Anbima vê fluxo para renda fixa como movimento tático
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O caminhão de dinheiro que migrou para a renda fixa em 2021, em meio ao ciclo de alta de juros, é fruto de um rebalanceamento nas carteiras dos investidores, mas deve ser insuficiente para interromper o movimento de diversificação que se observava no Brasil nos últimos anos, segundo Pedro Rudge, diretor da Anbima.
“No momento em que há mudança no potencial de retorno e no avanço do risco, é bastante racional e compreensível que os investidores realoquem seus patrimônios. Eventualmente, quem estava mais alocado em ações começa a ter um pouco mais de desconforto com a volatilidade que se tem visto no mercado. É normal ter esse freio de arrumação”, disse Rudge ao comentar os resultados da indústria em 2021, apresentados ontem pela associação que representa o mercado de capitais e investimentos.
Com a Selic subindo de 2% para 9,25% ao ano em 2021, a renda fixa atraiu R$ 215,2 bilhões, maior captação líquida desde 2002 – após resgates de R$ 38 bilhões em 2020. Nessa conta há dois fundos do Banco do Brasil, com ingresso de R$ 83,3 bilhões, que costumam distorcer as estatísticas no segmento varejo, que no conjunto atraiu R$ 121,2 bilhões.
Para Rudge, na medida em que o Banco Central (BC) consiga domar a inflação e o governo trate de alguma maneira as preocupações fiscais, haveria espaço para os juros caírem. “Não sei quando vai acontecer, mas não acho que [o investidor] deva retroceder na direção da diversificação. O componente renda fixa vai aumentar um pouco, dado que a atratividade dos produtos é melhor do que no passado e o risco percebido nos outros produtos aumentou. É muito mais uma realocação tática do que estrutural.”
Com a saída do risco, a renda fixa acabou recuperando participação na indústria, passando de 36,2% do bolo para 37,1%. A fatia em fundos de ações diminuiu de 10,1% para 8,4%, interrompendo um ciclo de ampliação que se via desde 2017. No total, o patrimônio dos fundos cresceu 12,7%, a R$ 6,9 trilhões.
Rudge chamou a atenção para o crescimento dos produtos estruturados, com o patrimônio alcançando R$ 1,030 trilhão, um aumento de 38,6%. Sob esse chapéu estão os fundos de investimentos em direitos creditórios (FIDC) e os de participação em empresas (FIP). A fatia dessas categorias aumentou de 12,2% para 15%. Os FIDCs atraíram R$ 77,1 mas há uma carteira corporate de fornecedores da Petrobras que representa quase metade dos recursos.
“Demonstra que os investidores, principalmente no primeiro semestre, enquanto os juros estavam mais baixos, procuravam alternativas de produtos estruturados que podem oferecer rentabilidade um pouco maior. No segundo semestre, a gente já viu uma tendência de maior conservadorismo”, disse Rudge.
Em número de contas, além dos FIPs, com incremento de 96,3%, os fundos de índice negociados em bolsa (ETF) também foram destaque, com alta de 91,5%, a 625,2 mil. No conjunto da indústria ainda representam fatia pequena, de 0,6%.
No consolidado de 2021, o setor de fundos fechou o ano com captação líquida de R$ 369,0 bilhões, volume 106,3% maior do que no ano anterior e muito acima da média da última década, de R$ 137,8 bilhões.
Enquanto a renda fixa liderou a captação com folga, os multimercados receberam R$ 59,6 bilhões, um decréscimo de 43% em relação ao fluxo observado em 2020. Os fundos de ações encerraram com entrada líquida de apenas R$ 200 milhões, depois de R$ 73,3 bilhões no ano anterior. O segundo semestre mostrou uma reversão de tendência, com resgates de R$ 3,6 bilhões nas carteiras dedicadas à bolsa e de R$ 31,5 bilhões nos fundos mistos.
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