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Mais da metade dos brasileiros pretende utilizar o 13º salário para apostar em bets, diz pesquisa
Trabalhadores com carteira assinada receberam, nesta sexta-feira (20), a segunda parcela do décimo terceiro salário 2024. Mas o dinheiro que poderia ser uma fonte de renda extra para aumentar os investimentos, fazer uma reserva financeira para cobrir os gastos do começo do ano ou até mesmo pagar dívidas, deve ser utilizado para fazer apostas.
De acordo com pesquisa da Creditas Benefícios e do Wellz (Wellhub), 51% dos entrevistados pretendem usar o dinheiro do décimo terceiro para apostar em bets. A pesquisa entrevistou 405 profissionais de empresas com mais de 100 funcionários em todas as regiões do Brasil e teve como objetivo entender como as empresas estão lidando com o tema das bets no ambiente de trabalho.
De acordo com Guilherme Casagrande, educador financeiro da Creditas, a dependência de jogos online e apostas virtuais está crescendo de tal maneira que já se torna uma preocupação para as empresas. Vinte e quatro por cento dos entrevistados relataram que o tema foi debatido em suas empresas após casos de colaboradores que realizaram apostas durante o expediente. Já 36% dos profissionais em cargos de liderança consideram como negativo o impacto dessa prática no ambiente de trabalho.
Cassino virtual
Com o fim dos campeonatos no fim do ano, as respostas mostram que os trabalhadores pretendem apostar nas modalidades de cassino virtual que não têm relação com os jogos reais. Mas sim com aquela espécie muito parecida com caça-níqueis, o que torna a questão ainda mais preocupante.
“O 13º salário é uma ferramenta muito importante quando falamos sobre planejamento financeiro e a oportunidade de começar um novo ano sem dívidas. É preocupante olharmos para os dados da pesquisa e ver essa grande parcela de pessoas que pretendem utilizar esse dinheiro em apostas. Sem garantir nenhum benefício financeiro para a sua vida”, destaca Guilherme Casagrande, educador financeiro da Creditas.
Atalho para a riqueza
O educador diz que uma das explicações para que trabalhadores estejam destinando parte da sua renda em jogos é que muitos buscam um atalho para a riqueza. “Eles veem influenciadores que têm milhões de seguidores indicarem os jogos. E como eles são ricos e bem-sucedidos, acreditam que também terão sua chance.”
Outro ponto é que muitos não consideram o 13º salário como uma renda propriamente dita. Mas como um bônus, um presente que se ganha para poder comprar qualquer coisa. “Para mudar isso, é preciso acabar com a crença do atalho. Infelizmente ganhar dinheiro não é fácil, precisa de esforço e clareza em nossos objetivos”, diz.
Casagrande também afirma que é paradoxal o fato de que muitas pessoas declaram ter medo de investir. E que isso gera nelas ansiedade ou medo, mas que, ao mesmo tempo, não têm medo de apostar. “Uma possível explicação, acredita, é que as pessoas veem os jogos como algo divertido, quase como uma brincadeira. E pensando assim, perdem dinheiro sem nem perceber.”
Tédio, dopamina e ansiedade
De acordo com Casagrande, o vício em bets acontece porque o jogo pode estimular a produção de dopamina, um hormônio ligado ao prazer. Além disso, o fácil acesso também facilita o vício. Como as bets homologadas estão disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana, é fácil acessar o jogo quando ficar entediado ou com insônia, por exemplo.
Outro problema é não saber quando parar. “Ao perder determinada quantia, quem já está viciado dificilmente consegue parar. Ele deseja recuperar o dinheiro perdido, e então joga ainda mais dinheiro. “Soube de casos em que a pessoa chegou a perder mais de R$ 600 mil em jogos, é um problema de saúde pública”, pontua o especialista.
Impactos na saúde mental
O levantamento também aponta uma necessidade crescente de apoio psicológico nas organizações. Já que cerca de 80% dos participantes acreditam que um programa voltado para essa finalidade poderia ajudar a prevenir o aumento das apostas no ambiente de trabalho.
“Os problemas financeiros são reconhecidos como uma das principais fontes de estresse, levando a condições como ansiedade, depressão e insônia. Além disso, é alarmante notar que dificuldades financeiras estão entre os maiores fatores associados ao suicídio. Especialmente entre o público masculino, que frequentemente enfrenta a pressão de prover e sustentar suas famílias. O estigma em torno da vulnerabilidade emocional pode dificultar a busca por ajuda. O que exacerba ainda mais a situação”, enfatiza Ines Hungerbühler, psicóloga PhD e líder da estratégia clínica do Wellz.
“Para mitigar esses impactos, é essencial que as empresas implementem programas de apoio psicológico e educação financeira. A integração de soluções que abordem tanto o bem-estar emocional quanto a gestão financeira pode ajudar os colaboradores a desenvolver resiliência e habilidades para enfrentar os desafios econômicos. O fortalecimento dessa abordagem não apenas melhora a saúde mental dos indivíduos, mas também contribui para um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo.”
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