Positivo (POSI3): receita caiu e investidor se afastou em 2023. Agora, o CEO quer virar o jogo

Empresa divulga resultado para quarto trimestre de 2023 em março com expectativa de queda no lucro anual, mas o CEO Helio Rotenberg está otimista com novas receitas vindas de serviços de tecnologia e segurança em 2024

Uma das maiores desenvolvedoras e fabricantes de tecnologia baseada em hardware do Brasil, a Positivo (POSI3) divulga seu resultado para o quarto trimestre de 2023 em março.

O balanço da empresa traz ainda o desempenho da Positivo para o ano. A expectativa é de queda na receita bruta anual.

Segundo o presidente da empresa Helio Rotenberg, a Positivo deve faturar entre R$ 4,6 bilhões e R$ 4,8 bilhões. A expectativa era de receita bruta entre R$ 5,5 bilhões e R$ 6,5 bilhões.

“A gente tem crescido ao longo do tempo, mas decresceu em 2023. O ano de 2022 foi espetacular, fora da curva mesmo”, disse Rotenberg, em entrevista à Inteligência Financeira.

Em 2022, a receita bruta avançou 47,2% ante o ano anterior, somando R$ 5,9 bilhões.

“Eu diria que 2023 é um ano típico, ao contrário de 2022”, afirma o CEO.

A Positivo está no mercado há 34 anos e atua em diferentes negócios, como educação (setor público, majoritariamente), varejo e corporativo – vendendo para pequenas, médias e grandes empresas. A empresa é também a fabricante das urnas eletrônicas usadas nas eleições.

Como estratégia de negócio, Rotenberg está empenhado em crescer a participação das vendas para empresas e governos e reduzir sua dependência do mercado de consumo. O varejo corresponde hoje a cerca de 20% da receita total da Positivo. Para isso, tem investido em abrir novas frentes, ampliando a oferta de serviços aos clientes corporativos. Há também expectativa de receita maior vinda da nova divisão de segurança.

No ano passado, a Positivo comprou a SecuriCenter para acelerar sua entrada no segmento de automação e segurança eletrônica. A intenção, diz Rotenberg, é se tornar uma grande empresa nesse mercado.

Corpo a corpo com investidor

Além dos desafios de negócios, Rotenberg está numa cruzada para trazer os investidores (tanto institucionais quanto pessoas físicas) de volta para perto da Positivo. Para isso, tem investido recursos financeiros e tempo para falar com o mercado.

O ano de 2023 foi particularmente difícil para as small caps, caso da Positivo. Small caps é como são conhecidas as empresas listadas em bolsa, mas com baixo volume de negociação se comparadas às ações das grandes empresas como Petrobras e Vale.  

“O investidor esteve mais avesso ao risco nos últimos tempos. E quando ele revê seus investimentos, a primeira coisa que faz é tirar o dinheiro das small caps, consideradas ações mais arriscadas”, diz o presidente da Positivo.

A ação da Positivo encerrou o pregão de ontem cotada a R$ 7,20. No acumulado do ano, sobe pouco mais de 9%, mas nos últimos 12 meses perdeu 1,5%.

Na visão dos analistas que acompanham a empresa, há expectativa de leve valorização.

O BTG tem recomendação de compra para ação POSI3, com preço alvo de R$ 13. O Bradesco BBI também tem recomendação de compra para a ação POSI3, com preço alvo de R$ 12. Já a XP, cuja revisão dos fundamentos da empresa é a mais recente, de 26 de dezembro de 2023, tem recomendação de compra para ação a POSI3, com preço alvo de R$ 10.

Mas há também analistas mais cautelosos. Caso do time do UBS, cuja recomendação é neutra para ação da POSI3, com o preço alvo de R$ 8,20.

A seguir, confira trechos editados da entrevista do CEO da Positivo Tecnologia, Helio Rotenberg, à Inteligência Financeira.

Resultado em 2023

“Vamos ter um resultado menor em 2023. A gente vai faturar entre R$ 4,6 bilhões e R$ 4,8 bilhões contra os R$ 5,9 bilhões em 2022. Não é um decréscimo tão grande.

Eu diria que 2023 é um ano típico, ao contrário de 2022. O mercado e as escolas públicas já não compraram tanto como em 2022.

No segmento corporativo, as empresas sentiram o efeito do juro alto (que torna o crédito mais caro) e as compras de computadores e serviços foram menores.

