Ações do Credit Suisse caem após tentativa de CEO de acalmar o mercado sair pela culatra

As ações chegaram a cair 12% nas negociações de Zurique para uma baixa recorde

O Credit Suisse Group AG mergulhou em nova turbulência no mercado depois que as tentativas do CEO Ulrich Koerner de tranquilizar funcionários e investidores saíram pela culatra, aumentando a incerteza em torno do banco. As ações, que já haviam caído mais da metade este ano antes da liquidação desta segunda-feira, caíram até 12% nas negociações de Zurique para uma baixa recorde.

Por volta das 9h10 (de Brasília), perdiam 7,44% na bolsa de Zurique, a 3,68 francos suíços. Depois de recuperação, os papéis eram negociados a 3,92 francos suíços. Isso foi acompanhado por um aumento no custo para segurar a dívida do banco contra a inadimplência, que saltou para o maior de todos os tempos.

Koerner, pela segunda vez em tantas semanas, procurou acalmar os funcionários e os mercados com um memorando na sexta-feira enfatizando a liquidez e a força do capital do banco. Mas o tiro saiu pela culatra, com as atençõs dos investidores se voltando para os dramáticos movimentos recentes no preço das ações da empresa e nos spreads de crédito. Isso provocou uma forte saída dos papéis do banco suíço quando as negociações foram reabertas nesta segunda-feira.

Embora reconhecendo que o banco estava em um “momento crítico”, o CEO prometeu enviar atualizações regulares aos funcionários até que a empresa anuncie seu novo plano estratégico em 27 de outubro. Ao mesmo tempo, o Credit Suisse voltou a enviar pontos de discussão para executivos que lidam com clientes que mencionaram o credit default swap (CDS, uma espécie de seguro contra calotes) segundo pessoas com conhecimento do assunto.

Os swaps agora precificam uma chance de aproximadamente 23% de o banco deixar de pagar seus títulos em 5 anos. Alguns clientes usaram o aumento do CDS este ano para fazer perguntas, negociar preços ou usar concorrentes, disseram as pessoas, pedindo para permanecerem anônimas discutindo conversas confidenciais.

O Credit Suisse se recusou a comentar por meio de um porta-voz da empresa. Ainda assim, algumas figuras proeminentes foram ao Twitter no fim de semana para descartar alguns dos rumores que circulam nas mídias sociais provocados pela alta do CDS como “alarmismo”.

Boaz Weinstein, da Saba Capital Management, tuitou “respire fundo” e comparou a situação a quando o CDS do Morgan Stanley era duas vezes maior em 2011 e 2012.

Koerner, nomeado CEO no final de julho, teve que lidar com especulações de mercado, saídas de banqueiros e dúvidas sobre o capital enquanto procura estabelecer um caminho para o banco problemático, que foi atingido por uma série de problemas financeiros e de reputação. O grupo está atualmente finalizando planos que provavelmente verão mudanças radicais em seu banco de investimento e podem incluir o corte de milhares de empregos ao longo de vários anos, informou a Bloomberg.

Analistas da KBW também estimam que a empresa pode precisar levantar 4 bilhões de francos suíços (US$ 4 bilhões) de capital mesmo depois de vender alguns ativos para financiar qualquer reestruturação.

A capitalização de mercado do Credit Suisse caiu para cerca de 9,5 bilhões de francos suíços, o que significa que qualquer venda de ações seria altamente diluída para os detentores de longa data. O valor de mercado estava acima de 30 bilhões de francos em março de 2021. Reguladores no Reino Unido e na Suíça, que acompanham de perto o Credit Suisse desde a perda multibilionária do Archegos Capital em 2021, continuam monitorando a estabilidade do banco, segundo pessoas com conhecimento do assunto.

Os porta-vozes da Autoridade de Regulação Prudencial do Reino Unido e do regulador do mercado financeiro da Suíça (Finma) se recusaram a comentar.

Os analistas do KBW foram os últimos a fazer comparações com a crise de confiança que abalou o Deutsche Bank AG seis anos atrás. À época, o banco alemão estava enfrentando questões amplas sobre sua estratégia, bem como preocupações de curto prazo sobre o custo de um acordo para encerrar uma investigação dos EUA relacionada a títulos lastreados em hipotecas.

O Deutsche Bank viu seu CDS subir, seu rating de dívida rebaixado e alguns clientes desistiram de trabalhar com ele. O estresse diminuiu ao longo de vários meses, quando a empresa alemã se contentou com um valor menor do que muitos temiam, levantou cerca de 8 bilhões de euros (US$ 7,8 bilhões) de novo capital e anunciou uma reformulação estratégica. Ainda assim, o que o banco chamou de “círculo vicioso” de receita em declínio e custos de captação crescentes levou anos para ser revertido.

Existem diferenças entre as duas situações. O Credit Suisse não enfrenta nenhum problema na escala do acordo de US$ 7,2 bilhões do Deutsche Bank, e seu principal índice de capital de 13,5% é superior aos 10,8% que a empresa alemã tinha seis anos atrás.

O estresse que o Deutsche Bank enfrentou em 2016 resultou na dinâmica inusitada em que o custo do seguro contra perdas na dívida do banco por um ano superou o da proteção por cinco anos. Os swaps de um ano do Credit Suisse ainda são significativamente mais baratos do que os de cinco anos.

Na semana passada, o Credit Suisse disse que está trabalhando em possíveis vendas de ativos e negócios como parte de seu plano estratégico que será revelado no final de outubro. O banco está explorando acordos para vender sua unidade de negociação de produtos securitizados, está avaliando a venda de suas operações de gestão de patrimônio na América Latina excluindo o Brasil e está considerando reviver a marca First Boston, informou a Bloomberg.

O banco também decidiu hoje adiar o aumento de capital de um fundo imobiliário em meio à alta volatilidade do mercado. O adiamento ecoa um período desafiador de um ano atrás, após os escândalos Greensill e Archegos, nos quais o banco desacelerou a emissão de novos fundos, quando reinava no apetite ao risco.

Por Bloomberg

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