Em meio a ajuste nas expectativas de corte de juros, economia americana mostra força

Diversos dados, todos na mesma linha, reforçam que a economia dos EUA se mostra resiliente

Para dar luz ao aumento de força da economia americana, a coluna de hoje traz diversos dados e notícias relevantes ao investidor. Ajuste na expectativa de juros nos EUA, indicadores de atividade e inflação, payroll, resultados trimestrais e muito mais. Confira essas e outras análises. 

De onde viemos… 

Na semana passada, comentei que, “a despeito de todos os prognósticos mais conservadores sobre a atividade e o desenvolvimento da economia americana, os indicadores recentes reforçaram aquele cenário mais otimista, ou seja, de continuidade dos níveis de atividade com uma inflação que caminha para a meta do Fed. Os dados de crescimento surpreenderam positivamente. E os dados de inflação continuam cedendo, criando as condições para o Fed começar a cortar as taxas de juro ainda este ano.” 

Dados em linha

No texto, mencionei dois indicadores de atividade, o PIB e o PMI, além de um indicador de inflação, o PCE. Mas, corroborando esse cenário, tivemos alguns outros: 

  • O PMI da indústria divulgado na quinta-feira mostrou a mais forte melhoria nas condições de operação desde setembro de 2022. O crescimento observado foi apoiado pela expansão em novas encomendas e por uma redução no ritmo de contração na produção. 
  • O setor de serviços acelerou para a taxa mais acentuada em 7 meses, de acordo com o último Flash PMI. 
  • O último dado de vendas no varejo mostrou que as compras de fim de ano foram melhores do que o esperado em dezembro. 
  • No setor imobiliário, tivemos alguns dados melhores do que o esperado, como os gastos com construção crescendo 13,9% em relação a dezembro de 2022; vendas de casas novas em dezembro crescendo 8% em relação a novembro e 4,4% maior do que dezembro de 2022.  
  • A confiança do consumidor americano, medida pelo Conference Board, atingiu o seu nível mais alto desde dezembro de 2021. 

Enfim, diversos dados, todos na mesma linha, ou seja, reforçando que a economia se mostra resiliente. Não por acaso, o rastreador GDPNow do Fed de Atlanta agora aponta para um PIB crescendo 4,2% no primeiro trimestre de 2024, mesmo que haja poucos dados para fazer tal estimativa (estamos no primeiro mês do ano). 

Como também comentei na semana passada, tivemos dados de inflação (PCE e CPI) que mostraram que a trajetória de preços segue benigna… Em outras palavras, apesar da resiliência da economia, a inflação segue uma tendência de queda. Em suma, o cenário de soft landing… de uma economia resiliente com inflação benigna vinha sendo precificado, até que… 

Decisão de juros nos EUA 

Até a quarta-feira (31/01), conforme o esperado, o Banco Central americano manteve a taxa básica de juros americana em uma faixa entre 5,25% e 5,50%. Até aí, tudo ok. Mas a grande questão é que o presidente do Fed, Jerome Powell, durante sua coletiva, disse que não espera que a redução de juros nos EUA comece logo e que o cenário de cortes de juros em março não é o cenário base do comitê.  

“Based on the meeting today, I would tell you that I don’t think it’s likely that the committee will reach a level of confidence by the time of the March meeting to identify March as the time to do that.” 

(Tradução) “Com base na reunião de hoje, eu diria que não acho provável que o comitê atinja um nível de confiança até a reunião de março para identificar março como o momento para fazer isso.” 

E tal fala veio após o comitê alterar alguns pontos de seu comunicado, indicando que parece haver um consenso de que chegamos ao pico dos juros nos EUA e que será apropriado reduzir as taxas em 2024. No entanto, os dirigentes do Fed esperam ter um grau de confiança maior de que há um caminho sustentado para a redução da inflação para a meta de 2% para tomar tal decisão. Ou seja, o Fed reforçou que precisa de mais tempo, e o mercado reagiu a esse comentário. 

Payroll 

Corroborando esse cenário, tivemos o dado de payroll, o qual mostrou números muito fortes do mercado de trabalho americano. Houve um crescimento maior de postos de trabalho do que o esperado, os números dos meses anteriores foram revisados para cima, e a taxa de desemprego caiu. 

Além disso, e talvez ainda mais importante para delinear o cenário de juros olhando para frente, vimos que os salários cresceram não só mais do que o esperado, mas a uma taxa superior à inflação, mostrando que o trabalhador está tendo ganho de renda real. 

O payroll, a fala de Jerome Powell e todos os demais dados reportados até agora só reforçaram a visão de que a economia segue resiliente e que as apostas mais agressivas em cortes de juros logo no início do ano não fazem sentido, considerando um cenário no qual os salários crescem acima da inflação e a criação de postos de trabalho segue robusta.  

Não por acaso, a grande mudança percebida com os dados de janeiro foi a redução das probabilidades de cortes em março, as quais passaram de mais de 50% para cerca de 20%. Ou seja, o mercado mais e mais parece “desistir” de acreditar que os juros possam ser cortados em março.  

O cenário de manutenção de juros nos EUA em março passa a se tornar dominante… Trata-se de algo que já havíamos comentado aqui e nos parecia um cenário mais plausível. Além disso, o mercado agora espera cinco cortes de juros em 2024, mudando a percepção anterior de que poderíamos ter seis cortes. Há também uma probabilidade crescente, em torno de 30%, de que os cortes nas taxas de juro não comecem antes de junho de 2024.  

Sobre isso, nunca é demais lembrar que o mercado consistentemente erra ao tentar projetar o cenário de juros.  

Resultados…  

Começo esta semana chamando atenção para algo que importa muito… aquilo que se passa no dia a dia das empresas! Como investidores, aplicamos em negócios com o objetivo de participar dos seus lucros ou receber os cupons de suas dívidas. Então, é sempre muito importante saber o que se passa com as companhias. 

Até agora, 46% das empresas do S&P 500 divulgaram seus números, sendo que 73% atenderam ou superaram as estimativas do mercado em relação à receita, e 84% atenderam ou superaram as estimativas do mercado em relação ao lucro. 

Na semana passada, tivemos cinco das maiores empresas americanas divulgando seus números. Refiro-me à Microsoft, Apple, Alphabet (Google), Amazon e Meta. Em suma, todas as grandes empresas entregaram números melhores do que o esperado pelo mercado em termos de receitas e lucros. 

No entanto, vimos comportamentos diversos. As ações do Google e da Apple não foram bem. Em nosso entendimento, o que acontece é que quando você tem empresas que são precificadas em múltiplos elevados e depois de fortes altas, uma leve decepção em uma linha de receita pode justificar uma realização de lucros em uma posição. Já Meta e Amazon repercutiram fortemente, muito por conta de novidades que vão além do resultado.   

Samba de uma nota só… 

Na bolsa, continuamos vivendo um “samba de uma nota só”, com basicamente um setor apresentando performance muito diferenciada em relação ao resto do mercado. Vivemos em janeiro uma repetição do que vivemos em 2023. Obviamente, estou falando de tecnologia, reflexo dos resultados, conforme comentamos acima. E isso mesmo considerando que essas ações negociam hoje a múltiplos bem acima   

E chama atenção porque isso acontece mesmo considerando que parece haver um certo consenso no mercado de que o posicionamento “long” (comprado) nas sete maiores ações de tecnologia pareça ser, entre investidores institucionais, o “trade mais crowded” do momento.