O papel moeda vai acabar?

O volume de dinheiro em circulação vem caindo

Qual será o futuro do papel moeda? Será que o dinheiro real, esse que a gente carrega na carteira, vai acabar?

Para Bruno Martucci, head de produto da Pomelo, empresa latino-americana que desenvolve soluções tecnológicas inovadoras para Banking e Cards, o dinheiro em espécie tende, sim, a desaparecer no futuro.

Ele lembra que o uso do papel moeda já vem diminuindo.

No Brasil, por exemplo, havia R$ 363.113.832.289 (para facilitar sua leitura: cerca de 363 bilhões de reais) distribuídos por 8.539.481.833 (8,5 bilhões) de cédulas em circulação em 31 de dezembro de 2020.

Um ano depois, o valor circulante caiu para R$ 331.441.304.319 (331 bilhões), divididos em 7.649.062.172 (7,6 bilhões) cédulas. Foi a primeira vez que esse valor recuou desde o início do Plano Real, em 1994.

Em 31 de dezembro de 2022, o valor em circulação aumentou um pouco, mas não chegou ao que era em 2020. Tínhamos R$ 334.494.475.669 (334 bilhões) circulando em 7.677.019.599 (7,6 bilhões). Os dados são do Banco Central.

“Observamos essa tendência tanto em países desenvolvidos quanto em emergentes”, afirma.

E, segundo o especialista, entre os motivadores desse movimento estão medidas adotadas por governos do mundo todo que acabam reduzindo a circulação do dinheiro em papel.

Como a tecnologia diminuiu o uso do papel moeda

Você se lembra como era a vida antes do Pix?

Pois então. Esse é um exemplo claro da forma como a tecnologia diminui o uso do papel moeda. Antes de ele ser lançado, em 5 de outubro de 2020, era comum pagarmos pequenas quantias em dinheiro, principalmente quando o pagamento era feito para outra pessoa – e não para uma empresa. Lembra?

Desde que ele surgiu, sua popularidade só vem crescendo. Agora, nada mais natural do que “fazer um Pix”, para transferir dinheiro para um amigo, comprar um bicicleta ou pagar a conta da padaria.

“O Banco Central, ao criar o Pix, deu o primeiro passo para um sistema único no qual todos os players se conectam”, afirma Martucci.

O dinheiro físico acabou em outros países?

Ele lembra que a Índia adotou uma regulação muito forte para reduzir o uso de cédulas e criou sistemas únicos de pagamento e identificação.

Alem disso, em regiões mais desenvolvidas, como Estados Unidos e Europa, onde a bancarização não é um problema, o foco está na experiência do usuário.

“Há cada vez mais pagamentos com NFC e GoPay, por exemplo”, ressalta.

Em Portugal, o nome do “Pix” é “MB WAY” – e seu funcionamento sua popularidade são praticamente idênticos.

Há exceções, no entanto.

Na Alemanha, país desenvolvido e avançado tecnologicamente, o dinheiro em papel ainda é preferência nacional.

Em comércios pequenos, inclusive, é bastante comum que apenas transações em espécie sejam aceitas.

Em feiras de Natal, as famosas Weihnachtsmärkte, quem não tem papel moeda simplesmente não compra. Há avisos por todos de que apenas pagamento em espécie é aceito.

Vantagens e desvantagens do papel moeda

Uma desvantagem do papel moeda, como alerta o especialista, é facilitar práticas ilícitas, como ocultação de patrimônio e de receita e lavagem de dinheiro.

Já uma vantagem, por outro lado, é ser a alternativa de pagamento viável para todas as pessoas que estão fora do sistema bancário.

Uma pesquisa da Locomotiva, por exemplo, indica que o papel moeda se mantém como meio mais utilizado por consumidores das classes D e E.

Entre eles, 72% preferem para pagar as contas de consumo (como água e luz, por exemplo) em dinheiro.

O principal motivo alegado é ter mais controle sobre o dinheiro, mas também entra na lista o medo de ser taxado pelos bancos.

Também vale lembrar que consumidores ainda usam dinheiro em espécie para obter descontos no ato da compra.

