Lei garante salário igual para homens e mulheres: como saber se o que você recebe está, pelo menos, na média do mercado?

Lula sanciona lei; saiba o que muda e como identificar se o salário está defasado

Na segunda-feira (3), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a lei salarial, que garante a igualdade de salários entre homens e mulheres que desempenharem a mesma função.

Além disso, a regra estabelece ainda que, em havendo qualquer tipo de discriminação, seja por gênero, raça ou etnia, o empregador será multado ao equivalente à diferença salarial devida mais 10 vezes o valor do novo salário.

Porém, em caso de reincidência, a multa dobra.

A lei também garante indenização por danos morais para empregados que foram discriminados.

Fora isso, a partir de agora, empresas com mais de 100 funcionários terão que publicar relatórios semestrais que apontem transparência salarial. As companhias terão que oferecer canais de denúncia.

Como saber se seu salário está na média do mercado?

A nova regra é algo que garante o óbvio, mas veja: é um avanço. De acordo com o IBGE, mulheres ganham 20,5% a menos que os homens.

Para além das portas da empresa, como saber se seu salário está, pelo menos dentro do que o mercado oferece?

Para saber isso, a Inteligência Financeira foi a campo e conversou com dois especialistas para te ajudar a entender melhor sua situação. Em caso de disparate, saiba o que os especialistas recomendam.

E, para começar, Ricardo Massola, mestre e consultor internacional em qualidade de vida e bem-estar no trabalho, já adianta: “há uma diferença entre a expectativa do que gostaríamos de ganhar e o que o mercado está disposto a pagar por nossas habilidades. Quanto maiores e mais únicas as suas habilidades forem, maior a chance de um salário próximo às suas expectativas”.

Ou seja, alguns fatores precisam ser analisados antes de decidir que você precisa de um aumento. Mas, fique tranquilo, que a gente está aqui para te dar uma mãozinha nessa empreitada.

Como saber se você ganha bem?

Desse modo, começamos explicando para você como identificar se o seu salário está, ou não, na média do piso salarial. Veja abaixo o que fazer:

1. Procure saber qual é o piso salarial da sua profissão

“Algumas profissões possuem um piso salarial já estabelecido como um valor mínimo de pagamento para aquelas atividades determinadas”, explica Massola. Por meio de buscas no site dos sindicatos ou dos conselhos de classe da sua profissão, por exemplo, você consegue descobrir.

2. Pesquise o salário de uma mesma posição que a sua em outras empresas

Para o especialista, esse processo, que pode ser feito em sites de empresas ou de pesquisas salariais, pode te dar uma ideia de quanto outros lugares estão pagando por experiências parecidas com a sua.

3. Confirme com colegas da área

Entrar em contato com profissionais que atuam na mesma área que você é fundamental. Isso porque eles podem te explicar sobre a política de salários na empresa que atuam, quais os benefícios têm e quais atividades fazem.

4. Analise sua habilidade e experiência

Para Mussola, é preciso levar em consideração se você tem uma formação acadêmica avançada, como uma pós-graduação, ou possui muitos anos de experiência na área. Essas habilidades podem ser decisivas para que você ganhe mais ou menos. 

Da mesma forma, se você possui muitas responsabilidades dentro da empresa, lidera uma equipe ou trabalha em projetos complexos, é normal esperar uma remuneração maior. 

Se o salário estiver mesmo defasado, o que fazer?

Se, após essa consulta, você perceber que o seu salário realmente não está dentro da média em comparação com o piso salarial, então a especialista em cultura corporativa e em Recursos Humanos, Juliana Alencar, indica o bate papo com a chefia.

“Uma boa conversa é sempre bastante importante para alinhar as expectativas e também entender o que é importante para cada caso”, diz.

Além disso, é importante se preparar para a situação em que o reajuste não venha a acontecer. “Às vezes, por alguma política interna ou condições do momento da empresa, não será possível reaver o valor. Mas, [ainda assim], você terá essa informação e responsabilidade para quando uma oportunidade de aumento surgir, poder agir de forma assertiva”, explica a especialista. 

