemos a definição das semifinais da UEFA Champions League da atual temporada. De um lado teremos Real Madrid e Manchester City, a disputa entre o poder histórico e o novo poder no futebol, enquanto do outro lado veremos o renascimento do futebol italiano com o “Derby della Madonnina” – alusão ao Duomo de Milão, a catedral central da cidade – também conhecido como Derby de Milão.

Para quem acompanha o futebol europeu além das manchetes, serão duas partidas intensas, cuja final vai colocar frente a frente um protagonista de peso atual e outro de peso histórico.

Mas antes de analisar a atual semifinal, vamos tratar da evolução histórica das semifinais da competição europeia e extrair alguns insights interessantes.

Os números da Champions League

Nos últimos 10 anos, período em que concentraremos a análise, foram 40 as equipes que chegaram ás semifinais, sendo que 9 delas ocuparam 79% das vagas. Ou seja, 31 vagas de semifinais forma ocupadas por um seleto grupo de clubes: Real Madrid (8 vezes), Bayern (5), Manchester City (4), Liverpool e Atlético de Madrid (3), Barcelona, Chelsea, Juventus e PSG (2).

As outras 9 vagas foram ocupadas uma única vez por cada clube, e nenhum deles foi campeão:

Do grupo de clubes que chegaram uma única vez às semifinais, Roma, Tottenham, Lyon, RB Leipzig e Villareal nem chegaram a conquistar o campeonato nacional. O Mônaco foi campeão francês na mesma temporada, o Ajax é um vencedor recorrente nos Países Baixos e Milan e Inter são os dois últimos campeões italianos.

Ou seja: a competição eliminatória dá chances de performance diferenciada mesmo para equipes de menor poderio financeiro, mesmo que raramente.

Vamos olhar então o comportamento geral no período de 10 anos, a partir de 2013/2014:

Dá para separar o período em “momentos”, sendo que um deles é praticamente estável, que é a presença do Real Madrid em 8 de 10 semifinais. Curiosamente, o hiato ocorreu logo após saída de CR7 e do tricampeonato de 15/16 a 17/18.

Justamente o período de reorganização esportiva, com saída de atletas históricos e chegadas de jovens, suportados por Modric e Kroos no meio-campo. Inclusive, durante a pandemia o clube chegou a passar uma janela de transferência de atletas sem nenhuma contratação, para preservar sua capacidade financeira.

Depois temos um período também relevante com presença do Bayern, nos sete primeiros anos, mas que culminou com um único título, justamente no último dos anos. Depois disso, mesmo com grandes receitas e dominando a Bundesliga (campeonato alemão) ficou sempre distante das disputas na Champions League.

Por fim, a chegada forte do Manchester City, presente nas últimas três semifinais. Enquanto o PSG, co-irmão de bolso fundo, apresentou um bom momento em 19/20 e 20/21, mas depois ficou sempre distante.

No final, os 9 clubes que ao longo desse período participaram por mais de uma vez das semifinais estão estabilizados na faixa dos 80% do total. Isto significa que a concentração que vemos nas competições nacionais também se estendem, de alguma forma, à principal competição continental.

Ao mesmo tempo, exceto pelo Real Madrid, observamos pela amostra que os clubes se movimentam por fases. O Bayern perde espaço ao mesmo tempo em que o Manchester City se consolidou.

No início do período tínhamos a presença forte do Atlético de Madrid, e mais recentemente do Liverpool.
Estes movimentos têm total relação com o dinheiro e a gestão. Participar da Champions League é acessar um pote de ouro.

Quanto a Champions League paga em premiação?

A competição paga premiações elevadas conforme dois critérios: desempenho histórico e evolução ao longo das fases.

Participar sempre garante um bom dinheiro já de início por conta da recorrência ao longo de 10 anos nas competições continentais, que classifica os clubes num ranking por desempenho.

Por exemplo: entre os 4 semifinalistas da atual temporada, o Real Madrid é o que tem a maior pontuação, com 378 mil pontos, seguido de Manchester City (8º, com 220 mil pontos), Inter (26º com 118 mil) e Milan (27º com 113 mil). Na atual temporada o Real Madrid receberá € 36,4 milhões, com Manchester City recebendo algo perto de € 30 milhões e Inter e Milan com € 22 milhões.

Pela evolução ao longo das fases há premiação, e quem chega às semifinais recebe algo perto de € 60 milhões, fora as bilheterias, que podem alcançar médias de € 4,5 milhões. Para 6 partidas em casa são € 27 milhões.

E nem falamos dos finalistas. O vice-campeão recebe € 15,5 milhões e o Campeão faz € 20 milhões em receitas. Por isso a disputa nas competições nacionais é tão importante, não apenas pelo título, mas também pela chance de chegar à Champions League.

Movimentos Nacionais

Observando a evolução de semifinalistas nos últimos 10 anos podemos notar reflexo da competitividade do futebol nacional.

Espanha e Inglaterra dominam o período, e só não estiveram presente na temporada 19/20, que por conta da pandemia teve uma regra final diferente de disputa.

Mas enquanto a Inglaterra segue com a forte Premier League, a Espanha vê sua competição nacional perder relevância, apesar da presença do Villareal nas semifinais de 21/22. Enquanto isso, será que as recentes modernizações táticas na Serie A italiana significarão um ressurgimento do futebol local, ou ver Milan e Inter nessas semifinais foi apenas obra do acaso?

Futebol é organização

O futebol é dinâmico. Quem se organiza, planeja e pensa a longo prazo tem mais chance de sucesso.

Mas não pode deixar em berço esplêndido, porque essa entendimento já passou a ser modus operandi de uma série cada vez maior de clubes. Vale para a Europa, vale para o Brasil.

Quem não se adaptar está fadado a ser coadjuvante.