MRV (MRVE3) e Hapvida (HAPV3): vale investir nas ações com maiores quedas do Ibovespa?

Mercado aponta o que as ações com maiores quedas na bolsa têm em comum. Afinal, vale a pena investir nelas?

O início de ano foi desafiador para a B3 e ainda mais para ações mais sensíveis aos juros. As maiores quedas da bolsa em 2024 se concentram nos setores de construção, aviação, seguros e educação, além do varejo. Mas, para alguns analistas ouvidos pela Inteligência Financeira e bancos de investimento, a baixa dos papéis pode apresentar oportunidades para o investidor.

Para o mercado, algumas das companhias que estão na lista de maiores quedas da bolsa ainda devem aproveitar melhor a redução de juros e têm perspectiva de melhora de resultados. São, por exemplo, os casos da construtora MRV (MRV3), com queda de 36%, e da seguradora Hapvida (HAPV3).

O que as ações com maiores quedas da bolsa têm em comum?

O Ibovespa começou os primeiros 45 dias do ano no vermelho, vindo de uma performance positiva do rali de final de ano.

De acordo com o analista da Renova Investimentos João Vitor Cardoso, há algo de comum nas cinco maiores quedas na bolsa de valores: todas são ações mais sensíveis à abertura da curva de juros futuros brasileira.

“A curva abriu bastante nos últimos dias, principalmente por conta do temor do mercado com juros altos lá fora”, diz Cardoso, referindo-se aos juros nos Estados Unidos.

Desde o início do ano, a taxa DI de contrato futuro para janeiro de 2027 subiu 2,52%. Na ponta de longo prazo, a taxa de juros para janeiro de 2032 avançou 4,18% em 2024.

Papéis mais sensíveis aos juros tiveram as maiores quedas. É o caso da pior ação da bolsa, a MRV (MRVE3), com tombo de quase 36% em 2024.

Bianca Passerini, analista sênior do Pagbank, afirma que apesar de haver uma queda da Selic prevista para este ano, “a taxa se encontra ainda em um patamar alto”. Outras ações sensíveis aos juros, como Cogna (COGN3), Casas Bahia (BHIA3) e Azul (AZUL4) estão entre as maiores perdas do Ibovespa.

“Cogna, Casas Bahia, Azul e Hapvida são todas do setor de consumo e varejo e MRV, do imobiliário. São segmentos que dependem de uma taxa de juros mais baixa para terem melhor performance, devido à disposição da população para consumir”, aponta Bianca.

Confira a seguir as 10 ações com maiores quedas na bolsa em 2024

AçãoTickerRetorno em 2024
MRV ONMRVE3-35,98%
Cogna ONCOGN3-31,81%
Casas Bahia ONBHIA3-29,53%
Azul PNAZUL4-23,86%
Hapvida ONHAPV3-23,60%
Bradesco PNBBDC4-21,16%
Vamos ON VAMO3-21,05%
Eztec ONEZTC3-20,16%
Bradesco ON BBDC4-19,80%
Braskem PNABRKM5-19,62%
Fonte: Estadão Broadcast. Percentuais obtidos até o dia 15/2/2024.

Vale a pena investir em MRV (MRVE3) após queda?

Analistas se dividem ao avaliar se a MRV (MRVE3) deve entrar na carteira do investidor neste momento.

Na visão do Itaú BBA, a queda da ação na bolsa de valores “criou uma oportunidade atraente para investidores que buscam adicionar um pouco de risco às suas carteiras”.

Analistas do banco ponderam que a ação está sendo negociada no preço atual a 0,55 vezes o valor do patrimônio líquido (P/VP) da construtora, próximo à mínima para MRVE3 desde março de 2023.

“Avaliamos que o papel está em um bom ponto de entrada”, dizem especialistas do banco em relatório. Conforme estimativa do Itaú BBA, o preço-alvo da ação para 2024 é de R$ 12.

Cardoso, da Renova, examina a MRV como “uma das teses de maior oportunidade” entre as ações com maiores quedas na bolsa.

