Quem investe deve se preocupar com a alta nos casos de Covid-19 no exterior?
A Holanda entrou em lockdown neste sábado (13) para conter uma quarta onda de infecções de Covid-19 em meio a um aumento no número de casos. O primeiro-ministro Mark Rutte anunciou ontem que o país entrará em lockdown durante três semanas. O país europeu é o primeiro do continente a voltar à quarentena após o aumento de casos de Covid-19.
Nas últimas semanas, novos casos de infecção pelo novo coronavírus voltaram a ganhar força na China e na Europa. O baixo percentual de vacinação e fim do isolamento na região tem levado a novos recordes de contaminação e regras de isolamento. O recente surto levanta preocupações em investidores traumatizados pelas quedas passadas do Ibovespa a cada nova onda de Covid-19. Estaríamos perto de mais uma?
Segundo analistas, como o número de mortes nestas regiões não cresceu na mesma proporção, a preocupação não se assemelha à de surtos passados. A vacinação, mesmo não tão abrangente, tem impedido o desenvolvimento de casos graves. O que chama a atenção do mercado são as restrições na China.
Com uma política de “Covid zero”, o governo chinês impõe testes massivos e lockdowns restritos ao menor sinal de novos casos.
“Vinte das 31 províncias da China estão com bastante problema”, diz Fabio Focaccia, diretor de estratégia da Santa Fé Investimentos, que acompanha de perto os novos casos no exterior.
“Estamos mapeando isso direto. É um super ponto para monitorarmos, mas a China é uma incógnita. É difícil acompanhar os dados concretos de vacinação por lá”, afirma Focaccia.
Prevendo novos lockdowns e restrições, o governo chinês orientou que famílias estoquem comida para o inverno. O resultado foi uma corrida por suprimentos que elevou os preços de commodities como arroz a sal. Ao mesmo tempo, as restrições, combinadas à crise imobiliária da Evergrande e à crise energética, diminuem a atividade econômica local e impactam o Brasil.
“Localidades com uma resposta mais dura à pandemia, em especial a China, podem ter um efeito de revisão de projeção de crescimento, mas também não será nada muito dramático até mesmo porque já estamos com um processo de revisão de crescimento chinês pelas questões energéticas e pelos gargalos da cadeia de suprimento global”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus.
O gigante asiático é o nosso maior parceiro comercial e para onde escoamos grande parte do minério de ferro. Recentemente, o preço do ativo teve forte desvalorização dada a piora nas perspectivas chinesas, impactando as ações da Vale, que caíram 17,18% no último mês.
“Com a China crescendo menos, devemos ser negativamente impactados. Com o minério já em baixa e aumento do frete, com portos asiáticos parado, a gente sofre mais. O Brasil deve exportar menos, não drasticamente menos, mas é ruim para o país”, afirma Guilherme Zanin, analista da Avenue.
Os mercados financeiros da Europa e dos Estados Unidos, por enquanto, não refletem os novos surtos do coronavírus. Os três principais índices de Wall Street estão em suas máximas históricas. O alemão DAX também.
“Na Europa, há menos risco. O número de mortes tem se mantido estável, apesar dos europeus terem certo medo da vacinação. [Os casos crescentes] são pouco relevantes porque não devem elevar números de mortes. Não vemos chance de novos lockdowns e consequente prejuízos à economia”, diz Zanin.
Apesar da pressão chinesa, a Bolsa de Valores brasileira está sendo mais impactada pelas notícias locais, com a situação fiscal em risco, alta de juros e aproximação das eleições de 2022.
“Enquanto lá fora as Bolsas sobem, aqui estamos impactados por problemas internos. O coronavírus na China só vai desacelerar a Ásia, não é algo com que o investidor precisa se preocupar muito no momento. Temos riscos internos piores”, afirma Zanin.
“Para o mercado, a Covid-19 hoje não faz preço, é só mais uma virose. Ninguém está trabalhando com novos cenário de lockdown para o verão”, diz Focaccia, da Santa Fé.
“Uma revisão de fundamento agora por conta da pandemia não está no radar do mercado”, diz Spiess, da Empiricus.
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