O que os seus avós faziam para que o dinheiro rendesse mais?

Conheça a receita das vovós e dos vovôs para driblar a inflação
Pontos-chave:
  • Escolas públicas de qualidade eram um gasto a menos para as famílias
  • Hábito de consumo está entre os vilões para que o cofrinho não esteja tão recheado hoje em dia

Dia 26 de julho, Brasil, Portugal e Espanha comemoram todos os anos o dia do “toma esse dinheirinho, mas não conta pra sua mãe” e da “fiz pudim com calda dupla para você jantar”. Sim: é o dia dos avós! E sabe por que hoje se comemora essa data? Porque é o dia de São Joaquim e Santa Ana, os avós de Jesus. Em 2021, o 26 de julho teve relevância mundial e ganhou espaço na agenda como o 1.º Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, instituído pelo Papa Francisco.

Mas não vamos falar das delícias de conviver com vô e vó. Afinal, nesta plataforma a gente trata sobre finanças pessoais. Aliás, quais são as receitas dos idosos, no que diz respeito ao dinheiro? Para começo de conversa, você já parou para pensar como era a vida econômica dos nossos avós quando eles tinham, mais ou menos, a mesma idade que você tem hoje? Muitos já eram donos de pelo menos um imóvel, tinham uma quantia guardada (na poupança, geralmente), estavam planejando a aposentadoria e ainda criavam dois, três ou até mais filhos.

Vários anos se passaram e, por mais que os filhos e netos ganhem mais do que eles, essa rotina financeira não é mais a mesma. Muita coisa mudou. A pergunta que fica é: você conquistou o que seus avós conquistaram quando eles tinham a sua idade? Qual é o segredo dos nossos avós para que o dinheiro rendesse mais?

A culpa é da inflação?

Com certeza, muitas pessoas vão falar que “ah, mas a inflação naquela época era bem diferente”. Pois é, mas existem dois lados da moeda aí. De acordo com Marcia Dessen, planejadora financeira e diretora da Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar), até o início dos anos 1970, o Brasil não tinha muitos dados oficiais de inflação, e isso contribuiu bastante para que nossos avós pudessem se planejar financeiramente. “Financiar a compra de uma casa própria naquela época, por exemplo, não incidia juros. Ou seja, era o valor real do imóvel que você pagava, e isso já é um baita alívio para as finanças pessoais”, afirma.

Por outro lado, entre 1970 – quando começaram as medidas oficiais de inflação baseadas em padrões internacionais – e 1995, o Brasil passou por um período marcado por grandes oscilações no índices de preços de bens e serviços. Em 1982, por exemplo a inflação do ano todo bateu em quase 96%.

Então, podemos considerar que esse foi um período de perdas de capital? Depende. “Afinal de contas, não podemos esquecer que, com a inflação muito alta, temos também taxa de juros elevadas. E quanto maior o juro, maior o rendimento do dinheiro aplicado, a depender do tipo de ativo financeiro. Portanto, o fato dos nossos avós conseguirem fazer uma poupança com mais eficácia do que nós hoje em dia tem como uma das justificativas esse ponto: eles tinham uma taxa de juros alta, o que fazia o investimento render mais e com maior rapidez”, explica Cristiano Corrêa, coordenador do curso de administração no Ibmec-SP.

Serviços públicos de qualidade e gratuitos

Mas é claro que somente a inflação alta ou baixa não contribuiria muito para engordar o nosso cofrinho a ponto de deixá-lo rechonchudo igual ao de nossos avós. Existe aí, também, uma questão social e cultural.

Isso porque, lá pelos idos de 1970, a maioria das pessoas estudava em escolas públicas, usufruía dos serviços de saúde do governo federal e usava o transporte público como forma de locomoção. Com o passar dos anos, infelizmente, parte desses serviços não avançaram tão positivamente.

E quem tinha condição financeira um pouco melhor, acabou optando por pagar por educação e saúde. “Sem esquecer que muitas famílias decidiram incluir a compra de um automóvel na rotina financeira da casa. Então, além das parcelas do financiamento, também temos os custos anuais com revisão do carro, IPVA, licenciamento, seguro, entre outras despesas”, conta Marcia.

A culpa está no consumismo elevado

Sentiu a balança ficar mais pesada para o nosso lado? Pois saiba que não para por aí. O avanço da tecnologia e a abertura do mercado brasileiro para produtos importados a partir da década de 1990 foi superpositivo, claro, mas, por outro lado, trouxe uma experiência de consumo que a população não tinha. “As pessoas ficaram alucinadas, querendo experimentar algo que nunca tiveram. E é aí que começa o consumismo exacerbado”, diz a planejadora financeira.

Sem esquecer, mais atualmente, para os gastos com internet, TV por assinatura, streamings, conta de celular, entre outros serviços e produtos que o mundo moderno não para de nos proporcionar.

Portanto, meu caro leitor e minha querida leitora, podemos tirar como conclusão que a inflação pode até ter influenciado no acúmulo de capital dos nossos avós, mas são os hábitos de consumo os principais vilões para que o cofrinho não esteja tão recheado. “A dica para quem quer guardar mais dinheiro como os nossos avós é a mesma de sempre: saber administrar o orçamento. Parar de comprar o que não é necessário, substituir produtos caros por outros mais baratos, tirar o que é supérfluo e adiar algumas despesas”, ensina Marcia. Sem esquecer, claro, de investir esse montante acumulado em ativos financeiros de acordo com o seu objetivo.

E agora que você já conhece a receita dos seus avós, bora por a mão na massa?