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Gustavo Cerbasi em entrevista à Inteligência Financeira: ‘O brasileiro ainda não escolhe bem seus investimentos’
Gustavo Cerbasi é um dos principais nomes do Brasil quando se fala em educação financeira. Autor de 16 livros sobre os temas de finanças, investimentos e planejamento financeiro, ele é também um dos principais influenciadores digitais do país.
Seu perfil @gustavocerbasi no Instagram tem mais de 1,5 milhão de seguidores. Cerbasi, ao lado de nomes como Nathalia Arcuri (@mepoupenaweb), Charles Mendlowicz (@charles.wicz) e Thiago Nigro (@thiago.nigro), forma um grupo especial de ‘influencers’ de finanças chamado pela Anbima de ‘produtores de conteúdo.’
Essa tropa de elite de conteúdo de investimentos, junto com grupos menores (classificados pela Anbima como analistas, traders, investidores independentes e especialistas), fala nas redes sociais para uma audiência superior a 91 milhões de seguidores. O dado é de um estudo divulgado em fevereiro pela Anbima.
Parte do sucesso de Cerbasi nas redes sociais é explicado pelo fato dele, a exemplo de outros ‘infuencers’, não ser um teórico das finanças. Cerbasi conquistou a sua independência financeira em 2005. Significa que ele pode manter o estilo de vida que leva independentemente de trabalhar ou não. As despesas de Cerbasi são pagas pelos rendimentos do seu patrimônio investido. “Poderia parar de trabalhar? Sim, poderia. Desde 2005, só trabalho com o que faz sentido pra mim, com o que me desperta paixão.”
Em entrevista à Inteligência Financeira, Cerbasi fala dos seus 22 anos de carreira, da transição de professor de MBA para a de influencer digital e empreendedor. Há duas semanas, ele anunciou que se tornou sócio da Super Rico, plataforma de assinatura de programas de planejamento financeiro. Antes, ele empreendeu um voo solo, oferecendo cursos online desde 2016. Também esteve junto de um dos grandes bancos de investimentos do país.
Cerbasi fala dos desafios de investir: “O brasileiro ainda não escolhe bem seus investimentos.” Conta como fazer para mitigar as dificuldades de construir o próprio patrimônio. E arrisca previsões para a Bolsa (B3) e a Renda Fixa. Confira à seguir.
De professor a ‘influencer’ de finanças
O Cerbasi que boa parte das pessoas que me segue nas redes sociais conhece nasceu escritor. Antes disso, no entanto, eu era professor. Nos meus primeiros quatro ou cinco anos de carreira eu só lecionei em MBAs para quem podia pagar 40, 45 mil reais. Minhas aulas tinham uma certa qualidade, eu era premiado nos cursos que lecionava.
Mas eu ficava pensando o quanto poderia transformar a vida de quem não podia pagar 45 mil reais por um curso completo. Comecei a criar meios de multiplicar o meu conhecimento, sem que a minha agenda de trabalho se multiplicasse na mesma proporção. Desde então, a cada ano, a partir de 2003, escrevi um livro e criei uma rotina de, com o lançamento do livro, deixar uma parte da agenda dedicada aos pedidos de entrevistas e palestras, que eu sequer sabia se viriam. Os pedidos vieram.
No começo, fiz umas 100, 150 palestras não remuneradas. Uma ou outra foi paga com um valor simbólico. Porém, fui construindo minha reputação. Ficou claro para mim que com essa lógica de trabalho, produzindo um conteúdo mais acessível, muitos deles gratuitos, criando minha reputação [como educador e especialista em planejamento financeiro e finanças], mais pessoas poderiam escolher pagar por um conteúdo de qualidade.
O fato de ter feito um trabalho tão honesto, uma entrega tão efetiva, fez com que a minha reputação crescesse muito, e foi assim com os livros, inicialmente, que comecei a multiplicar conhecimento sobre planejamento, finanças e investimentos.
Os cursos online foram um projeto de quase nove dígitos de faturamento e impacto muito grande. Juntos, eles tiveram mais de 40 mil alunos pagantes.”
Voo digital
Em 2016, comecei um projeto bastante ambicioso de estar mais presente no digital e nas redes sociais. Lancei, então, dois cursos online que foram inegavelmente um grande sucesso, o curso Inteligência Financeira e o curso Equilíbrio Financeiro. Cada um deles tinha duas turmas por ano. Os cursos online foram um projeto de quase nove dígitos de faturamento e impacto muito grande. Juntos, eles tiveram mais de 40 mil alunos pagantes.