Por outro lado, para Mussola, se os seus gestores não se mostrarem abertos ao diálogo, talvez seja o momento de considerar a troca de emprego em busca de oportunidades que valorizem suas habilidades.

Tenha dados concretos

Além disso, o consultor indica que a conversa não só seja franca, amigável, respeitosa e profissional, mas que também tenha argumentos sólidos e baseados em fatos. 

A defasagem salarial, em comparação com o piso salarial, não deve ser o único argumento. Apresentar dados sólidos sobre o seu diferencial na empresa pode ser um caminho mais interessante.

“Não basta dizer que você faz tudo certo e que cumpre com suas obrigações. É preciso mostrar com dados, datas e números que seu desempenho tem sido acima do normal e que você tem construído de maneira significativa para os resultados atingidos pela empresa. Fale especificamente dos projetos ou clientes em que estas metas apareceram”, explica o especialista. 

Outra opção apresentada por Mussola, e que pode ser interessante, é a compensação salarial com outros benefícios, como vale-alimentação, auxílio-combustível, auxílio-creche, entre outros. Já para Juliana, a “fórmula mágica” para a conversa justa e responsável com a chefia inclui diversos fatores.

“O discurso deve ser alinhado a sua contribuição nos últimos tempos, juntamente com o seu desejo de querer construir um futuro ainda melhor junto à empresa e o quanto está comprometido com o projeto e o futuro da companhia. [Além, claro,] do quanto o mercado está pagando. Todas estes pontos unidos trazem mais harmonia e transparência a conversa”, explica.

Salário emocional: o que é e como impacta?

Outro ponto importante que é preciso levar em consideração é o chamado salário emocional, também conhecido como compensação não financeira. Segundo Ricardo Mussola, o salário emocional refere-se aos benefícios intangíveis que um empregador oferece a seus funcionários.

“Isso inclui reconhecimento, apreciação, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, oportunidades de crescimento e desenvolvimento pessoal, um ambiente de trabalho positivo e um senso de propósito e realização no trabalho que está sendo realizado”, explica.

É importante levar o salário emocional em consideração porque ele pode ter um impacto significativo na motivação, engajamento e satisfação do funcionário.

Diante disso, confira algumas das maneiras de se beneficiar com o salário emocional:

  • Maior satisfação no trabalho;
  • Melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal;
  • Oportunidades de crescimento e desenvolvimento pessoal;
  • Um ambiente de trabalho positivo;
  • Reconhecimento e valorização.

Piso salarial x salário mínimo

Também é interessante notar que estamos abordando a defasagem no piso salarial, e não no salário mínimo. Mas, qual a diferença entre eles, afinal de contas?

“Salário mínimo é o valor estabelecido pelo governo como o menor valor que um empregador pode pagar ao trabalhador, por hora trabalhada ou por mês de trabalho, de acordo com a legislação trabalhista em vigor no país”, explica Juliana.

Mas, por outro lado, vale saber que Estados e municípios podem estabelecer outros valores mínimos que sejam maiores do que aquele montante estabelecido pelo governo federal.

Já o piso salarial, segundo a especialista em RH, é o valor mínimo que um empregador deve pagar a um trabalhador de determinada categoria profissional, de acordo com a convenção coletiva de trabalho, acordo coletivo de trabalho ou dissídio coletivo.

Isso significa, então, que o piso salarial é específico de cada profissão, e é determinado pelo sindicado desses profissionais em negociação com empregadores, podendo variar de acordo com a categoria profissional e a região em que se trabalha. 

Segundo Juliana, o salário mínimo é uma referência geral e se aplica a todos os trabalhadores. Enquanto o piso salarial é uma referência específica para uma determinada categoria profissional.

Colaboração: Daniel Navas e Mavi Faria