Como as eleições dos Estados Unidos de meio de mandato impactam o investidor?

Eleições de meio de mandato tendem a impactar os investimentos nos Estados Unidos e isso pode se refletir no Brasil
Pontos-chave:
  • Analistas avaliam o tamanho da interferência das eleições de meio de mandato no mundo dos investimentos
  • No Brasil, as midterms são um entre os vários componentes externos que podem mexer com os ativos
  • Ações específicas podem ser beneficiadas a depender do resultado das eleições

As eleições dos Estados Unidos de meio de mandato (ou “midterm”) acontecem nesta terça-feira (8) para renovar totalmente a Câmara e 35% do Senado. Afinal, as mudanças acontecem a cerca de dois anos da nova eleição presidencial e podem ser derradeiras para as pretensões políticas do atual presidente americano, Joe Biden.

Hoje, os democratas têm o controle da Câmara. No Senado, existe um empate técnico, mas com a vice-presidente do país, Kamala Harris, que também é presidente da Casa, tendo o voto de minerva. Assim, as eleições podem inverter esse cenário e pesquisas apontam que os republicanos são favoritos, principalmente na Câmara.

As mudanças não impactam apenas o cenário político americano, mas também os investimentos. Analistas ouvidos pela Inteligência Financeira avaliam o tamanho da interferência das midterms nesse âmbito, e se o pleito tende a ressoar no mercado brasileiro.

Mudanças podem favorecer o mercado

Para Orlando Bachesque, sócio da Alta Vista Investimentos, existe a possibilidade de o Partido Democrata perder as duas maiorias. Dessa forma, o governo Biden não seria mais a posição dominante dentro do parlamento. “Isso é importante, porque o governo passa a ter dificuldade de implementar agendas”, diz o analista.

“Biden conseguiu avançar em algumas pautas nos primeiros anos de mandato. Mas, nesse segundo momento, se a oposição vencer nas duas casas, ele vai ter problemas para emplacar suas propostas”, completa Bachesque. E isso tende a impactar o mundo dos investimentos.

A expectativa dos investidores americanos, segundo o analista, tende a ser positiva diante de uma vitória dos republicanos. “Geralmente, o mercado responde bem a essa divisão ente governo e Congresso. Os dados estáticos dizem que a bolsa sobe depois de uma eleição de meio de mandato, com divisão entre os poderes”, afirma.

O otimismo diante de uma cisão acontece pela crença do mercado de que o governo que firma maioria na segunda metade do mandato “vai querer gastar mais para se reeleger”. Por isso, “a ideia de uma divisão não é necessariamente ruim do ponto de vista do mercado”, avalia.

Mais um componente externo

Já para o investidor brasileiro, “as eleições dos Estados Unidos de meio de mandato são mais um componente externo, e não o grande fator”, diz Bachesque. Dessa forma, ele ressalta temas como inflação interna e global, por conta da pressão sobre o preço das commodities, e a guerra entre Ucrânia e Rússia como fatores internacionais preponderantes entre os que incidem sobre a bolsa brasileira.

“Talvez, em outro momento, as midterms tenham sido mais importantes. Mas, agora, perderam relevância diante da complexidade do mercado global e brasileiro”, afirma.

Para Pedro Correa, analista da HCI Invest, “atualmente, o mercado dá mais importância ao controle da inflação e sobre como o Fed gere a política monetária”. Ele menciona os níveis recordes de juros nos EUA, que têm causado uma deterioração no valor das ações das empresas em Nova York.

O analista não crê num grande impacto de curto prazo causado pelas eleições dos Estados Unidos de meio de mandato. Contudo, avalia que uma pequena reverberação pode chegar ao Brasil diante da eleição de uma maioria republicana, que traria problemas para a gestão Biden e uma certa instabilidade política aos americanos.

“Caso o Partido Democrata tenha revés, a governabilidade pode ser comprometida, o que aumenta o descontentamento da população. O mercado gosta de estabilidade e o que pode acontecer é uma mudança no humor dos investidores internacionais”, diz Correa. Neste caso, ele avalia que alguns investimentos podem ser direcionados ao Brasil.

Ações beneficiadas em cada cenário

Guilherme Zanin, analista da Avenue, diz que as eleições americanas podem ter impacto relevante nos investimentos e que o mercado internacional está avaliando qual dos partidos vai dominar cada uma das casas.

Para brasileiros que investem lá fora, a mudança na composição do parlamento pode impactar o tipo de investimento. Isso diz respeito principalmente na Bolsa, com algumas ações ganhando valor em detrimento de outras a depender da movimentação política.

“Câmara e Senado mais democratas tenderiam a favorecer a agenda de Biden voltada para os carros elétricos e o setor de cannabis, que seriam beneficiados com a possibilidade de um incentivo maior à produção de veículos à base de energia sustentável e a legalização da maconha em parte do país”, avalia.

“Temos olhado, no setor de energia limpa, empresas como Tesla, ExxonMobil e Solarette. E entre as de cannabis, Canopy Growth. Todas elas tenderiam a receber um impacto positivo em caso de manutenção da maioria democrata dada a avaliação de preço dessas empresas nos mercados internacionais”, completa.

Por outro lado, no caso da vitória do Partido Republicano, a perspectiva é de que o setor de energia tradicional ganhe tração na bolsa. “Se houver a prevalência dos republicanos, isso beneficiaria as petrolíferas, que são mais aliadas ao partido”, aponta.

Brasil tem outros riscos

Apesar da movimentação que pode acontecer nas bolsas americanas, o impacto sobre investimentos em renda variável no Brasil deve ser pequeno, diz Zanin, com o cenário interno sendo mais afetado pela transição do governo Bolsonaro para a gestão Lula, que inicia em 2023.

“O Brasil tem seus riscos locais. Existe uma grande dúvida sobre quais serão os poderes políticos do governo Lula que impactam os ativos locais”, avalia.