Ao mesmo tempo, este projeto tomou minha agenda de uma maneira que eu não imaginava. Entendo que o EAD (ensino à distância) pode ser gratuito e que ele funcione até certo ponto. Por isso, escolhi fazer diferente do que havia em EAD na época. Ofereci o meu conteúdo de finanças gratuitamente nas redes sociais, buscando faturar indiretamente com publicidade. No curso pago, decidi fazer um programa para ir além do EAD básico. No meu programa, eu orientava o que deveria ser feito e estabelecia um canal direto com os meus alunos, pegando-os pela mão, revisando o planejamento (financeiro) individual e corrigindo cada erro, o que foi muito efetivo para aqueles alunos.
No entanto, esse modelo tomou toda a minha agenda. Por demandar tanto tempo e consumir tanta plataforma (online), o curso exigia uma equipe de retaguarda. E, portanto, era um curso caro. Custava quatro mil reais por pessoa. Era um programa online para uma elite que podia pagar por este valor.
Pausa para estudar o mercado
Em maio (de 2022), eu encerrei o projeto de cursos online. Não encerrei as interações nas redes sociais, pois eu acho que esse é um ativo importante, é a minha forma de comunicar a maneira que penso sobre a vida, as finanças e os investimentos. Desde que encerrei os cursos online, venho recebendo mais ofertas de trabalho e negócios. Passei a avaliar quais seriam as possibilidades de manter o meu legado, de continuar o meu trabalho. Decidi esperar e fui estudar o mercado.
Percebi que o momento atual do ecossistema financeiro é dos assessores de investimento. Há, porém, uma lacuna muito grande a ser preenchida neste segmento. A pessoa (investidor pessoa física) começa a montar um orçamento doméstico, legal, agora ela tem um bom controle financeiro. Mas, e para melhorar esse orçamento? Começam a vir as dúvidas. ‘As decisões (financeiras) até aqui foram inteligentes ou não? Será que financiei a minha casa do jeito mais interessante ou não? Será que meu seguro realmente cobre o que preciso?’
Falta um produto, um serviço, diferente. Algo como se a pessoa pudesse apertar um botão SOS. Algo que a ajude a responder: ‘Está certo o que eu estou fazendo?’ Falta justamente o que eu fazia no meu curso online, mas com escala.
Tem também mais gente procurando por carteiras de investimento mais sofisticadas. E aí as questões que surgem são, por exemplo: ‘Será que a minha carteira de investimentos me protege de crises?’ No mercado já existem plataformas ou aplicativos de orçamento doméstico, simuladores de investimento, simulador de carteira, simulador de previdência, comparador de compras à vista e a prazo.
Toda parte divertida, a parte ‘fun’ da educação financeira, está disponível na forma de aplicativos que você pode ter no seu telefone. Com eles, é possível aprender a ter um comportamento financeiro mais saudável. Mas as pessoas querem mais.
Falta um produto, um serviço, diferente. Algo como se a pessoa pudesse apertar um botão SOS. Algo que a ajude a responder: “Está certo o que eu estou fazendo?” Falta justamente o que eu fazia no meu curso online, mas com escala.
Canto da sereia
Recebi propostas sedutoras para me associar a negócios de vendas de produtos financeiros. No entanto, já havia uma sementinha de negócios muito bem plantada em uma plataforma de planejamento financeiro, a Super Rico, que conecta planejadores financeiros a pessoas que querem se planejar. Decidi me tornar sócio da Super Rico.
A proposta da Super Rico é democratizar o serviço de orientação financeira para as famílias, por meio de ferramentas online gratuitas. [A Super Rico oferece assinatura de planos de planejamento financeiro. O plano gratuito dá acesso apenas a conteúdos e ferramentas. Os planos pagos, cujo mais simples custa R$ 39,90 e o mais completo sai por R$ 79,90, permite receber aconselhamento com um planejador financeiro.]
Nossa ambição é se tornar a Ameriprise do Brasil. A Ameriprise, nossa referência, é uma empresa americana que administra mais de um trilhão e meio de dólares de patrimônio e orienta dezenas e milhares de famílias, por meio de sete mil planejadores financeiros.
Tecnologia nas finanças
A tecnologia [nas finanças] funciona até certo ponto. Eu consigo ‘massificar’ [transmitir o conhecimento sobre investimentos para muita gente] quando estou atendendo um grupo de pessoas que é homogêneo. Quando tenho pessoas com níveis diferentes de renda, conhecimento, apetite por risco e relacionamento com instituições financeiras diferentes, o atendimento precisa de uma seletividade. O fator humano passa a ser muito importante. Até porque a racionalidade do planejamento vai até um certo ponto.
