Quanto rende investir em educação financeira? O Banco Central agora consegue responder

Estudo revelou que alunos instruídos tiveram maior disposição para poupar, empreender e planejar

A educação financeira aumenta a disposição dos indivíduos para empreender e poupar, assim como amplia a capacidade de evitar dívidas mais caras.

Assim, o que em geral é uma percepção, pela primeira primeira vez, foi comprovado por um estudo científico conduzido pelo Banco Central, em parceria com o Banco Mundial.

Batizado de ‘O impacto de longo prazo da educação financeira no Ensino Médio: Evidências do Brasil‘, o trabalho iniciado em 2011 teve como universo 25 mil alunos de 892 escolas públicas em seis estados.

Aleatoriamente, parte desse grupo foi selecionado para receber um curso de um ano e meio sobre temas como orçamento pessoal, trabalho, economia do país e do mundo.

Desses, os pesquisadores acompanharam registros da vida financeira de cerca de 16 mil deles por nove anos.

Os resultados:

  • Os estudantes submetidos ao programa de educação financeira fizeram 6% menos uso de crédito rotativo ou parcelado com juros associados a cartões.
  • A chance de usarem o cheque especial foi 8% menor, enquanto a de pagar empréstimos com atrasos ficou 5% abaixo.
  • 10% mais chances de serem microempreendedores individuais.
  • Os integrantes do chamado grupo tratamento mostraram maior intenção de poupar, administrar dinheiro e usar orçamentos.

“Mesmo após 10 anos, houve evidências de mudança de comportamento”, disse Gabriel Garber, do Banco Central, um dos autores do estudo.

Surpresa no estudo

Mas não foram só notícias óbvias. Pelo menos um dado surpreendeu os pesquisadores.

Inicialmente os alunos que foram alvo do curso fizeram uso significativamente maior de crédito caro, como de cartões de crédito, o contrário do que se pretendia.

Dessa forma, a probabilidade também foi maior de atrasos nos pagamentos.

“Isso pode ter sido uma falha do programa, que informou os estudantes sobre esses produtos, mas não desencorajou ativamente seu uso”, afirmou Sérgio Mikio Koyama, também do Banco Central, outro autor do estudo.

“A parte boa é que isso aconteceu no começo da vinda financeira deles”, acrescentou.

Com o passar dos anos essa tendência foi revertida e os alunos do curso mostraram ter aprendido com seus próprios equívocos e passaram a procurar modalidades com taxas menores.

Políticas públicas

Os resultados do estudo, para Garber, podem servir de subsídio para políticas públicas.

Na realidade, o trabalho foi precursor de uma série de iniciativas já implementadas pelo BC nos últimos anos para medir e melhorar o que hoje chama de letramento financeiro do público.

Um deles é o Aprender Valor, programa criado em 2020, também dirigido para alunos de escolas públicas e que já tem abrangência nacional.