Análise da Semana: Lula faz sucesso na COP27, mas transição segue contaminada por PEC e discurso econômico

Enquanto isso, os ministros do Supremo continuam sob intenso ataque dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, diz Fábio Zambeli, do JOTA

A transição segue contaminada pelo debate político em torno da PEC que vai permitir que o governo eleito cumpra as promessas sociais feitas durante a campanha.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez sucesso internacional com seu discurso na Cúpula do Clima, no Egito, recolocando o Brasil no debate global sobre as mudanças climáticas e o meio ambiente, mas voltou a criar ruído interno com uma retórica de palanque que segue prevalecendo nas suas falas voltadas para a classe política brasileira.

A proposta que tenta tirar do teto de gastos o Bolsa Família de forma indefinida e ainda pede mais recursos para investimentos públicos fora das regras fiscais derrubou a Bolsa e elevou a cotação do dólar. Diante da reação, Lula pediu “paciência” e reiterou a intenção de promover uma gestão com responsabilidade social em primeiro plano em relação à responsabilidade fiscal.

A PEC que pede licença para gastar junto com essa retórica beligerante de Lula ainda estão sendo digeridas pelos agentes econômicos e pela classe política. É natural que o Congresso enxugue a PEC, mas enquanto o presidente eleito não definir sua equipe econômica, sobretudo o Ministério da Fazenda, a turbulência nos sinais emitidos pelo novo governo deve seguir.

Enquanto isso, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) continuam sob intenso ataque dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Em evento em Nova York, vários deles foram abordados por manifestantes com palavras de ordem e ofensas, o que gerou uma resposta da presidente da Corte, Rosa Weber.

No campo das ações, o STF determinou bloqueios de contas de 43 empresas e empresários que estariam financiando as manifestações no entorno de quartéis e que voltaram a fechar rodovias em todo o país.

Foi uma resposta do ministro Alexandre de Moraes à carta assinada pelos comandantes das Forças Armadas, que além de defender a pauta dos protestos, que é notadamente antidemocrática, acusou de forma indireta o Judiciário de cercear o direito à manifestação.

E tudo isso em meio ao longo silêncio de Bolsonaro, que tem alegado problemas de saúde para estar ausente de compromissos oficiais e até mesmo de suas sempre ativas redes sociais.

(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)