Então, neste momento, estou dando um passo atrás, no sentido de que não vou estar na linha de frente de atuação. Não sou mais a pessoa que vai pegar na mão do cliente. Queremos ter um exército de planejadores que vai utilizar o meu método, por meio de uma plataforma digital, para transmitir às famílias uma maneira equilibrada de lidar com o dinheiro. Minha ambição é fazer com que o brasileiro seja, na média, bem mais rico do que é hoje.
O que eu quero dizer com ‘Enriquecer é uma questão de escolha’ é que a qualidade das suas escolhas vai determinar onde você estará daqui cinco, dez, 20, 30 anos.”
Enriquecer é mesmo uma questão de escolha?
[Cerbasi usa frequentemente uma frase que virou uma espécie de bordão: “Enriquecer é uma questão de escolha”. Perguntei se ele acredita mesmo nisso.]Esta expressão parece muito arrogante. O que eu quero dizer com ‘Enriquecer é uma questão de escolha’ é que a qualidade das suas escolhas vai determinar onde você estará daqui cinco, dez, 20, 30 anos. Não estou falando só de finanças, são escolhas de carreira, são escolhas de cuidado ou não cuidado com a saúde, são escolhas de relacionamento, são escolhas de como experimentar a vida, como eu usufruo das minhas férias.
A minha vida é bastante aberta, as pessoas acompanham minha família nas redes sociais e as pessoas sabem como é que eu escolho as minhas férias. Eu não escolho as minhas férias simplesmente porque eu posso pagar um hotel de luxo. Eu modelo minhas férias para que a gente aproveite o momento que eu considero muito especial, muito raro de ter só eu e minha família. Geralmente passamos de 15 a 20 dias em um cenário diferente, em que temos a oportunidade de aprender e crescer. Minhas férias são educativas, minhas férias envolvem muita atividade, minhas férias exigem que na volta delas eu descanse durante uns 15 dias para poder ter condições de retomar o trabalho.
São as escolhas que fazemos que vão determinar onde cada pessoa vai estar no futuro. Para você ter uma ideia, eu tenho hoje uma lógica para decidir se aceito ou não um trabalho que não se baseia no quanto me pagam, há muitos anos eu tenho recusado trabalhos que me pagam muito bem para ter trabalhos que têm mais significado para mim.
Escolhas inteligentes
Digamos que eu tenha três ofertas de palestras na minha frente, eu uso um tripé de decisão: 1. Quanto estão me pagando; 2. Qual será a experiência que eu vou ter nesse evento? É um lugar que eu não conheço? Quem é e qual o tamanho do público? O ambiente é encantador? Enfim, posso levar minha família? e 3. Além das finanças e da experiência, eu considero o equilíbrio: o quanto estar nesse evento vai prejudicar meu sono. A logística é complicada? Vou perder uma competição esportiva dos meus filhos? Vou ter que prejudicar minha família, cancelando, por exemplo um feriado em família?
Tem muito trabalho que eu aceito sem remuneração porque a experiência é fantástica e porque consigo conciliar essa experiência com o dia a dia da minha família, sem atrapalhar a rotina de ninguém. Sem atrapalhar a minha rotina de cuidados pessoais, cuidados com a minha saúde. Então, tudo isso são escolhas.
Independência financeira
Obviamente, quando eu conquistei a minha independência financeira passei a ter maior liberdade de escolha. [Segundo Cerbasi, independência financeira é quando você pode manter o seu estilo de vida independentemente de trabalhar ou não, e as suas despesas são cobertas pelo rendimento do seu patrimônio.]
O dia que eu soube, lá no meu planejamento financeiro, que eu tinha um patrimônio que rendia o que eu precisava para pagar minhas contas mensais a primeira reflexão que fiz foi: ‘Posso parar de trabalhar?’. Se a minha vida custa X por mês e o meu patrimônio rende X por mês, posso parar de trabalhar? Isso aconteceu em 2005. O que aconteceu foi que a partir de 2005 eu só passei a trabalhar com algo que tinha muito sentido para mim, algo que me apaixonasse, algo que me fizesse sair da cama pulando de vontade de trabalhar. Qual que é a consequência disso?
Quem faz um trabalho com muita vontade é percebido. As pessoas vão dizer: ‘Esse cara é um gênio.’ Não, não é um gênio, só tenho muita paixão pelo que faço. Tudo isso é fruto de escolhas, que nasceram de uma primeira decisão de fazer um sacrifício por um período curto da minha vida para alcançar mais rapidamente a independência financeira.
