Assaí abre oferta de ações e Casino embolsa R$ 4 bi

Bancos veem espaço para operações voltadas a melhorar balanço de companhias endividadas

Empresas citadas na reportagem:

A primeira oferta de ações do ano – precificada ontem pelo atacarejo Assaí, movimentando R$ 4,06 bilhões – pode ser considerada um retrato das operações que devem ocorrer na bolsa brasileira nos próximos meses. Bancos de investimentos veem um ambiente propício para transações voltadas a melhorar a estrutura de capital das empresas listadas ou de seus controladores.

Por um lado, controladores com dívidas, caso do Casino, do Assaí, buscarão ofertas secundárias para fazer frente a seus compromissos financeiros. Por outro, companhias endividadas também precisarão lançar ações para reforçar o caixa e tirar pressão do balanço, a despeito da maior volatilidade do mercado, que há meses tem enfrentado uma seca de ofertas.

Operações com esse perfil devem começar a tirar o mercado de uma paradeira nos primeiros meses do ano, quando expectativas mais otimistas foram frustradas com a visão de que a Selic demoraria mais que o previsto para começar a cair. Com a taxa em 13,75% ao ano, a pressão sobre os balanços já tem feito vítimas e levado banqueiros de investimento a aconselhar clientes a se preparar, deixando o caixa mais confortável. No momento, ofertas subsequentes de ações (“follow-on”, no jargão em inglês) são uma das poucas alternativas abertas. A sugestão não é nova e tem sido recebida pelas empresas desde a virada do ano.

No caso específico do Assaí, primeira a driblar esse cenário de aversão a risco que tende a afastar emissores, a oferta teve como mola propulsora a necessidade do Casino, seu acionista de referência, de levantar capital para fazer frente a compromissos junto a credores.

O Casino embolsou R$ 4,064 bilhões ao vender 254 milhões de ações, precificadas em R$ 16 cada. Foram colocados na oferta o lote principal e o adicional. Como resultado, o Casino viu sua fatia na companhia cair para cerca de 11,7% e uma nova tranche de venda é esperada pelo mercado. “A visão é que o Casino lançaria a oferta em qualquer cenário dada sua necessidade”, afirmou uma fonte. O varejista francês deve colocar no caixa cerca de R$ 3 bilhões e ganhará algum alívio financeiro.

O Casino vem sofrendo pressão de credores franceses, mas aqui a taxa Selic também tem apertado várias empresas. As mais sufocadas pelo juro alto, que consome o Ebitda, também começam a colocar na mesa a possibilidade de lançar uma oferta subsequente para ajustar o balanço, já que alternativas de crédito estão minguadas, num movimento agravado no no país pelo caso da Americanas.

Hapvida e Dasa

Os exemplos começam a aparecer. Na semana passada, a Hapvida anunciou ao mercado que estuda chamar capital, por follow-on ou subscrição privada, como uma opção de desalavancagem diante da deterioração do balanço. As ações da empresa de saúde estão em forte queda desde o início de março.

Outra foi a rede de clínicas de diagnóstico Dasa. Em ambas as possíveis operações, conforme fontes, os controladores deverão acompanhar a oferta casos de fato aconteçam, para evitar diluição no mercado, visto que as ações estão bastante desvalorizadas.

Para muitas empresas, contudo, esse ainda é um tabu. Há um receio de diluição dos controladores com os baixos preços das ações na bolsa. Porém, há conversas em andamento para uma agenda mais “defensiva”, com levantamento de capital mais barato via ações.

“Acreditamos que vai haver ofertas, algumas empresas vão precisar emitir ações, vão precisar de capital. O custo de dívida subiu muito e está impactando a capacidade de geração de caixa e crescimento de uma série de companhias”, diz o corresponsável pelo banco de investimento do Bank of America no Brasil, Bruno Saraiva.

Necessidade de ampliar a liquidez das ações

Para Hans Lin, também corresponsável pela área no BofA, faz sentido pensar em ofertas de ações para ajuste do balanço. “O crédito está caro e muitas empresas estão usando grande parte da geração de caixa para pagar juros de dívida. Os acionistas podem se beneficiar de um aumento de capital. Vemos que no segundo semestre muitas empresas podem querer ter mais liquidez e flexibilidade.”

O presidente do UBS BB, Daniel Bassan, afirma que a temática ajuste de balanço pode trazer bom um momento ao mercado ao longo do primeiro semestre, desde que a transação esteja ligada a um viés de crescimento. “Acredito que eventualmente poderá haver alguns ‘deals’ [operações] para reduzir dívida e abrir espaço no balanço para aproveitar oportunidades”, diz.

Segundo Bassan, existe ainda a possibilidade de empresas buscarem ofertas subsequentes para ampliar a liquidez das ações, em um momento em que os investidores estão fazendo essa exigência dada a volatilidade do mercado.

Para Daniel Wainstein, sócio e presidente da Seneca Evercore no Brasil, há alternativas de capitalização podem ser adotadas antes de a empresa fazer um “follow-on” com ações baixas e diluição dos controladores. “Uma empresa listada em bolsa possui alternativas quando tem necessidade de capital para acomodar uma realidade financeira de menor liquidez. O follow-on, sem dúvida, é uma, tem seus méritos por ser rápido, mas não é a única em ambientes de mercado menos favoráveis.”

Como opções, o executivo diz que há mesa os “rights offering”, aumentos de capital sem investidores externos e que permitem aos atuais acionistas subscrever a operação, ou ainda um formato com investidores de fora da companhia, nos quais os acionistas controladores (ou de referência) poderiam ceder parte dos seus direitos para alguém que já tenha indicação de interesse na empresa.

Muitas empresas listadas também estudam inclusive a venda de ativos menos estratégicos. “Alongamento da dívida através de substituição por produto com prazo mais alongado e, eventualmente, com carência. Nesses casos, os fundos de ‘special situations’ [que olham companhias com alguma dificuldade], hoje bastante ativos no Brasil, fornecem alternativa para crédito quando o mercado pode estar fechado”, diz.

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