Charlie Munger: o outro Warren Buffett
Muitas pessoas acreditam que gerir investimentos é uma tarefa individual, na qual um solitário gênio analisa, pensa, calcula e estuda horas a fio os possíveis investimentos e em uma combinação de competência técnica, grandes sacadas. Até um pouco de sorte constrói uma carteira vencedora, com alto retorno e baixo risco.
Alguns poucos destes supostos gênios conseguem repetir esse processo por anos seguidos, às vezes décadas. Assim, se tornam gurus de investimento, lendas do mercado financeiro. Esta é uma imagem bastante popular e difundida, mas está longe de ser verdadeira.
O segredo dos vencedores do mercado
Os verdadeiros vencedores do mercado possuem um grande segredo: equipes tão geniais e dedicadas quanto eles.
Gerir investimentos é um esporte coletivo e não um esporte individual.
Apesar de muitas vezes o gestor de recursos levar a fama de gênio, sem a sua equipe ele não teria conseguido triunfar, por mais talentoso que seja. Porém, há uma sólida explicação para isso: investir é um processo complexo.
A palavra “complexo” popularmente é confundida com complicado ou difícil, mas na verdade possui um significado mais profundo vindo de sua origem no latim complexus, significando “entrelaçar-se, enrolar-se”. Para o grande filósofo e sociólogo Edgar Morin, complexo é “aquele que é tecido em conjunto”. Esta definição é perfeita para o processo de investir.
Diferentemente das ciências naturais, como a física e a química, as quais podem testar suas teorias em laboratórios, as ciências sociais como economia e finanças não tem esse privilégio.
Então, ao analisar uma tese de investimento, um gestor não consegue colocá-la em um laboratório e por meio de experiências determinar se ela é válida ou não, como na química ou física.
Como o gestor testa sua tese de investimentos então?
A melhor forma é submetê-la à crítica de sua equipe, formada de pessoas também brilhantes e conhecedoras do mercado. Neste processo as críticas são incorporadas e/ou rebatidas pelo formulador da tese, que sofre novas críticas em um processo de idas e vindas. Até que que se chegue a uma tese robusta (aceita) ou que ela seja descartada. É o processo complexo, como definido por Morin, aquele “tecido em conjunto”.
Para as ciências naturais quanto melhor o laboratório, maior a chance de se conseguir fazer boa ciência, com novas descobertas e sucesso como pesquisador. Já para as ciências sociais, no caso dos investimentos, quanto melhor a equipe (que faz o papel do “laboratório”) melhores serão as chances de teses robustas e consequentemente sucesso no mercado.
Como bem resumiu Michael Jordan, um dos maiores jogadores de basquete de todos os tempos: “talento individual vence jogos, trabalho em equipe ganha campeonatos”.
Warren Buffett, um gestor de investimentos absolutamente brilhante, possuía um dos melhores “laboratórios” existente das ciências sociais: o seu sócio Charlie Munger, tão genial quanto ele, para tecerem em conjunto, neste processo de idas e vindas dialéticas, as super bem-sucedidas teses de investimento da Berkshire Hathaway.
Uma das melhores duplas de investimento de todos os tempos: Munger e Buffett
Charles Thomas Munger nasceu em Omaha, Nebraska, no dia de Ano Novo de 1924.
Já Warren Buffett nasceu na mesma cidade em 1930.
Então, os dois se conheceram em 1959, quando Munger, que morava em Los Angeles, foi a um jantar em sua cidade natal, ao qual Buffett também compareceu.
Logo eles se deram bem instantaneamente e em pouco tempo se tornaram inseparáveis, muitas vezes conversando por telefone várias vezes ao dia.
Em público, Buffett é a grande estrela da Berkshire Hathaway, mas em particular, Munger foi absolutamente fundamental. Em 1971, Munger convenceu Buffett a comprar a See’s Candy Shops por um preço equivalente a três vezes o patrimônio líquido das lojas de chocolates – um “preço extravagante”, lembrou Buffett mais tarde, muito mais alto do que ele estava acostumado a pagar pelas empresas. A See’s geraria cerca de US$ 2 bilhões em lucros acumulados para a Berkshire nas próximas décadas.
Assim, Buffett apelidou Munger de “abominável ninguém” pela sua ferocidade em rejeitar potenciais investimentos, incluindo alguns que Buffett poderia ter feito de outra forma.
Enquanto transformava a Berkshire numa holding de seguros e outras empresas, Buffett estava à procura de negócios medíocres a preços de pechincha. Em vez disso, Munger concentrou-se em grandes empresas a preços aceitáveis, considerando que a sua capacidade de produzir dinheiro no futuro mais do que compensaria o pagamento antecipado de um preço premium. Por décadas de interação entre os dois sócios, Munger convenceu seu parceiro a mudar. “Fui tremendamente moldado por Charlie”, disse Buffett em 1988. “Cara, se eu tivesse ouvido apenas Ben Graham, algum dia seria muito mais pobre.”
O que os investidores podem aprender com Munger e Buffett?
A maior lição de investimentos da dupla Munger e Buffett é que grandes investidores nunca trabalham sozinhos.
Eles necessitam de interação com outros investidores, preferencialmente mais brilhantes que eles, para que no processo complexo, de interação dialética das teses de investimentos, possam torná-las robustas ou descartá-las.
Não é possível fazer isso sozinho.
Este processo demanda crítica e interação e é impossível discordar de si mesmo.
Não tente investir sozinho, busque se conectar a outros investidores, preferencialmente mais experiente e sábios que você e compartilhe suas ideias de investimentos.
Aceite as críticas e o aprendizado do processo complexo, o que não é fácil, mas traz grandes recompensas em longo prazo.
Novamente, como disse Buffett, se não tivesse ouvido Charlie, teria sido muito mais pobre.
Fuja desta armadilha.
Isto é Inteligência Financeira.
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