Cenário global desperta interesse por Brasil, diz executivo da bolsa de Nova York

Chefe de mercados internacionais da bolsa de Nova York aponta que ADRs brasileiros são um dos ativos mais líquidos no mercado americano atualmente

Apesar de a recente aceleração na alta de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) ter reduzido a propensão ao risco no mercado internacional, o interesse do investidor da bolsa de Nova York, a New York Stock Exchange (Nyse), continua grande pelo Brasil, afirma o chefe de mercados internacionais da Nyse, Alex Ibrahim, em entrevista ao Valor. “Até mesmo agora, com alta inflação e juros em elevação, guerra da Ucrânia e as condições na China com a covid-19, o investidor continua negociando Brasil”, diz.

“Falando pelas lentes da bolsa de Nova York, o Brasil é o quarto maior em termos de empresas listadas na Nyse, atrás apenas do Canadá, China e Reino Unido – e o Brasil vai passar o Reino Unido em breve”, afirma Ibrahim. Segundo o executivo, “os investidores dos EUA usam as empresas listadas em Nova York como ‘proxy’ para investir no Brasil”.

O chefe de mercados internacionais da Nyse aponta as ADRs de grande empresas – os recibos de ações brasileiras negociadas em Nova York – como um dos ativos mais líquidos atualmente. “Em termos de liquidez, fora as próprias grandes companhias americanas, é atualmente o país com empresas mais líquidas dentro da bolsa de Nova York.”

De acordo com Ibrahim, estar praticamente no mesmo fuso horário de Nova York “se torna uma vantagem para o Brasil”. Conforme o executivo, “isso traz oportunidade de arbitragem entre os mercados por meio do ADR, com investidores comprando em dólar e vendendo em reais”.

No cenário atual, com os problemas nas cadeias de suprimentos globais exacerbados pela guerra na Ucrânia, o Brasil ganha uma atratividade maior. “A base de empresas brasileiras listadas na bolsa de Nova York tem grande peso de commodities, com Vale e Petrobras, companhias de energia, além de várias empresas no setor financeiro – os maiores bancos na América Latina são os brasileiros”, pontua.

O chefe de mercados internacionais da Nyse também chama a atenção para “uma nova geração de empresas de tecnologia [que têm se listado diretamente no mercado dos EUA], como a Netshoes, Ci&T, PagSeguro e Nubank, além do setor de consumo, entre os quais os grupos Assaí e Pão de Açúcar“.

Na visão de Ibrahim, “na verdade, [as opções de ações e ADRs brasileiros] não estão centralizadas só em commodities”. De acordo com o executivo, “nos últimos cinco anos o interesse [na listagem no mercado americano] de empresas [brasileiras] no setor de tecnologia que a gente chama de disruptivas e inovadoras cresceu muito”.

Segundo Ibrahim, esse aumento de demanda levou a Nyse a criar um novo braço para atender companhias brasileiras. “Hoje temos uma área dedicada aqui na Nyse que só cobre o Brasil. Meu ‘pipeline’ [de processo de novas listagens], quando olho Brasil, 75% é tecnologia.”

Ibrahim também vê nas “special purpose acquisition company”, as spacs, também conhecidas como “empresas cheque em branco”, uma oportunidade para as companhias locais acessarem a bolsa nos EUA. “Fizemos recentemente um ‘business combination’ da Eve [subsidiária da Embraer, especializada em veículos voadores elétricos].”

As spacs são veículos de investimento que fazem uma oferta inicial de ações (IPO) ainda em uma fase não operacional. Com o valor captado, têm até dois anos para encontrar uma empresa de capital privado e realizar uma fusão, processo chamado de “business combination”. Com isso, a nova companhia resultante já está listada na bolsa onde a spac abriu capital imediatamente após a combinação de negócios.

“O movimento [de lançamento] das spacs está diminuindo um pouco. Muitas empresas estão esperando clareza da Securities and Exchange Comission [SEC, a comissão de valores mobiliários americana] e como vão regular o setor e o business combination. Mas, se olharmos o pipeline de spacs no mercado, são mais de 500 que têm de fazer a combinação de negócios nos próximos 12 a 18 meses, e esses veículos não estão olhando só nos EUA, mas fora daqui também. Acho que vamos ver outras combinações com spacs no Brasil. Tem muita empresa pronta no Brasil para fazer IPO ou optar por um business combination.”

Na avaliação do especialista, “no país vejo setores que poderão vir ao mercado [americano], como healthcare, agrobusiness, biotech e o ‘consumer brand’ [marcas de moda e outros]”. São setores, segundo Ibrahim, sem representação na Nyse e que despertam grande interesse de investidores internacionais.

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