Ações defensivas: Saiba como investir nos ciclos econômicos do Brasil e dos EUA

Conheça os setores que estão entre aqueles com melhor desempenho na bolsa, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos
Pontos-chave:
  • Economia americana segue crescendo, mas a um ritmo menor e com chances de recessão
  • Setores afetados pela pandemia têm mais espaço para recuperação

Os ciclos econômicos e do mercado financeiro de um país não andam exatamente de mãos dadas, mas as Bolsas costumam antecipar movimentos que devem ser vistos na sequência – de 4 a 6 meses depois – no “mundo real”. No caso do Brasil, especialmente, importa tanto o momento econômico daqui quanto de países como Estados Unidos e China.

E, além de tudo isso, ainda temos no Brasil o aumento dos juros, inflação, guerra, eleições polarizadas. É hora de mexer nos investimentos? Ou é melhor ignorar tudo isso? Afinal, qual é o melhor momento para repensar a carteira de investimentos? Veja o que diz Márcio Bandeira, assessor da Guide Investimentos, na Entrevista da Semana logo abaixo:

Economia brasileira no fim da desaceleração

Para a equipe de análise da Guide, a economia brasileira se aproxima do fim do ciclo de desaceleração, enquanto os Estados Unidos e demais grandes economias estão pisando no freio, o que demanda um ajuste nas carteiras de ações.

“Acreditamos que é hora de começar a adicionar nomes cíclicos domésticos aos portfólios locais”, afirmam os analistas Fernando Siqueira, Rodrigo Crespi, Gabriel Gracia, em relatório. Do outro lado, eles acreditam que é interessante para o investidor a redução de posições em setores cíclicos globais, como energia e materiais básicos. “Nossa visão é que estes setores continuaram tendo desempenho positivo nos últimos meses por conta da inflação elevada”, avaliam.

Para os analistas da Guide, embora a economia brasileira ainda mostre algum crescimento, o mercado financeiro vem em queda há quatro meses, pelo menos, antecipando uma desaceleração no segundo semestre que deve acontecer na esteira dos recorrentes aumentos da inflação e, por consequência, da taxa de juros.

“A economia americana segue crescendo, mas a um ritmo menor e com chances reais de recessão, o que vem sendo antecipado pelo principal índice americano, o S&P 500. No Brasil, a desaceleração foi mais forte no segundo semestre de 2021 e já estamos perto do fim do período de desaceleração. Os dados mais recentes mostram inclusive recuperação do crescimento do Brasil”, afirmam os analistas da Guide.

Segundo projeções dos economistas do JP Morgan publicadas em 23 de junho, a economia americana têm 35% de chances de entrar em uma recessão no próximo ano. Mesmo com a economia atualmente em crescimento, esse movimento tem ficado mais moderado diante dos aumentos das taxas de juros realizados pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano).

Em quais ações investir?

Na antecipação de uma desaceleração econômica, como é esperada para os Estados Unidos, os investidores costumam buscar ações de setores mais defensivos, como o de energia elétrica, saneamento, telecomunicações, saúde e empresas de varejo não-cíclicas, como supermercados, farmácias e empresas de alimentos.

As ações indicadas pela Guide no campo defensivo são Alupar e Energias do Brasil, do setor de energia, Tim, de telecomunicações, JBS, Assaí, Ambev e SLC Agrícola, em consumo e varejo, e Odontoprev, em saúde.

Setores afetados pela pandemia têm mais chances de crescer

Para surfar a retomada do ciclo doméstico, a preferência é por Grupo Soma, Vivara e Lojas Renner, em consumo e varejo, Movida e CVC, em transportes, Locaweb, em tecnologia, Yduqs, em educação, Multiplan, em shoppings e Itaú Unibanco, em bancos.

“Os setores mais afetados pela pandemia têm mais espaço para recuperação, assim como as small caps tendem a performar melhor com a economia crescendo”, afirma Fernando Siqueira, executivo responsável pela área de análise da Guide. As empresas como menor valor de mercado – de US$ 300 milhões a US$ 2 bilhões – são chamadas de small caps.

Já a antecipação do início de uma recuperação econômica pede a inclusão na carteira de ações de setores mais cíclicos como varejo, transportes e tecnologia. “Outro ponto comumente aceito é que no final da fase de expansão, setores como energia (petróleo e combustíveis) e materiais básicos (siderurgia e mineração por exemplo) tem um desempenho melhor”, explicam os analistas da Guide.

Segundo eles, o que explica essa movimentação é a percepção dos investidores de que os setores de materiais básicos e de energia servem de proteção contra inflação e, por isso, é comum que essas ações mostrem desempenho mais forte no final da fase de expansão econômica.

Atualmente, esses setores estão entre aqueles com melhor desempenho na bolsa, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. “Em nossa visão, isto se deve à inflação persistentemente alta. Contudo, acreditamos que a desaceleração da economia americana (e global) nos próximos trimestres deve tirar fôlego deste grupo”, dizem os analistas.

Onde colocar o pé no freio?

Após as fortes altas dos papéis cíclicos globais, como dos setores de materiais básicos e de energia, os analistas da Guide acreditam que é hora de o investidor ser mais seletivo e reduzir sua eventual posição nesses segmentos. Isso não significa sair vendendo tudo e zerar posições, segundo Fernando Siqueira, a menos que a carteira do investidor esteja muito concentrada nesses setores.

Ainda assim, alguns papéis ainda valem a pena e a predileção é por Petrobras e PetroRio, em energia, e Vale e Gerdau, em materiais básicos.