O brasileiro não escolhe bem seus investimentos, mesmo tendo uma oferta muito boa de onde investir e condições de ser bem assessorado.”
O brasileiro faz boas decisões de investimento?
O brasileiro não escolhe bem seus investimentos, mesmo tendo uma oferta muito boa de onde investir e condições de ser bem assessorado. O brasileiro tem uma educação muito rasa e é imaturo nos temas de finanças e investimentos. Isso faz com que caia muito facilmente em armadilhas.
Imagine que uma pessoa comece a estudar sobre oportunidades de investimento e ouve de um influenciador digital ou educador financeiro sério: “Pelo seu perfil, você poderia ter 20% de seu patrimônio em renda variável.” Só que a pessoa não tem o menor conhecimento, o menor histórico, não tem com quem conversar sobre essa novidade. A pessoa vai para a internet e pesquisa sobre renda variável. É aí que acontece o grande pecado da vida moderna. Ao buscar na internet pelo tema renda variável, a pessoa começa a ser bombardeada por infinitas formas de publicidade sobre investimentos.
Os resultados de busca podem até aparecer com o nome renda variável, mas vão vir disfarçados. Na verdade, são pirâmides financeiras, são investimentos de nível de risco altíssimo, vindos de charlatães. Alguns dos resultados podem até ser investimentos razoáveis em modalidades diversas como criptoativos, ‘small caps’ [ações de empresas consideradas pequenas, se comparadas com as gigantes do mercado de ações, conhecidas como blue chips], fundos imobiliários, mas a maneira como a pessoa recebe soa quase sempre como uma falsa promessa, uma grande armadilha.
Em resumo, o brasileiro cai muito facilmente em armadilhas por ser imaturo.
Mentalidade de retorno rápido
O brasileiro é também imediatista. Mas aí já não é a mesma reflexão sobre por que que o brasileiro investe mal. O imediatismo tem mais a ver com essa febre da educação financeira recente que nós tivemos, com muitos jovens influenciadores dizendo que viraram milionários em pouquíssimo tempo e vão passar a receita para qualquer um.
Esse canto da sereia criou a ideia de que qualquer pessoa poderia falar sobre finanças, não importa se eu tenho ‘background’, se eu tenho histórico ou não. Se eu repetir algumas notícias eu dou visibilidade ao meu canal na internet, eu vou poder fazer recomendações. É isso que nós estamos vivendo, eu diria que estávamos vivendo, já começa a haver uma depuração nesse mercado de educação e influência financeira. As pessoas já começam a perceber que aquela promessa mágica de enriquecer em pouquíssimo tempo é charlatanismo.
‘Dedo podre’ para investir?
O investidor brasileiro escolhe mal porque as técnicas que vêm sendo usadas para ‘educar’ são técnicas de persuasão e entretenimento. Uma profissional que eu respeito muito, a Nathalia Arcuri, durante muito tempo se auto-entitulou ‘criadora de entretenimento financeiro’.
Nada de errado com isso, desde que a sua ambição seja atrair uma audiência, organizar esta audiência, e no próximo patamar busca-se um especialista para aprofundar o conhecimento [financeiro]. Foi exatamente o que ela fez. Esse modelo do entretenimento vai mudar? Eu tenho certeza de que vai mudar. A educação financeira passou a fazer parte do currículo escolar obrigatório brasileiro em 2020. A nova geração está sendo preparada para daqui a cinco, dez anos consumir melhor, de forma mais equilibrada, e a investir melhor também.
Nós temos grandes transformações vindo para a sociedade não por atos de governo, não por leis e regras que a sociedade está impondo, mas simplesmente porque está se falando mais sobre longevidade, empreendedorismo, como usar o dinheiro de maneira recompensadora, de maneira a ter mais experiencia na vida.
Temos um Índice Bovespa que não é o índice das empresas mais importantes do país. É o índice das empresas mais negociadas. Então, o Índice Bovespa inclui empresas especulativas, inclui empresas com qualidade limitada.”
E a Bolsa de valores, tem jeito?
A Bolsa tem jeito. O que acontece na Bolsa é que na verdade nós temos um mercado em amadurecimento, nós temos poucas empresas realmente boas. Temos um Índice Bovespa que não é o índice das empresas mais importantes do país. É o índice das empresas mais negociadas. Então o Índice Bovespa inclui empresas especulativas, inclui empresas com qualidade limitada.
Onde que a gente percebe falhas ou fragilidades no Índice Bovespa? Primeiro, quando a pessoa investe no índice, ela não está entendendo que está comprando também empresas de má qualidade. Falta ali talvez uma seleção baseada em fundamentos, baseada em potencial de rentabilidade.
