Busca por debênture incentivada reduz prêmio
Em meio à disparada da inflação e ao movimento acelerado de alta da taxa básica de juros, a Selic, o apetite do mercado por investimentos em títulos de dívida privada voltou a crescer. É o caso das debêntures incentivadas, que têm ganhado espaço na carteira dos investidores por estarem atreladas ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
No cenário de hoje, como a remuneração das debêntures incentivadas tem uma parte prefixada ao indexador IPCA e os projetos de infraestrutura das companhias são financiados com dívidas de longo prazo, as taxas oferecidas por esse tipo de investimento passam a ter uma atratividade maior em relação à Selic.
Odilon Costa, analista de renda fixa e crédito privado do BTG Pactual Digital, diz que o mercado de debêntures incentivadas está aquecido e atribui o bom momento da categoria a um movimento inverso ao visto no ano passado. “De forma geral, quando a taxa de juros chegou a 2% ao ano, houve uma corrida da renda fixa para a renda variável. Neste ano, porém, a situação se inverteu. Com a Selic se aproximando dos dois dígitos, os investidores estão saindo da bolsa e voltando para a renda fixa, fluxo que acaba beneficiando as debêntures incentivadas”, afirma.
Ele pondera ainda que, para o próximo ano, a categoria vai continuar atrativa por uma questão de momento de mercado, mas faz uma ressalva sobre o nível atual do spread, ou prêmio de risco. “O mercado deu um soluço em 2019, mas em agosto do mesmo ano abriu um espaço para um movimento mais técnico e, em 2020, os níveis de spread ficaram mais altos. Agora, porém, já estão quase inferiores ao período pré-pandemia, a diferença é marginal”, diz.
Levantamento realizado pelo analista Elyson Narita, da POP BR, empresa da LUZ Soluções Financeiras, também aponta uma compressão dos spreads de emissão. De forma geral, pondera Narita, a média dos spreads de emissão quase triplicou no início da pandemia, entre março e abril de 2020. No entanto, passou a diminuir aos poucos nos meses seguintes, até que, a partir de outubro, o mercado de debêntures incentivadas começou a retomar os níveis pré-pandemia.
Isso porque, explica Costa, o movimento “fortemente” comprador de renda fixa, sobretudo depois que o Banco Central deu início ao ciclo de alta da Selic, somado aos balanços mais fortes anotados pelas companhias nos últimos trimestres, pressionou o mercado de debêntures incentivadas, que tem um número limitado de emissores e baixa liquidez. “É natural que exista uma compressão de spread em função do volume de novos investidores, principalmente porque a taxa nominal desses títulos fica maior mesmo com os spreads encolhidos”.
Nesse sentido, o analista do BTG Pactual Digital lembra que, em contrapartida, o nível da taxa nominal dos papéis era muito inferior ao patamar em que está hoje e, por este motivo, a pessoa física vai continuar comprando debênture incentivada, independentemente do nível de spread. Ele dá o exemplo do título da Petrobras, que chegou a pagar IPCA + 3,35%, mas hoje oferece taxa nominal próxima de IPCA + 5%.
“Os investidores ficam seduzidos pela taxa nominal, não necessariamente pelo spread, e aí decidem comprar o papel. É uma coisa natural do nosso mercado. Assim como na ação, em que poucas pessoas olham a taxa de desconto, poucos são os investidores que procuram saber o spread de crédito das debêntures incentivadas”, avalia.
Além de uma taxa nominal maior, o segundo fator relacionado ao movimento de compressão do spread, segundo Costa, diz respeito à perspectiva de inflação. “A inflação implícita é de 6% hoje. Como as debêntures são isentas de imposto de renda, essa alta da inflação acaba refletindo em um retorno maior para o investidor, o que também contribui para a redução dos prêmios”, explica.
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