40 minutos para pegar uma pipoca: Barbie domina os cinemas e aumenta expectativa dos acionistas da Mattel

Assisti ao filme, mas não vou te dar spoiler; pré-venda é recorde

Foi um pouco chocante chegar ao cinema do Shopping Pátio Paulista, em São Paulo, por volta das 23h20 de quarta-feira (19). Nunca eu imaginaria que 40 minutos de antecedência ao horário previsto para o lançamento do filme da Barbie seriam pouco tempo para fazer o que eu precisava. Pegar o elevador, buscar a pipoca e o refrigerante que eu já havia comprado previamente e sentar no meu lugar.

Ledo engano.

Perdi as primeiríssimas cenas depois de ficar mais de meia hora na fila para retirar os produtos que eu comprei por aplicativo. Fila essa que na verdade eu demorei até pra entender onde acabava, dado o mar de jovens de vestido rosa, sapato rosa, bolsa rosa, comendo pipocas rosa e ostentando copo rosa. Preço do combo? A partir de R$ 78.

Tudo bem que eu fui um pouco inocente. Cinco salas lotadas começando ao mesmo tempo (0h01) para o lançamento do filme da Barbie só poderiam gerar algum caos, ainda mais considerando que os cinemas estão desacostumados a ter um bom público, ainda mais tanta gente ao mesmo tempo.

Para se ter uma ideia, dados da Ancine mostram que os cinemas brasileiros perderam quase metade do público (46,5%), comparando-se os números de 2022 com os de 2019, último ano antes da pandemia. O setor está ávido por uma boia de salvação e o live-action da Barbie é a melhor esperança que surgiu até agora.

De olho nos bilhões da Barbie

Segundo dados da Abraplex, associação das empresas exibidoras, a bilheteria de Barbie é a segunda maior estreia do cinema brasileiro desde 2014, quando os filmes passaram a chegar aos cinemas às quintas-feiras. “Barbie” foi assistido nesta quinta por 1,4 milhão de pessoas, com uma renda de mais de R$ 22 milhões.

No primeiro final de semana, a bilheteria de Barbie superou as expectativas e arrecadou globalmente US$ 356 milhões (R$ 1,68 bilhão). Foram primeiros dia de ouro para o cinema, uma vez que “Oppenheimer”, de Christopher Nolan, também foi além do estimado, faturando US$ 180 milhões (R$ 852 milhões). Ao todo, portanto, o fenômeno Barbenheimer fechou com US$ 536 milhões (R$ 2,53 bilhões).

Enquanto isso, muita gente está de olho nas cifras bilionárias que envolvem o fenômeno. Endividada, a Warner precisa de dinheiro como nunca – e a empresa comemora que “Barbie” é a melhor pré-estreia que o estúdio já teve no Brasil. Além disso, vale lembrar que tanto atores quanto roteiristas estão de greve em Hollywood.

Do lado da marca Barbie, as ações da Mattel (MAT) dispararam nos últimos meses e analistas já preveem que isso vai virar sim mais lucro para a empresa no final do ano. Minha única curiosidade é ver como o tom ácido que a diretora Greta Gerwig usa para tratar a empresa vai se refletir no público.

Fora isso, de roupas a alimentos, comércios estão colocando o rosa em tudo o que podem para aproveitar o “Barbiecore”. Roupas, sapatos, esmalte de unha e até molho rosa sabor defumado em um lanche do Burger King estão por aí.

O meme ‘Barbenheimer’

O lançamento do filme da Barbie é a principal estreia da semana, mas não é a única que traz esperança para os cinemas. “Oppenheimer”, do diretor Christopher Nolan, também chegou às telonas, contando a história da invenção da bomba atômica.

Além da concorrência entre as produções, o fenômeno “Barbenheimer” provocou memes nas redes sociais pelo contraste absoluto entre o super colorido do live-action da Barbie e o tom soturno do filme de Nolan. No TikTok, por exemplo, são mais de 130 milhões de visualizações para vídeos com a hashtag.

