Você sabe o que é Pink Money?

Conheça o termo que reflete a força da comunidade LGBTQIA+ no mundo das finanças e investimentos

Estamos em junho, mês da Diversidade LGBTQIA+, a época em que o termo “Pink Money” ganha bastante notoriedade. Mas, afinal de contas, você sabe o que significa essa expressão?

Pink Money é um termo em inglês e significa “Dinheiro Cor de Rosa”. Pode até parecer simples, mas não existe outra explicação além dessa. E já adianto que por trás desta expressão tem muita coisa para ser explorada.

Mas para não te assustar, vamos à versão básica: o Pink Money é uma expressão utilizada para mostrar o impacto financeiro e o poder econômico e de consumo existente na comunidade LGBTQIA+.

Só que antes da gente prosseguir com esta conversa, vem comigo rapidinho até o dia 28 de junho de 1969.

Como surgiu o Pink Money

A data é uma memória a um dos episódios mais importantes a favor da luta pelos direitos da comunidade LGBTQIA+: a Rebelião de Stonewall Inn. A revolta se deu contra a polícia de Nova York, que impulsionada pelo preconceito, invadia os bares e prendiam pessoas sem motivação.

Nos anos seguintes, o movimento LGBTQIA+ só fortaleceu, mas não tinha dinheiro para custear suas atividades. E aí, a gente já sabe: sem dinheiro, sem sucesso.

Já no final da década de 1970, com os grupos gays organizados juridicamente nos Estados Unidos, mas sem nenhum tipo de apoio para suas ações, o movimento LGBTQIA+ dos EUA decidiu fazer um protesto.

Afinal de contas, imagina só, você possui várias ideias de projetos para realizar, assim como ajudas aos necessitados, mas não consegue fazer, pois as pessoas não querem patrocinar. E sabe por qual motivo? Por você ser LGBTQIA+.

Pode parecer pouca coisa, mas isso impactou muito a nossa comunidade.

Pessoas resistindo à prisão no Bar Stonewall, em 28 de Junho de 1968. – Foto: N.Y. Daily News Archive, Getty

Dinheiro rosa

Mas, naquela época, óbvio, não tínhamos internet. Por outro lado, o que existia era uma cédula de US$ 1 e uma caneta rosa. E, ainda assim, fizeram história. As LGBTQIA+s não levantaram a voz, não disseram uma palavra.

Naquele dia, todas as cédulas de US$ 1 que passassem pelas mãos de alguém da comunidade LGBTQIA+ deveria ser riscada com uma caneta rosa (pink). E aí, você deve imaginar o que aconteceu. No final do dia, teve cédula riscada de rosa por todo o país mostrando o poder do Pink Money.

Registro de pessoas em frente ao Bar Stonewall, em Nova York. – Foto: History.com

Cá pra nós, tá? Não que isso tenha mudado a realidade da noite para o dia, mas as pessoas tomadoras de decisão provavelmente passaram a olhar com mais atenção para aquele mercado.

Numa leitura mais atual, a comunidade LGBTQIA+ já se encontra mais inserida na sociedade e até temos mais direitos reconhecidos diante da Justiça e do Estado. Podemos nos casar, adotar crianças, pessoas que ficam viúvas podem receber a pensão do companheiro, entre outros pontos importantes.

Inclusive, é bem comum hoje em dia as pessoas fazerem questão de se autodeclararem parte de uma comunidade.
Eu mesmo faço questão de me identificar em todas as redes sociais, colocando a bandeira do arco-íris após meu nome. Isso cria pertencimento. E é aí que mora o segredo do Pink Money: pertencimento.

Impacto do Pink Money na economia brasileira

E é claro que no fim do dia vai ser sobre dinheiro, economia e finanças. E por falar nisso, você já parou pra pensar qual o impacto do Pink Money na economia do Brasil?

Ao falarmos de dinheiro rosa, automaticamente precisamos falar do impacto que este dinheiro tem na economia. Para se ter uma ideia, um estudo da Startup social TODXS projetou que no Brasil, em 2022, éramos 5,6 milhões de pessoas da comunidade LGBTQIA+. Isso é gente que não acaba mais. E dizem as más línguas que este número está subdimensionado.

Além disso, para entender ainda mais o peso da comunidade, as famílias arco-íris, aquelas que possuem, pelo menos, uma pessoa LGBTQIA+, movimentam R$ 10,9 bilhões por ano.

Tá passada? Pois é! Quem habla esse dado é o Estudo Rainbow Homes, da NielsenIQ, empresa de informação global. Mas não é só isso. Estas pessoas representam 5,5% no consumo brasileiro e gastam 14% a mais na comparação com os demais lares. Dessa fatia, 30% apresentam disponibilidade para gastar mais em marcas que investem em diversidade.

E vale uma ressalva por conta da complexidade do assunto e não tive o objetivo de entrar nela. Se formos analisar a realidade das periferias do Brasil, das pessoas de pele preta e de pessoas travestis e transexuais, esta informação pode não se sustentar. Então, colocar esta lente crítica de atenção é importante, combinado?

