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Super Quarta: Veja o que dizem 13 especialistas sobre as decisões de juros no Brasil e nos EUA
No dia 3 de maio acontece a Super Quarta, como ficou conhecido o dia em que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central e o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed) anunciam suas respectivas decisões de juros. As expectativas do mercado com relação ao 3 de maio pairam em torno de quando haverá o início do ciclo de corte de juros nos dois países.
E sem enrolação, 100% dos analistas ouvidos pela IF acreditam na manutenção da Selic no Brasil e na elevação dos juros nos EUA. Em suma, o mercado espera que a taxa básica de juros brasileira seja mantida em 13,75% ao ano, e que a americana seja elevada 0,25 ponto percentual, para a banda entre 5% a 5,25% ao ano.
As dúvidas e divergências, no entanto, são em relação ao tom dos comunicados do Copom e do Fomc, que acontecem logo após as decisões de juros.
A IF consultou 13 casas de análise para saber o que esperar dos BCs no dia 3 de maio: Ajax Capital, Upon Global Capital, Davos Investimentos, DOM Investimentos, Nomad, Ativa Investimentos, Simpla Club, RB Investimentos, Suno Research, Bradesco (via relatório), Rio Bravo Investimentos, Kinitro e VG Research.
Comunicados
Nos EUA
Os comunicados dos bancos centrais costumam vir acompanhados da divulgação da decisão de juros. Eles são importantes pois trazem as justificativas para a tomada de decisão e apontam os rumos, ou o viés, da próxima de juros reunião.
O que a maioria dos consultados pela IF projeta, é que:
- Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (banco central americano) após divulgar a elevação de 0.25 p.p. na taxa, fará um anúncio que pode indicar a manutenção da taxa em decisões futuras, já que os últimos dados para a inflação nos EUA mostram uma desaceleração na escalada dos preços. Segundo o CME Group, a probabilidade de um aumento de 0,25 p.p. é considerada por aproximadamente 85% dos economistas.
- No Brasil, no entanto, parte dos analistas espera que o comunicado venha sem indicar corte nos juros nas próximas reuniões do Copom. Outros, no entanto, acreditam que o BC sinalizará ao governo a importância de ter o Arcabouço Fiscal e a Reforma Tributária aprovados pelo Congresso.
De fundamental importância para os investimentos no país e para o nível de atividade econômica nacional, a taxa de juros é um dos instrumentos utilizados como instrumento de controle da inflação.
Por isso, é alta a expectativa por traz de cada anúncio. E é também pelos mesmos motivos que há grande interesse do governo, das empresas e dos investidores pelas decisões de juros.
O que dizem os economistas?
Rafael Passos, da Ajax Capital
“Sem surpresas, no Fed, alta de 25 bps (pontos base) e pausa nas altas”, diz.
O analista ressaltou que os eventos recentes relacionados aos bancos regionais dos EUA e seu impacto no consumidor final pressionam o Fed a não elevar mais os juros, mas também não abre brecha para cortar a mesma taxa neste ano.
“No Copom também não haverá surpresa. A Selic deve ser mantida em 13,75%, com a mensagem apontando para a inflação ainda em níveis elevados, além das expectativas ainda estarem ‘desancoradas’, mas poderá apontar para uma avaliação mês a mês do quadro e reconhecer esforços do governo.”
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos
“O nosso cenário base é a Selic mantida em 13,75%. Nos EUA, o Fomc deve elevar os juros em 0,25 p.p. com aviso de interrupção das altas e sem previsão de corte. É bom o investidor olhar o Boletim Focus na terça-feira para ver a mudança e tendências da economia para 2024, pois por enquanto não há muita justificativa para se alterar a política monetária.”
Kinitro
A Kinitro fez projeções apenas para o Fomc, equivalente nos EUA ao Copom no Brasil.
“Acreditamos que o Fed elevará as taxas de juros em 25 bps. O comitê deve sinalizar a interrupção do ciclo de alta, mas deve deixar a porta aberta para elevações adicionais [no futuro]”, aponta.
Segundo a casa de análise, Jerome Powell, o presidente do Fed deve sinalizar em sua conferência que pode voltar a subir a taxa de juros caso os dados de atividade econômica e inflação continuem surpreendendo as projeções para cima.
Nicole Kretzmann, economista-chefe da Upon Global Capital
De acordo com Kretzmann, segundo as projeções do próprio Fomc, essa seria a última alta desse ciclo.
“Dada a desaceleração na margem da inflação e do mercado de trabalho, a pausa [na alta dos juros] é realmente o mais provável, com o Fed sendo mais parcimonioso e aguardando para avaliar o efeito integral das altas feitas até agora”, completou.
Atenção, diz Kretzmann, à retórica de Jerome Powell, que até agora diz que historicamente um relaxamento prematuro da política monetária compromete a convergência da inflação para a meta, e o Fed foi explícito ao afirmar que não tem como cenário base cortar juros ainda esse ano.
“O mercado, porém, possui pouco mais de dois cortes precificados na curva de juros no segundo semestre. Espera-se que a comunicação consiga resolver pelo menos um pouco dessa divergência.”