Para Christopher Nolan, no entanto, não é hora de estimular comparações. Ele vê o copo meio cheio da melhora do mundo do cinema. “Eu acho que para aqueles de nós que se importam com o cinema, nós estávamos esperando o mercado cheio de novo. Agora aconteceu e é maravilhoso”, disse o diretor ao IGN.

Filme da Barbie: qual é a classificação indicativa?

Eu não vi “Oppenheimer” ainda, mas posso garantir já que “Barbie” não é um filme para crianças. A classificação indicativa de 12 anos me parece um bom indicativo para decidir se vale a pena ou não levar seus filhos para assistir.

Os debates miram um público mais maduro, com discussões sobre os papéis de homens e mulheres na sociedade, casos de assédio e mais. Por outro lado, crianças muito pequenas devem achar tudo muito colorido e bonito.

Barbie presidente é uma mulher negra no filme da Barbie. Na Barbieland, todas as ministras da Suprema Corte são mulheres. Foto: Warner/Divulgação

O lançamento do filme da Barbie para assistir online ainda não tem data para acontecer. Após a janela de exibição nos cinemas, a expectativa é que o live-action da Barbie com Margot Robbie seja disponibilizado no Brasil no streaming da Warner Bros. Discovery, que é a HBO Max.

A sinopse do filme da Barbie que está sendo trabalhada para o público brasileiro é a seguinte: “No mundo mágico das Barbies, “Barbieland”, uma das bonecas começa a perceber que não se encaixa como as outras. Depois de ser expulsa, ela parte para uma aventura no “mundo real”, onde descobre que a beleza está no interior de cada um.”

‘Barbie’ zoa a Mattel, mas investidores não devem se importar

A Mattel, dona da marca Barbie, fez parte das conversas para a produção do filme. Contudo, prepare-se para se questionar como esse roteiro foi aprovado dessa maneira pela empresa. Ao longo das duas horas do longa, a companhia é ironizada um bom tanto de vezes. Além disso, o seu suposto papel em disseminar um padrão de beleza às mulheres é colocado na mesa.

No entanto, os gestores da companhia parecem não estar preocupados com isso. “Nós estamos animados com essa criação de Greta Gerwig, que é uma das criadoras mais prolíficas da nossa geração, e a interpretação dela, uma visão moderna e atual da marca Barbie”, disse o CEO Ynon Kreiz em entrevista à CNBC.

Nos últimos três meses, as ações da Mattel subiram 22,38% na Nasdaq impulsionadas pelo hype global a respeito do filme, e analistas já projetam que a empresa de fato deva sair no lucro com tudo isso.

Analista projeta valorização das ações

Drew Crum, analista da Stifel Nicolaus, estimou na terça-feira (18) que o filme pode faturar entre US$ 450 milhões e US$ 550 milhões (entre R$ 2,15 bilhões e R$ 2,63 bilhões, pela cotação atual). Crum estima que as ações da empresa subam ainda mais. Ele projeta US$ 26 como preço-alvo dos papeis, cotados em US$ 21,23 hoje.

No cenário mais pessimista, o analista estima que a Mattel já veria um aumento de US$ 0,10 no lucro por ação ao final do ano. O dinheiro viria do aumento da venda de bonecas e produtos licenciados que usam a marca Barbie.

Apesar do filme ter estreado só essa semana, teremos um spoiler de se as expectativas em torno do longa provocaram algum ganho para a Mattel no próximo dia 26, quando a empresa divulga seus resultados do segundo trimestre de 2023.

Filme da Barbie vai dar lucro?

Ao que tudo indica sim. Primeiro porque o orçamento estimado em US$ 100 milhões (R$ 480 milhões) não é o mais alto entre os grandes lançamentos. Mesmo com mais algumas dezenas de milhões investidos em publicidade, o valor estimado para o lucro seria mais do que suficiente para fazer o filme fechar no verde — ou no rosa, melhor dizendo.

Outra aposta recente do estúdio, “The Flash” frustrou. O filme do herói vivido por Ezra Miller custou o dobro, em torno de US$ 200 milhões, e não chegou a US$ 300 milhões de faturamento. Aparentemente quem vai salvar o dia é a Barbie.