Fundos conservadores com desvalorização têm saque de R$ 7,5 bi após caso Americanas (AMER3)

Conjunto reúne cerca de 120 portfólios, com um patrimônio de quase R$ 218 bilhões

Fundos de renda fixa conservadores que tiveram desvalorização de suas cotas entre 12 e 19 de janeiro, após a administração da Americanas (AMER3) revelar inconsistências contábeis bilionárias em seus balanços e já acumulam saques de R$ 7,5 bilhões. Esse conjunto reúne cerca de 120 portfólios, com um patrimônio de quase R$ 218 bilhões, segundo levantamento do economista Marcelo d’Agosto, coordenador do Guia Valor de Fundos, a partir de dados da Morningstar.

Na amostra, que contempla carteiras com volatilidade abaixo de 0,6% ao ano — o quanto se espera que oscilem para o bem ou para o mal —, o Itaú aparece com cerca de duas dezenas de portfólios, que acumulam resgates de quase R$ 4,5 bilhões.

Fundo do Nubank foi o que mais teve resgates

O Nu Reserva Imediata, um dos que têm o maior número de cotistas do mercado brasileiro, já encolheu de tamanho, com a saída de cerca de 100 mil investidores, a 1,2 milhão, que sacaram R$ 426 milhões nesse intervalo de seis dias úteis, até quinta-feira (19) – data em que foi deferido o pedido de recuperação judicial da varejista, com dívidas da ordem de R$ 40 bilhões.

A maior movimentação foi no fundo em cotas referenciado DI Itaú Privilège, seguido pelo Itaú Gold Corporate, carteiras gigantes, com patrimônio de R$ 46,6 bilhões e R$ 7,0 bilhões, respectivamente, destinadas a reservas de curto prazo e ao caixa de empresas. Elas tiveram saídas de R$ 2,7 bilhões e R$ 842,6 milhões, nessa mesma ordem. O Itaú Private Wealth, com R$ 11,7 bilhões, perdeu outros R$ 422,9 milhões.

Veja mais fundos com saques milionários após caso Americanas

Na sequência vêm portfólios que já carregam o sufixo crédito privado no nome, ou seja, com mais de 50% do risco em papéis de dívida:

  • O XP Referenciado DI (-R$ 358,3 milhões)
  • O Riza Lotus (-R$ 316,0 milhões),
  • Carteira atrelada ao DI da Porto Seguro (-291,3 milhões),
  • O Itaú Diferenciado (-R$ 253,7 milhões),
  • O Votorantim Institucional (-R$ 216,7 milhões) e
  • E o Santander Crescimento Institucional (-R$ 202,7 milhões).

Fundos de renda fixa referenciados ao CDI, o juro das trocas do interbancário que fica próximo à Selic (13,75%), hoje em 13,65% ao ano, costumam ter maior volatilidade entre captações e resgates justamente porque são usados para guardar recursos destinados à gestão de despesas do dia a dia de famílias e empresas. Portanto, não é possível aferir que a movimentação está relacionada ao rombo descoberto nas contas da Americanas.

Na compilação do economista Marcelo d’Agosto, entre os dez fundos que mais tiveram resgates, as maiores perdas foram do Nu Reserva Imediata (-1,03%) e do fundo do Santander (-1,1%).

Na amostra geral, a maior desvalorização é do CSHG Portfólio ESG (-3,03%), com saques de R$ 5,5 milhões, de um patrimônio de R$ 238,9 milhões. Há portfólios com trava de mais de 30 dias para o resgate após o pedido do investidor, em que não é possível observar, por ora, movimentações potencialmente decorrentes do caso Americanas.

Por Adriana Cotias, de São Paulo

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