Ricardo Pompermaier, economista-chefe da Davos Investimentos
Segundo o economista, para o Brasil pode-se esperar manutenção da taxa de juros em 13,75% sem sinais de corte em breve.
Segundo Pompermaier, os núcleos da inflação ainda estão rodando bem acima da meta e a difusão do IPCA-15 voltou a subir em relação ao IPCA de março. Com isso, a expectativa de inflação para 2024 também continua piorando no relatório Focus. As medidas de núcleo são consideradas mais precisas, já que excluem itens voláteis, como alimentos e energia, sobre os quais os bancos centrais têm menos controle. E por essa medida, a inflação brasileira preocupa. Logo, manter o juros elevados faz sentido para controlar a escalada dos preços.
“Nos EUA, a decisão de juros é mais provável vir com alta de 25 bps e deixar em aberto os próximos passos. Lá o núcleo da inflação roda ainda perto de 4,5% em doze meses, mas pode incorporar os recentes eventos bancários (crises) e a contração mais forte do crédito no cenário, sinalizando uma provável pausa no ciclo de alta.”
“Não acredito que venham cortes (de juros nos EUA) até o fim do ano como a curva de juros futura precifica no momento”, completa.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos
Manutenção da Selic em 13,25% e elevação de 0,25 ponto percentual na taxa de juro americana, para 5,25%, pelo Fed.
A dúvida, claro, é sobre o comunicado, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil, deve repetir no comunicado o que falou no Senado, sobre Arcabouço Fiscal e como vai ser o texto aprovado.
“No Fed o comunicado deve trazer um aviso sobre pausar [a escalada dos juros] diante do aperto [monetário, que pode desacelerar excessivamente a economia], mas ele não deve falar sobre corte de juros neste ano”, disse.
“O tom do comunicado serve para pressionar o governo e o Congresso a acelerar as agendas econômicas, como no Brasil é o caso do arcabouço fiscal, que aguarda a apreciação do Congresso.”
Alexandre Lohmann, estrategista-chefe da Constância Investimentos
“No caso do Brasil, 100% de probabilidade da manutenção em 13,75%. Houve uma surpresa de baixa no IPCA de abril, mas isso foi compensado pelos núcleos [de inflação, que mostram que a pressão inflacionária permanece]. Não há motivos para o BC alterar seu plano de voo agora.”
“Nos EUA é mais complicado, pois a crise bancária fez cair a expectativa com novas altas de juros, mas o Fed tratou o problema como ‘de liquidez’ e continuará a se balizar pela alta inflação para sua decisão de política monetária na quarta-feira (3).”
Thiago Armentano, analista-chefe de ativos globais do Simpla Club
Para Armentano, aqui no Brasil é esperado que os juros fiquem estáveis. Nos EUA, segundo ele, o Fed deve elevar mais 0,25 p.p.
No Brasil, continua, é possível que um corte na taxa básica de juros seja feito na próxima reunião do Copom, que acontece em junho (20 e 21), mas isso vai depender dos dados de inflação que virão a seguir.
“Os dados projetados para a inflação no fim deste ano giram em torno de 6%. Com os juros reais acima da média histórica e a inflação sob controle, haverá espaço para o corte de juros. Há também um impacto considerável nessa decisão com relação à definição das contas públicas, assim que o novo arcabouço fiscal for aprovado definitivamente no Congresso.”
Nos EUA, o mercado começa a desenhar uma nova fase do ciclo, mas talvez as taxas caiam apenas em 2024, diz Armentano. “A pressão inflacionária que o país vem sofrendo é relativamente nova para eles. Os bancos centrais das nações desenvolvidas estavam acostumados com taxas de juros em patamares próximos de zero, o que teve que ser mudado drasticamente por conta da pandemia do Covid e da guerra entre Rússia e Ucrânia que impactaram drasticamente as cadeias globais de suprimento.”
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research
Nos EUA a expectativa é de encerrar o ciclo de alta já nesta semana, levando a taxa para 5,00% – 5,25% a.a. Em setembro, diz Sung, devemos assistir ao início do processo de cortes de juros.
“Em nossa visão, a inflação nos EUA está desacelerando, mas ao colocarmos uma lupa, há alguns itens que continuam elevados como alimentos, energia e serviços. E, os recentes episódios no sistema financeiro (crise bancária dos bancos regionais) parecem, de certa forma, controlados, mas poderemos ter alguma volatilidade pela frente caso haja novos casos”, diz.
Em contrapartida, diz Sung, a atividade econômica e o mercado de trabalho nos EUA estão dando sinais de perda de tração, o que pode diminuir a pressão sobre os preços. “Como ainda há um processo de arrefecimento dos preços e incertezas financeiras, o banco central norte-americano, o Fed, deve evitar qualquer tipo de movimento brusco.”
No Brasil, a perspectiva de estarmos próximos do fim do ciclo de alta do juro tem aumentado o apetite dos investidores nas últimas semanas. “O dólar tem se enfraquecido em comparação às outras moedas e a taxa de câmbio real-dólar próximo de R$ 5 é um reflexo disso. Um câmbio menos desvalorizado diminui a pressão sobre os preços dos bens e serviços brasileiros.”
