Por que a bolsa brasileira subiu um dia depois dos atos golpistas em Brasília?

Para especialistas, a explicação vem da frieza do mercado em ler o cenário

Um dia após uma tentativa de golpe contra a democracia em Brasília, é possível afirmar que o mercado financeiro teve uma reação tranquila.

A bolsa brasileira operou a maior parte do dia no azul e depois de uma oscilação no final do dia, fechou em ligeira alta, de 0,15%. O resultado teve a influencia do exterior, com as bolsas no exterior apontando algum sinal de otimismo com a expectativa de uma diminuição do aperto do Fed nos EUA e com a abertura da China depois de um arrefecimento das medidas anti-covid.

Por que a bolsa foi bem hoje?

Racionalidade e análise técnica dos fatos são apontadas como responsáveis pela reação calma do mercado financeiro ante os atos golpistas que chamaram atenção do mundo no domingo (8).

“As manifestações de ontem não geram ruptura entre os poderes, mas os deixam ainda mais unidos”, analisa Alison Correia, CEO da TOP Gain Research. Ele lembra que o J.P. Morgan entende que os atos devem ter o efeito contrário ao desejado por bolsonaristas e fortaleça o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Correia afirma que o episódio “não muda a expectativa do mercado em relação às políticas públicas do novo governo” e que há “racionalidade de gestores e investidores” para tomar decisão.

Além disso, o executivo acredita que o mercado já “digeriu” o fato de termos um governo de esquerda no Brasil atualmente.

Enfraquecimento dos ataques

Fernando Bresciani, analista de investimentos do AndBank, avalia que os ataques não terão força no longo prazo: “não é o sentimento da população brasileira, são movimentos isolados, não há quebra-quebra em todas as capitais”.

Há ainda a avaliação de que uma tentativa de golpe frustrada ajuda, posteriormente, na estabilidade do país, já que enfraquece o movimento que atentou contra a democracia no Brasil.

“Para o mercado não é interessante ter golpe, nem instabilidade política. Mercado abriu em queda por conta das instabilidades. O que ele quer é a estabilidade”, disse Mara Luquet, jornalista e colunista da Inteligência Financeira, em live promovida pela IF com o JOTA na manhã desta segunda-feira (9).

Invasão ao Capitólio

Os atos golpistas de ontem foram comparados à invasão ao Capitólio, nos Estados Unidos.

O episódio, que completou dois anos na última sexta-feira e marcou a história americana como um dos maiores atentados contra a democracia, resultou na morte de cinco pessoas e prisão de pelo menos outras 950.

Porém, Alison Correia diz que o mercado brasileiro não se espelhou no que aconteceu nos EUA: “lá foi muito pior, com mortes, inclusive. O que vemos aqui é um descolamento (ideológico) na leitura dos investidores. Existe racionalidade”.

No dia da invasão ao capitólio, uma quarta-feira, o Dow Jones avançou 1,4% e o S&P 500 subiu 0,57%.

Exterior otimista

Além da análise de que o movimento ocorrido no domingo foi ruim para o bolsonarismo, os especialistas explicam que as bolsas do exterior puxam o Ibovespa para o azul hoje.

A China retomou as viagens sem a obrigatoriedade de quarentena no último fim de semana após quase três anos de restrições. O preço do petróleo subiu com a reabertura e impactou positivamente a bolsa brasileira.

Além disso, os principais índices acionários dos Estados Unidos e Europa subiram, ajudando o mercado brasileiro, que tem outros países como referência.

“A China voltando, ao modo dela, significa que ao longo de 2023, passados os surtos de covid-19, as coisas vão melhorar”, explica Bresciani.