No varejo, teve um retrocesso ainda maior (nas vendas). As pessoas foram voltando aos escritórios. E, com o juro mais alto, o crédito ficou mais caro.

Por outro lado, outros negócios da Positivo começaram a crescer. Por exemplo, as máquinas de pagamento. Este segmento esteve muito forte em 2023. E deve continuar sendo forte neste ano de 2024.”

Retrospectiva 2022

“O ano de 2022 foi de convergência de vários fatores importantes. Teve o final da pandemia de covid-19. Como efeito, foi muito forte a compra de computadores pelas empresas, principalmente.

Também foi um ano muito forte no segmento de educação. As instituições públicas, via secretarias da educação, chegaram à conclusão, tardiamente, que precisavam comprar computadores ou tablets para os alunos. Isso fez crescer as vendas.

No setor público, também entregamos as urnas utilizadas nas eleições. Além disso, os servidores estavam voltando para suas repartições públicas, então teve muita compra de computador de mesa.

No varejo, com mais gente trocando de máquina, houve também compra de computadores após a pandemia.

E ainda tivemos uma arrancada na oferta de serviços. Esta vertente é estratégica para a empresa e uma das mais importante para os próximos anos.”

Aposta em serviços para alavancar receita em 2024

“Até bem pouco tempo, a nossa vertente de serviços só atendia nossas próprias máquinas. Até que ganhamos o contrato de um grande banco para dar suporte e fazer manutenção dos computadores. A gente não fazia isso. Agora, queremos crescer este segmento.

Esse trabalho (oferta de serviços) começou há cinco anos, pois entendemos que deveríamos depender menos do varejo. O varejo respondeu por 20% do faturamento da empresa em 2022. Esse ano, que nossa receita será menor, o varejo deve responder por cerca de 17%.

Fortalecemos o time, investimos em marketing, reformulamos produtos para atender tanto às pequenas quanto grandes empresas. Entendemos que o segmento corporativo, mais do que o setor público, era o caminho para crescer em serviços. Abrimos novas frentes, novos contratos.

Para nós, as grandes empresas eram uma miragem. Hoje, temos contratos para prestação de serviços de tecnologia com grandes bancos e hospitais, por exemplo.”

Desafio de ser uma small cap

“Acreditamos que o mercado subavalia a empresa por qualquer métrica, seja lucro líquido ou Ebtida. Por isso, anunciamos o programa de recompra de ações.

[A Positivo anunciou em agosto passado um programa de recompra de ações para aquisição de de até 5,5 milhões de suas ações ordinárias (POSI3).]

As small caps brasileiras sofreram muito no último ano com a saída do investidor estrangeiro da bolsa de valores (o saldo anual em 2023 representou uma queda de 55,5% em relação a 2022, quando somou R$ 100 bilhões).

O investidor também esteve mais avesso ao risco nos últimos tempos. E quando ele revê seus investimentos, a primeira coisa que faz é tirar o dinheiro das small caps, consideradas ações mais arriscadas em relação as das grandes empresas. O investidor não tira o dinheiro que tem investido em ações da Petrobras, do Banco do Brasil, do Itaú. Mas, no nosso caso, que somos uma small cap, perdemos atratividade para o investidor.

Estamos nos esforçando para mostrar ao investidor o que estamos fazendo. E já começamos a colher resultados das mudanças que comentei. O investidor começa a aparecer.”

Investimento em inovação e IA

“Competimos em um mercado dominado por corporações internacionais. Por isso, a gente investe em inovação. No ano passado, investimos R$ 200 milhões em pesquisa e desenvolvimento.

Temos também parceiros globais como Supermicro, Intel e AMD.

A gente entende muito de smartphone, mas escolhemos não desenvolver aplicativos. A gente investe, por exemplo, na camada de segurança do Android (sistema operacional), que também é importante para as maquininhas de pagamento.

Em outra frente, temos projetos de inteligência artificial.

Eles vão desde compreender como processar modelos de inteligência artificial de clientes, como é o caso dos bancos, que não querem tornar públicos seus dados, até soluções para o nosso dia a dia.

Os bancos querem que seus modelos sejam processados localmente, e não em servidores globais. Para isso, os servidores têm de estar preparados e precisam funcionar com todos os softwares do cliente.

No campo de aplicações, fomos os primeiros a apresentar ao consumidor brasileiro, em agosto passado, um notebook com processador de linguagem neural embutido, voltado para o uso de inteligência artificial.”