Quando se faz uma seleção baseada em potencial de rentabilidade, eu não posso escolher apenas empresas com maior potencial, porque todo potencial de rentabilidade funciona dentro de um cenário e os cenários mudam no Brasil.
Se tem alguma coisa que não funciona no Brasil é o cenário de longo prazo. As empresas continuam funcionando com frustrações e ajustes, então frustrou o investidor o preço cai, mas tem que entender que cenários podem mudar. Então, o erro comum que o brasileiro comete é pegar no site de qualquer corretora de valores uma lista de dez ações recomendadas, uma carteira recomendada, que às vezes traz um ‘upside’ ou estimativa de alta.
Por que que a corretora está recomendando uma empresa que tem uma perda potencial de 5%? Porque aquilo é oferecido como uma carteira diversificada, não como uma lista de possíveis empresas rentáveis. Não de trata de um balcão para escolher azeitona, palmito, queijo. A pessoa tem que comprar aquilo como um bloco.
Então, o pecado do brasileiro está em investir sem conhecer bem o ativo ou concentrar muito de suas escolhas num único perfil de empresa, para um único tipo de cenário. Os cenários mudam em eleições, em crises internacionais, e com isso o investidor perde dinheiro.
Como lidar com o risco ao investir?
Uma parte das pessoas se engana com relação ao seu perfil de risco. Minha certeza é que quando isso acontece a pessoa tem um apetite para o planejamento ainda pouco desenvolvido, porque não importa qual seja o grau de risco que a pessoa assuma, toda carteira de investimento tem que levar em consideração que crises podem vir, crises da economia e crises pessoais. Então o que falta ao investidor brasileiro não é apetite ao risco. O que falta é a consciência de que com planejamento a gente consegue blindar os investimentos contra crises.
Renda fixa é a salvação
Não, a renda fixa não é salvação. A renda fixa alterna momentos de alegria com a renda variável. Quanto mais intensa a crise, maior será a participação da renda fixa. Ela também acaba sendo uma espécie de proteção para os planos de mais curto e médio prazo.
Como readequar a carteira?
A revisão da carteira sempre deve ser com base em fundamentos. Se eu percebi que perdi muito dinheiro, devo me envolver mais com assessores de investimento, me envolver mais com recomendações qualificadas, talvez concentrar minha carteira em renda fixa por um período, enquanto amadureço a minha capacidade de entender quais são os ativos que vão surfar num período de recuperação da economia.
É estranho que os investidores menos experientes sempre se alternam entre o otimismo e o pessimismo. E, no pessimismo, tendam a ser mais conservadores. Talvez no cenário pessimista, onde eu possa ter maiores lucros com posições vendidas, com ativos de renda fixa defensivos, consiga comprar ações e fundos imobiliários mais baratos, que vão me trazer mais alegrias no médio prazo.
Atenção aos momentos de pessimismo. Quando parte das pessoas foge dos investimentos é a hora de comprar produtos melhores.
A revisão da carteira sempre deve ser com base em fundamentos.”
Como se preparar para o futuro?
Além de cuidar bem do presente, com uma boa reserva de emergência, a gente pode blindar o nosso futuro escolhendo um bom fundo de previdência, um bom produto de previdência. Previdência é um produto que ficou um pouco queimado no mercado porque quando começaram a surgir os produtos mais inteligentes, fundos multimercado, fundos de ações mais acessíveis, as pessoas se perguntaram: “Puxa, mas com um pouco mais de flexibilidade no curto e médio prazo, eu consigo resultados melhores que a previdência?”.
O brasileiro ainda não está habituado a fazer cálculos de benefício fiscal, de economia de imposto de renda no longo prazo, e está ainda talvez viciado naquela visão de que previdência é pouco eficiente. É uma visão que vem dos tempos em que se cobrava taxa de carregamento, algo que caiu em desuso. Esta visão vem também dos tempos em que a taxa de administração dos fundos de previdência era uma taxa muito mais alta do que a taxa cobrada nos fundos tradicionais.
Com o advento dos bancos de investimento, a capitalização dos bancos de investimento, a concorrência aumentou bastante. Essa desigualdade de taxas diminuiu bastante. Com o ‘open finance’, eu entendo que essa competição será mais acirrada e que fundos de previdência terão custos equivalentes aos demais fundos. Quem parar para pesquisar agora vai encontrar na previdência produtos bem interessantes. Um bom produto de previdência é uma bela forma de cuidar do futuro.
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