Digital é mais barato

A transação digital, por outro lado, é mais simples, barata e prática do que a transação em papel moeda. “Isso porque não envolve produção de dinheiro, gastos com o papel em si, tecnologia anti-fraude, transporte de efetivo, nem necessidade de caixa para fornecer troco ao consumidor”, diz Martucci.  

Segundo o especialista, muitas empresas preferem pagamentos digitais porque porque, ainda que gerem algumas taxas, eles são mais baratos do que todo o processo em espécie, que envolve desde a necessidade de obter troco até fazer retiradas das cédulas do comércio, o que requer até uso de carros forte em algumas situações, por exemplo.

Posso deixar uma parte do meu patrimônio em papel moeda?

Essa é uma dúvida comum principalmente entre pessoas que não confiam nas instituições financeiras.

A resposta, via de regra, é que, em um país de economia instável como o Brasil, manter sua reserva em papel moeda não é uma boa ideia.

Para entender a razão, pense no que a inflação pode fazer com o seu dinheiro guardado em notas de reais. Ela devora seu dinheiro em questão de meses.

Quanto dinheiro em espécie ainda há em circulação no Brasil?

Segundo o Banco Central, no dia 18 de janeiro de 2023, o Brasil tem um total de 7.646.809.877 cédulas em circulação, que representam R$ 333.006.494.118. Há ainda 29.520.404.355 moedas circulando, que somam nada menos do que R$ 7.850.014.418,73.

Só para comprar, vamos observar um pequeno histórico da quantidade de cédulas em circulação e seu respectivo valor.

 Quantidade de cédulasValor somado das cédulas
Janeiro 20237.646.809.877R$ 333.006.494.118
Janeiro 20135.075.548.914R$ 162.263.891.953
Janeiro 20032.700.170.105R$ 45.549.776.456

Por que o Brasil não pode imprimir mais dinheiro?

Essa pergunta aparentemente inocente é muito buscada no Google.

O motivo? Muita gente não entende como funciona a emissão de papel-moeda e se pergunta por que, afinal, o governo não imprime mais notas para aquecer a economia.

Como funciona a emissão de papel-moeda?

Para entender por que não é tão simples imprimir mais dinheiro, é preciso considerar que a quantidade de papel moeda em circulação deve acompanhar a riqueza real de um país.

No Brasil, o Banco Central é quem autoriza a emissão de dinheiro, que é realizada pela Casa da Moeda.

O BC também é responsável pela distribuição do dinheiro e pela garantia de que a quantidade de papel moeda que está circulação seja correspondente às riquezas que o país produz e ao ritmo do seu crescimento econômico.

Agora, imagine o que aconteceria se o governo simplesmente decidisse imprimir mais papel moeda para “teoricamente” ficar mais “rico”.

O resultado seria exatamente o contrário do esperado porque a impressão irresponsável de notas acabaria gerando inflação, alta de preços e desvalorização da moeda, entre outros problemas.

Para entender o que é a inflação, imagine que, caso o governo dobrasse a emissão de dinheiro sem que a produção de riquezas do país aumentasse, o que você costumava comprar com uma nota de R$ 20 possivelmente passaria a ser vendido por duas notas de R$ 20 (considere que este é apenas um exemplo fictício – a conta não necessariamente seria assim tão simples, ok?).

Ou seja, de nada adiantaria ter mais notas em circulação se a quantidade de bens e serviços disponíveis para a população for a mesma.

O resultado poderá ser uma hiperinflação.

Moeda desvalorizada gera ainda mais inflação

Sem lastro na produção do país, a moeda desvaloriza.

Isso porque a razão é que a emissão desenfreada de cédulas de reais derrubaria a confiança na economia e, consequentemente, geraria fuga de capitais e desvalorização da nossa moeda.

Com isso, precisaríamos de mais reais para comprar dólares ou euros.

Hoje, por exemplo, o euro está em torno de R$ 5,50.

Se o governo simplesmente decidisse imprimir dinheiro para dobrar a quantidade de cédulas e circulação, o câmbio também poderia dobrar ou triplicar (novamente considerando que este é apenas um exemplo didático, criado para explicar a complexidade da impressão de papel moeda, ok?).