“É uma empresa que está descontada e vale a pena ficar de olho apesar de depender muito de incentivo governamental. É uma das maiores construtoras e estamos passando por um ciclo de queda de juros. A empresa, portanto, tende a performar melhor.”

Já Bianca, do Pagbank, afirma que o papel deve continuar em trajetória de queda pelos próximos meses. “Pode engatar uma recuperação caso se segure acima dos R$ 5,90”, diz a analista.

Inclusive, o Pagbank afirma à Inteligência Financeira que nenhuma das ações na lista de maiores quedas do Ibovespa “apresenta oportunidade de entrada por enquanto”.

Cogna (COGN3): mercado desanima com queda

O mercado está mais desanimado, por outro lado, com o papel da Cogna Educação (COGN3). De acordo com o Pagbank, a ação, que está entre as maiores quedas da bolsa, tende a melhorar no curto prazo. Mas não ensaia uma trajetória positiva na análise gráfica.

“(A ação) teria que superar os R$ 3,49 para configurar uma melhora mais contundente”, diz Bianca.

Para o BTG Pactual, a companhia de educação com foco em ensino superior deve “sofrer com a pressão de despesas financeiras ainda elevadas” em 2024.

Quem também chama a atenção para o grau de alavancagem da Cogna é Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos. Segundo ele, a empresa depende muito de programas governamentais, que podem sofrer impacto negativo com o rigor para manter a meta fiscal de 2024.

“A Cogna é uma ação bastante alavancada e depende muito de ações relacionadas ao governo. Devido à alta dívida fiscal, esses programas sociais podem ser abortados no curto prazo, o que feriu bastante o papel”, afirma.

Azul (AZUL4) é aposta para queda de juros?

Para Cardoso, a ação da Azul (AZUL4) ganhou destaque, mesmo com uma das maiores quedas da bolsa.

O analista da Renova investimentos afirma que a companhia “possui fundamentos sólidos, tem muita vantagem competitiva entre as outras do setor e está bem descontada” no Ibovespa.

“Apesar disso, tem um pouco mais de risco porque o setor aéreo é mais volátil, por diversos fatores. Mas para quem gosta desse risco, acho que faz sentido investir”, completa.

Ação da Azul (AZUL4) é uma das que mais caiu no Ibovespa em 2024. Foto: Divulgação

Contudo, para Lage, o acionista deve manter-se longe do papel, justamente “porque os riscos não compensam”. Ele destaca que a Azul é ainda mais sensível ao movimento dos juros futuros.

O Pagbank acredita que a ação deve cair até R$ 10,14. “E em relação ao médio prazo, trabalha abaixo de sua média móvel exponencial de 200 períodos, o que não é um bom sinal”, diz Bianca.

Hapvida (HAPV3): barata ou cilada? Veja o que diz o mercado

Por fim, a ação da Hapvida, a quinta maior queda da bolsa, está barata na visão de analistas e pode apresentar uma oportunidade de compra.

A queda da ação vem, de acordo com analistas do Itaú BBA, porque a seguradora de saúde deve demorar mais para reduzir a sinistralidade. Isso levou o banco de investimento a reajustar o aumento de lucro líquido ajustado da Hapvida em cerca de 17% para 2024, de R$ 1,7 bilhão para R$ 1,4 bi.

“Apesar disso, ainda seguimos acreditando em uma expansão forte de lucro líquido para os próximos anos, o que é apoiado pela contínua implementação de aumento de preços nos planos de saúde e do foco da companhia em melhorar a eficiência da sua rede de cobertura”, dizem analistas do Itaú BBA.

O banco de investimento tem recomendação de “compra” para Hapvida (HAPV3), mesmo após a queda na bolsa, “pois enxerga um potencial de valorização interessante”. O preço-alvo por papel é de R$ 6.

Na Valor Investimentos, a ação da Hapvida é vista como a melhor aposta entre as cinco maiores quedas da bolsa. Lage destaca que o papel está “melhor que o da MRV” em termos de desconto para o investidor.