Fernando Honorato Barbosa, economista-chefe do Bradesco
Há uma incerteza relacionada à possibilidade de mudança das metas de inflação no Brasil. Até junho, quando o Conselho Monetário Nacional (CMN) irá tomar uma decisão sobre o tema, essa incerteza deverá manter as expectativas de inflação pressionadas.
“Resolvido o impasse, acreditamos que a distância do Focus em relação à meta irá se reduzir, abrindo espaço para algum afrouxamento da política monetária no segundo semestre. A Selic deve encerrar o ano em 12,25%”.
Nos EUA, segundo Honorato, os riscos financeiros aparentemente controlados, a inflação ainda pressionada, o desemprego baixo e o bom ritmo de crescimento devem levar a um novo ajuste na taxa de juro pelo Fed.
“A autoridade monetária tem sinalizado que o cenário mais provável é de um ajuste adicional de 0,25p.p. nos juros, levando a uma taxa terminal de 5,25%”. Acreditamos e mantemos essa expectativa como cenário base, com as incertezas se concentrando no eventual momento de corte de juros.”
“Entendemos que um risco associado ao ciclo de política monetária do Fed está relacionado à evolução do desemprego. As condições de crédito sugerem uma piora mais tempestiva da taxa de desemprego nos próximos trimestres, quando comparada às expectativas do mercado e do próprio Fed. Se esse risco se materializar, poderemos discutir cortes de juros antes do que o previsto.”
Em resumo, se a política dos juros altos nos EUA começar a prejudicar a atividade econômica a ponto do desemprego crescer, o Fed pode ter de baixar as taxas antes do previsto.
Luca Mercadante, economista da Rio Bravo Investimentos:
“O Copom deverá realizar mais uma manutenção da taxa de juros, em virtude da dinâmica corrente da inflação e das expectativas”.
A autoridade monetária ainda não tem sinais consolidados de que o processo de desinflação está em curso.
“Vimos no último dado do IPCA melhora nas medidas subjacentes, mas que ainda não garantem a convergência da inflação para a meta, como indicado nas expectativas do Focus. Assim deve realizar mais uma manutenção da taxa de juros. Esperamos que os cortes comecem a partir de setembro e que a Selic termine o ano em 13%”, afirmou.
Guilherme Morais, analista da VG Research
Nesta sexta-feira foi divulgada uma informação de grande relevância para o Fed, o PCE (índice de preços ao consumidor nos EUA) que é o de inflação considerado pelo Fed mais importante do que o CPI.
O PCE registrado para o mês de março foi de 0,1%, abaixo dos 0,3% esperados pelo mercado.
Já o core PCE, que exclui a variação de preço de alimentos e energia foi de 0,3%, em linha com as expectativas. Dessa forma, o PCE e o core PCE acumulado para os últimos 12 meses foi de 4,2% e 4,6%, respectivamente.
O principal destaque foi a queda de 0,9 p.p do PCE acumulado em relação ao mês de fevereiro, que foi de 5,1%. Entretanto, avaliando o core PCE, a queda foi de apenas 0,1 p.p.
“Os dados de março reforçam a tendência de queda da inflação, entretanto a inflação nos itens de bens e serviços permanece elevada. Assim, o consenso do mercado em relação a decisão do Fomc será com um novo aumento da taxa de juros em 0,25 p.p., com isso, a taxa de juros alcançará a faixa de 5,00%-5,25%”, completou.
Gabriel Maksoud, CEO da DOM Investimentos
O Fomc e Copom estão precificados com alta de 0,25 e manutenção de 13,75%, respectivamente.
As expectativas seguem sendo pelos comunicados, para o Fomc é que seja a última alta dos juros e para o Copom é que o comunicado dê uma aliviada no discurso, assim como a ata, se os comunicados saírem assim, o mercado pode agir de maneira positiva.
Celso Pereira, diretor de investimentos da Nomad
A autoridade monetária nos EUA deve elevar a meta de juros básicos em 0,25% na quarta, dessa forma, o alvo para os juros básicos nos EUA passaria a ser 5%-5,25% ao ano, reforçando o comprometimento da autoridade monetária com o controle da inflação.
“O mercado de trabalho nos EUA continua aquecido, atraindo a preocupação do Fed [pois o poder de compra do consumidor permanece alto]. Outros dados importantes nos EUA são os resultados das empresas (na temporada de balanços) e dados do mercado imobiliário. Os resultados das 500 maiores empresas americanas negociadas em bolsa no primeiro trimestre vieram melhores que o esperado.”
“Já no Brasil, o aspecto fiscal é o de maior relevância. As análises da proposta do governo já se iniciaram no Congresso. Alguns temas estão gerando bastante discussão, como a dificuldade de conseguir controlar os gastos com as novas regras e quais medidas serão tomadas em caso de descumprimento dos limites de despesas.”
“Além disso, as previsões de mercado sugerem uma inflação mais alta, inibindo um corte de juros no primeiro semestre de 2023.”
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