Brasil é ‘sortudo’, mas questões domésticas afetam câmbio, diz Credit Suisse
O estrategista chefe global do Credit Suisse, Philipp Lisibach, afirmou nesta terça-feira (31) que os bônus emergentes em moeda forte oferecem atualmente oportunidades atrativas. Já no caso dos títulos em moeda local, a história é diferente. “No Brasil algumas questões ainda precisam ser respondidas, como política fiscal, sustentabilidade da dívida”, comentou ao participar da Latin America Investment Conference (Laic), promovida pelo banco suíço.
Segundo ele, os bônus em moeda forte do Brasil não devem ter um desempenho tão positivo, que supere muito a média do mercado. Em termos de países, ele afirma que outros mercados têm perspectivas melhores, como é o caso do México.
Já os títulos brasileiros em moeda local oferecem retornos reais bem elevados, mas há o risco da moeda.
“O Brasil é o país mais sortudo do mundo sob esse ponto de vista, porque vocês têm um retorno ajustado à inflação que é superior à maioria dos países. É atrativo e nós tentamos participar disso, mas a moeda é um grande componente. Não temos uma visão especial sobre o real, se vai se apreciar ou depreciar. E é claro que as questões domésticas vão afetar o câmbio.”
Ceticismo com o Fed
Philipp Lisibach afirmou também que os mercados estão muito otimistas em precificar uma queda de juros nos EUA no fim deste ano, apesar de o Federal Reserve estar indicando que deve manter os juros em patamares elevados até dezembro. Ele prevê que a taxa atingirá um pico de 5% e ficará assim por um tempo.
“Para alguns países, os mercados estão precificando que a inflação vai voltar para 2%, que é a meta dos BCs, que ela vai desacelerar materialmente. Nós somos um pouco mais céticos”, afirmou ao participar da Latin America Investment Conference (Laic), promovida pelo banco suíço.
Segundo ele, essa diferença entre o que o Fed está sinalizando e o que os mercados estão precificando pode levar a mais volatilidade este ano. “Acreditamos que a inflação vai ficar elevada em 2023, que não vai haver uma queda que permita aos BCs cortar taxas este ano, então os mercados vão ter que se ajustar. […] Ainda é muito cedo para cantar vitória contra a inflação e precificar um softlanding (pouso suave)”.
No cenário global, o banco não prevê uma recessão este ano. O único grande país com contração deve ser o Reino Unido, enquanto a China deve acelerar a expansão, após a abertura repentina da economia com o fim da política “covid zero”. Isso não deve afetar muito o crescimento global, mas pode elevar um pouco as expectatvias de inflação, ainda que desdobramentos da guerra da Ucrânia recentemente tenham permitido uma queda global nos preços de energia.
Por Álvaro Campos
Leia a seguir