Novo gestor do ASA, de Alberto Safra, aposta na lógica do ‘day trade’ para turbinar fundo macro

Aos 38 anos e em sua primeira experiência como gestor, Filippe Santa Fé quer provar que existe retorno para além das teses de investimento dos tubarões da Faria Lima

Filippe Santa Fé, da gestora ASA, em entrevista a Renato Jakitas, da Inteligência Financeira

Imagine administrar meio bilhão de reais confiados ao banqueiro Alberto Joseph Safra quase ao ritmo de um day trader? É mais ou menos isso o que propõe o novo gestor do fundo de multimercado ASA Hedge, principal produto na prateleira do ASA, criada em 2019.

Aos 38 anos de idade e em sua primeira experiência como gestor, Filippe Santa Fé quer provar que existe retorno para além dos modelos trazidos ao Brasil por Rogério Xavier, Luis Stuhlberger ou André Jakurski – para ficar apenas com três tubarões que falaram nesta semana sobre as perspectivas para o mercado financeiro.

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Em entrevista à Inteligência Financeira (na íntegra, no vídeo acima), Santa Fé aposta em decisões de compra e venda de ativos de curto e de curtíssimo prazos. ‘Trades’ de, no máximo, três meses.

E indo, contra tudo e contra todos, ele afirma que no Brasil, os modelos que avaliam os cenários para longos período (daqui a um, dois, três anos), servem, no máximo “para conversa de bar”.

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“Eu acho que se você pensar dois, três anos para a frente, você não consegue antever todas as puxadas de tapete que você vai tomar”, disse ele.

ASA: da água para o vinho

A lógica proposta por Filippe Santa Fé é oposta ao que fazem os gestores consolidados do Brasil e de boa parte do mundo.

Geralmente, os hedge funds prolongam ao máximo seu horizonte de observação para, assim, definir aportes antes que sejam percebidos pelo resto dos investidores. Ganham mais ao capturarem a maior parte do ciclo econômico previsto.

Acontece que, nos últimos tempos, os fundos de multimercado não estão conseguindo prever os cenários. Nem mesmo o ASA Hedge, lançado por Marcio Fontes, e retirado da gestão em junho para dar lugar a Filippe Santa Fé.

“Você navegar esses dois, três meses, encurtar seu horizonte de investimento, acaba ficando mais adaptado para a mercado que a gente trabalha”, afirmou o novo gestor.

Até 200 apostas por ano

Para compensar os ‘trades’ de curtíssimo prazo, boa parte deles com considerável nível de risco, Filippe Santa Fé diz que precisa ganhar em escala.

Assim, ele conta que planeja até 200 apostas diferentes ao longo de um ano. O período de 12 meses, aliás, é o que ele diz ter para provar que consegue levantar os resultados do ASA Hedge.

“Não tem um único dia que eu não me sento e não surge uma ideia nova para apostar. Muitas são ideias ruins e a gente abonada. Mas muitas delas são boas”, contou. Segundo ele, muitas das vezes não é preciso ter uma posição consolidada sobre a ideia para fazer o trade.

“Aparecem ideias. Só que várias não são necessariamente redondinhas, fechadinhas, elas aparecem e são boas. Eu vou arriscar 3% do fundo nisso? Quatro por cento do fundo? Não, isso é irresponsável. A gente investe somente um pouquinho em cada”, destacou.

Exemplo de suas apostas

Como exemplo desses investimentos, ele cita duas propostas. Uma, recente, em que investiu contra o mercado de bois (isso mesmo, gado) dos Estados Unidos. Em outra, anterior, na queda do preço do petróleo e do cobre.

“A gente está há dois anos conversando sobre esses fundamentos micro do gado, que são altistas. Mas a gente está entrando, possivelmente, num choque de renda, e que pode perder o consumo. Carne é um negócio super sensível a renda em qualquer lugar do mundo”, destaca.

Fila andou no ASA

A fila andou na ASA Investments em junho na esteira de uma série de modificações promovidas por Alberto Safra, que andava insatisfeito com os resultados dos últimos meses.

Na mais marcante delas, Marcio Fontes, que liderava o principal fundo da casa, o ASA Hedge, deixou a posição que ocupava desde o início da operação da asset, há quatro anos e meio.

No lugar de Fontes, assumiu Filippe Santa Fé, que já atuava dentro da estrutura do ASA Hedge, mas como gestor de juros do fundo – posição que ficava abaixo da de Marcio.

Fundo comprado por Alberto Safra

Marcio Fontes foi um dos responsáveis pela estruturação da ASA, criada por Alberto Safra em 2019 para ser, com ele dizia, uma espécie de ‘BlackRock brasileira’, em alusão à maior firma de gestão de ativos de Wall Street.

Antes de seguir para a ASA, Fontes respondia como gestor na Itaim Asset, que fundou em 2014. Lá, ele tocava um multimercado que fazia aportes em teses macro (especialmente em juros e câmbio). O desempenho do produto chamou a atenção de Alberto Safra.

Juros dos EUA

Em 2021, Marcio surpreendeu o mercado. Acertou em cheio ao prever, ainda em março, a alta de juros promovido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA).

Mais de 90% do fundo estava alocado nessa posição, de alta de juros americanos curtos, de um a dois anos. Ao passo que estava vendido, ou seja, apostando na queda da bolsa americana.

Em período um pouco maior de um ano, o multimercado do ASA superou com larga margem de vantagem tanto o CDI, que é o principal referência dessa classe de fundos, como a inflação.

ASA ganhou destaque

O ASA ganhou destaque. O fundo saiu de 500 cotistas do início de 2021 para 37 mil em março de 2023. E o patrimônio alcançou de R$ 2,3 bilhões.

De lá para cá, Marcio Fontes não conseguiu repetir o sucesso. Como boa parte da indústria de multimercados, vem perdendo para o CDI nos últimos meses. Perdeu cotistas e patrimônio. Hoje, são 11 mil investidores e pouco mais de R$ 500 milhões.

Antes de entregar o bastão, Marcio Fontes apostava num desses trades longo.

Ele posicionou o fundo para um retorno da economia dos Estados Unidos para perto das taxas anteriores à pandemia, com queda forte de juros, redução pesada da inflação e alta na procura por ações da S&P.

Segundo ele, o ciclo que se iniciaria ainda neste ano derrubariam os juros americanos para perto de zero.

Novas alterações

O call de Fontes foi interrompido com a alteração na liderança do fundo. Além do novo gestor do ASA Hedge, a gestora também contratou um novo diretor, André Beltrão.

Brandão foi, entre 2020 e 2021, presidente do Banco do Brasil (BBAS3). Antes, por mais de uma década, foi líder global do HSBC para as Américas e presidente da instituição no Brasil.

Ele será responsável por uma equipe de gestão com 17 fundos de investimentos, dentre multimercado, renda fixa, renda variável, previdência, crédito e imobiliário.

Fábio Kanczuk, ex-diretor de Política Econômica do Banco Central (2019-2021), que atuava no cargo desde junho, volta para a posição de chefe de macroeconomia da casa.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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