E tem mais: caso a comunidade LGBTQIA+ fosse considerada um Estado brasileiro, ela representaria 7% do PIB (Produto Interno Bruto). E mais uma vez, quem habla não sou eu, mas sim a Associação Internacional Out Now Leadership. Yas, Queen!

Como os LGBTQIA+ investem?

Ao ver estes dados uma única conclusão é possível: só o potencial de consumo já seria suficiente para as marcas investirem em produtos e serviços sob medida.

Na verdade, falar sobre Pink Money é falar sobre acesso e consumo, inclusive de produtos de investimentos. E já que a Inteligência Financeira fala de investimentos, que tal entender como as pessoas LGBTQIA+ investem?

Quando trabalhei no mercado financeiro, um dos gestores da época, ao saber que eu sou gay, fez questão de transferir clientes da comunidade LGBTQIA+ para a minha carteira. De acordo com ele, as pessoas se sentiriam mais confortável com um igual. Isso é fato, é questão de identificação.

Naquele tempo, lembro muito bem que embora aquelas pessoas, em sua maioria homens LGBT+ brancos, comprassem muitos dólares e euros para viajar, eles possuíam uma genuína preocupação em ter casa.

Cansei de financiar apartamentos incríveis e ver as pessoas se preocuparem com a previdência privada. Afinal, envelhecer para nós, ainda é um tabu e queremos nos proteger dela.

Ao me deparar com o desafio de escrever este artigo e com um lugar de fala por já ter sido parte do mercado financeiro e sobre um assunto tão importante, fui atrás de dados para entender como as pessoas da comunidade LGBTQIA+ andam investindo seu rico Pink Money. Afinal, já são mais de 8 anos que não atendo um cliente.

E olha, para minha surpresa, a Associação Brasileira de Investidores (Anbima) faz, anualmente, o Raio X do Investidor Brasileiro. Com dados de 2022, o estudo divulgado em 2023 já está na edição 6.

Aqui, faço questão de provocar: se as marcas ainda não entenderam o poder do Pink Money, os bancos parecem ter entendido muito bem, e uma sessão do Raio X, inteirinha, é dedicada sobre como pessoas LGBTQIA+ investem.

Vamos aos dados?

O primeiro dado apresentado revela o percentual de pessoas que tinham alguns investimentos. Neste quesito, embora tenha crescido tanto entre pessoas heterossexuais quanto LGBTQIA+, quando se observa a diferença entre 2022 e 2023, o número de pessoas da comunidade que passaram a aplicar dinheiro cresceu 7% e entre as pessoas hetero, 4%.

Também foram apresentados dados quanto às pessoas não guardarem dinheiro de forma alguma. Nesse quesito, a queda na comunidade LGBTQI+ foi expressiva, diminuindo de 61% para 50% em comparação a 2022 com 2023. Este dado reflete uma realidade: a comunidade LGBTQIA+ quer poupar e guardar dinheiro.

Quando falamos de investimentos, o principal conselho que todo mundo recebe é não deixar os ovos todos no mesmo cesto. A famosa diversificação de investimentos é destaque na comunidade. A poupança é o investimento favorito entre a população LGBTQIA+, com 23%; fundos de investimento estão na sequência, com 6%.

Também merece destaque investimentos em títulos privados, compra e venda de imóveis e moedas digitais (criptomoedas), aparecendo cada com 4%.

Busca por retorno financeiro

Quando consideramos os principais motivos para investir, percebe-se uma inversão nas prioridades entre as duas comunidades. Para os LGBTQIA+, o retorno financeiro passou a ser o principal atrativo, seguido pela segurança. Para os heterossexuais, no entanto, a segurança financeira manteve-se como o principal motivo.

E claro que se tratando de vanguarda e engajamento digital, a comunidade LGBTQIA+ lidera os percentuais de uso de aplicativos bancários, com 61% da preferência em relação aos 43% do público heterossexual. Também são os clientes que possuem mais contas em bancos digitais, com 56% e as pessoas heterossexuais, com 36%.

Porém, sabemos que nem tudo são flores e precisamos sempre colocar lentes sociais. Quando estamos falando de pessoas que carregam, além da marca das letras da comunidade, outras características tais como pele preta, deficiência, onde moram, este quadro pode não ser o mesmo. Sempre é bom lembrar!

Uma possível conclusão…

Falar de Pink Money é ir muito além da valorização do poder de compra. O Pink Money, se bem utilizado pode ser uma excelente forma de combater discriminação e promover igualdade de direitos. Mas, também, quando uma empresa demonstra interesse real na diversidade e inclusão, pode ter certeza de que os consumidores LGBTQAI+ irão mudar sua opção de compra.

Eu sou uma prova disso: se eu sei que uma empresa não tem engajamento em causas que acredito, paro de comprar com ela. Quero meu dinheiro nas mãos de quem olha pelos meus, minhas e minhes!

Vamos juntos fazer o Pink Money valer a pena e levarmos ações além do mês do Orgulho? Bem, acho que você já percebeu que este espaço aqui foi aberto.