Americanas (AMER3) admite fraude pela primeira vez; CEO detalha esquema em CPI

Varejista em recuperação judicial revelou os resultados de uma investigação independente

A Americanas (AMER3) admitiu nesta terça-feira, pela primeira vez, que o rombo contábil revelado em janeiro e que a levou à recuperação judicial foi fruto de fraudes. O principal executivo da companhia mostrou documentos à CPI que investiga o caso, detalhando o esquema de ex-administradores.

“A Americanas não chama mais o caso de inconsistência contábil, mas de fraude”, disse Leonardo Coelho Pereira, diretor-presidente da Americanas, durante depoimento na Câmara dos Deputados.

No documento divulgado pela manhã, a varejista comunicou um fato relevante em que detalhou uma série de operações irregulares que, somadas, chegam a R$ 45,9 bilhões. À CPI, Pereira disse entender que as fraudes são de cerca de R$ 20 bilhões, em linha com o anunciado no começo do ano, quando o rombo foi revelado.

Com base no relatório de assessores jurídicos da Americanas, a partir de conclusões de um comitê independente criado para investigar o caso e documentos complementares obtidos pela atual gestão, a empresa atribuiu a reponsabilidade das fraudes a ex-administradores.

“Os documentos analisados indicam que as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior”, afirmou a empresa, atribuindo os fatos à administração do ex-presidente-executivo Miguel Gutierrez, que deixou a companhia no fim de 2022, e outros seis executivos, estes afastados nos meses seguintes.

Executivo apresenta troca de e-mails

Pereira apresentou aos parlamentares, em audiência transmitida online, trocas de e-mails entre os então executivos da companhia que, segundo ele, revelam conluio para esconder de membros do conselho de administração e de analistas e investidores a real situação contábil da empresa.

Porém, o executivo mostrou também cópias de documentos que revelariam que “aconteceram trocas entre a KPMG e a diretoria para amenizar a carta”, afirmou, em referência a documentos emitidos pela KPMG, auditora independente da Americanas entre 2016 e 2018, para aliviar observações sobre fragilidades contábeis, com isso evitando um escrutínio maior do conselho de administração.

Consultada, a KPMG afirmou que “por motivos de cláusulas de sigilo e regras da profissão, está impedida de se manifestar sobre casos envolvendo clientes ou ex-clientes da firma”.

Apesar das novas revelações sobre o caso, a ação da Americanas foi um dos destaques de alta na B3 nesta sessão, fechando o dia com alta de 5,17%, enquanto o Ibovespa teve queda de 0,51%.

A companhia afirmou que as investigações detectaram diversos contratos de verba de propaganda cooperada, incentivos comerciais que podem ser utilizados no setor de varejo, artificialmente criados para melhorar os resultados operacionais como redutores de custo, sem a efetiva contratação com fornecedores.

Isso, feito “durante um significativo período” chegou em setembro passado ao montante de R$ 21,7 bilhões. Para fazer uma contrapartida para esse buraco financeiro, a gestão reduziu a conta de fornecedores em R$ 17,7 bilhões e lançou de forma irregular R$ 4 bilhões em outras linhas do balanço.

Em outra frente, a gestão contratou uma série de financiamentos com bancos sem as aprovações societárias na conta fornecedores, sendo R$ 18,4 bilhões em operações de financiamento de compras, conhecidos como risco sacado, e mais R$ 2,2 bilhões para capital de giro.

Por fim, ainda foi encontrado um buraco de R$ 3,6 bilhões em redutores da conta de fornecedores, em números ainda preliminares.

“O efeito desses ajustes nos resultados da companhia ao longo do tempo ainda está sendo apurado, mas a expectativa da administração é de que o impacto nos resultados mais recentes seja significativo”, diz o fato relevante.