Sem proposta de acionistas da Americanas, bancos avaliam ações nos EUA
Em meio a uma batalha na Justiça que já incluiu ações para responsabilizar o trio de principais acionistas da Americanas (AMER3) – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira-, os bancos credores da varejista já avaliam os próximos passos, o que pode incluir ações nos Estados Unidos, país em que a companhia pediu reconhecimento do processo de recuperação judicial, apurou o Valor.
Um dos pontos apontados, disse um banqueiro envolvido nas discussões, é o fato de a Americanas ter afirmado que as conversas com os credores no Brasil estavam andando bem em seu pedido à Justiça norte-americana. “Com essas negociações podem estar indo bem se não houve proposta? E a cada dia que passa a necessidade de aumento de capital aumenta”, disse a fonte.
As conversas com Luiz Muniz, sócio da Rothschild, banco de investimento contratado pela Americanas para conduzir as conversas com os credores, seguem ocorrendo, mas sem propostas, segundo esses interlocutores. “Eles conversaram semana passada com gente técnica e disseram não ter propostas a oferecer naquele momento”, disse outra fonte envolvida diretamente nas conversas.
Existe, entre alguns dos bancos, uma expectativa de que seja anunciada nesta semana uma pequena entrada de recursos na empresa pelos acionistas, o suficiente para que ela possa “respirar”. Uma das fontes disse que em uma das reuniões a sinalização foi de que, juntamente com a Alvarez & Marsal, que foi contratada para ajudar a coordenar o processo de recuperação judicial, a empresa estudava internamente esse pequeno aporte para permitir que a empresa siga operando, mas que não havia, ao menos até hoje, nada confirmado.
Embora a empresa também esteja em busca de outras fontes de crédito, como em fundos especializados, a Americanas precisa de uma entrada imediata de mais recursos para seguir operando. Em relatório recente, a XP calculou que o caixa da varejista, que era de R$ 800 milhões há cerca de duas semanas, equivalia a apenas 4,5 meses de despesas com pessoal da empresa.
A última proposta colocada à mesa foi a mesma de antes de a empresa protocolar seu pedido de recuperação judicial, ou seja, logo depois de se tornar público o rombo de R$ 20 bilhões no balanço da empresa, algo que a empresa justificou por “inconsistências contábeis”. Na ocasião, a proposta encaminhada aos credores foi de um aporte de R$ 6 bilhões pelo trio de acionistas com uma contrapartida de conversão de 20% da dívida dos bancos em ações, mas o montante da capitalização foi considerado “extremamente” baixo pelo grupo de credores.
No geral, os bancos estimam que a companhia precisa de uma injeção de capital mínima de R$ 15 bilhões, ou seja, algo longe do que foi apresentado pela companhia. Do lado da varejista, contudo, a mensagem tem sido de que há “muita ansiedade” por parte dos bancos e que não é “possível conduzir uma reestruturação de R$ 40 bilhões em duas semanas”, disse uma fonte.
A estratégia a ser usada na Justiça dos Estados Unidos, disseram fontes, tende a ser a mesma daquela que tem sido utilizada no Brasil, ou seja, de buscar responsabilização pelo o que aconteceu na varejista, o que já dão como certo se tratar de uma fraude.
Na Justiça brasileira, o Bradesco, representado pelo escritório Warde Advogados, conseguiu vitória para buscar provas antecipadas e foi determinada busca e apreensão para uma varredura em e-mails no intuito de se comprovar de que houve fraude, o que pode abrir o caminho para o acesso aos bens pessoais de Lemann, Sicupira e Telles, três das pessoas mais ricas do País.
A Americanas recorreu, mas o processo de investigação já começa hoje, segundos fontes. Uma das fontes disse ao Valor que os bancos também seguirão com suas estratégias na Justiça brasileira para entender a “dimensão da fraude”. A expectativa, afirmou, é de que outros bancos sigam o mesmo caminho de buscar provas na intenção de se munirem na tentativa de responsabilizar os acionistas de referência. Além do Bradesco, Itaú Unibanco e Santander também já entraram com ações semelhantes.
Procurados para se pronunciarem, os acionistas de referência não responderam até a publicação da reportagem. A Americanas não comentou.
Por Fernanda Guimarães
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