O que a crise do Lehman Brothers tem a ver com o risco de faltar gás na Europa?

Parte do continente declarou 'emergência inicial' com as ameaças da Rússia de cortar o fornecimento do produto

A Alemanha alertou que as ações da Rússia para reduzir o fornecimento de gás natural na Europa podem provocar um colapso nos mercados de energia, e fez um paralelo com o papel do banco Lehman Brothers para a crise financeira de 2008.

O ministro da Economia, Robert Habeck, disse nesta quinta-feira que os fornecedores de energia estão acumulando prejuízos ao serem forçados a cobrir os altos preços, e que isso traz o perigo de um efeito de transbordamento para as concessionárias locais e seus clientes, incluindo consumidores e empresas.

“Se esse prejuízo ficar tão grande que eles não possam mais aguentar, todo o mercado corre o risco de entrar em colapso em algum momento”, disse Habeck em uma entrevista coletiva. “Então podemos ter um efeito Lehman no setor de energia.”

A maior economia da Europa enfrenta a perspectiva de empresas e consumidores ficarem sem energia. Durante meses a Rússia vem reduzindo gradualmente o fornecimento de gás, em aparente retaliação às sanções impostas pela invasão da Ucrânia. O impasse aumentou na semana passada após grandes cortes no principal gasoduto para a Alemanha, colocando em risco as reservas do país para o inverno.

Habeck disse que isso é um sinal para a Europa cortar o consumo de energia e que está adiando os ajustes de preços para ver como o mercado reage.

“Será uma estrada tortuosa que teremos que percorrer como país”, disse ele. “Mesmo que ainda não sintamos, estamos em uma crise de gás.”

Os contratos futuros de gás da Holanda, a referência europeia, subiram até 7,7%, para uma alta de uma semana de 137 euros por megawatt-hora. O preço dos contratos futuros subiram mais de 50% desde que a gigante estatal de gás Gazprom cortou o fluxo no gasoduto Nord Stream em cerca de 60%.

A Alemanha, que depende da Rússia para mais da metade do gás usado no país, anunciou que o país está no segundo estágio de três de seu plano de crise de energia.

“O risco de uma interrupção total do gás agora é mais real do que nunca”, disse Habeck. “Tudo isso faz parte da estratégia da Rússia para minar nossa união.”

Habeck disse que a decisão da Rússia de cortar as entregas de gás através do gasoduto Nord Stream torna praticamente impossível garantir reservas de gás suficientes para o inverno sem medidas adicionais.

Ele indicou que está preocupado que o gasoduto possa não retornar à capacidade normal após um período de manutenção de 10 dias que começa em 11 de julho. A Alemanha está correndo para encher seus reservatórios de gás. As reservas estão atualmente em torno de 58%, e as empresas de energia estão tentando atingir uma meta imposta pelo governo de 90% da capacidade até novembro.

A taxa de preenchimento diário dos reservatórios caiu para cerca de metade na quarta-feira para o nível mais baixo desde o início de junho, segundo dados do regulador de rede de gás da Alemanha, a BNetzA. Nesse ritmo, seriam necessários mais de 100 dias para atingir a meta, o suficiente para que o país entre no inverno com gás o suficiente

Parte do continente em alerta

Dez países da União Europeia declararam emergência inicial de gás natural após o corte no fluxo de fornecimento de combustível pela Rússia, segundo o chefe da Política Climática da UE, Frans Timmermans.

O aviso de emergência inicial é o primeiro de três estágios do protocolo de crise do bloco europeu. Timmermans não detalhou todos os países que já acionaram o aviso, mas disse que Alemanha, Itália e Suécia estão na lista.

Desde a semana passada a Rússia vem diminuindo o fornecimento de gás para o resto da Europa, alegando falta de peças de manutenção para o gasoduto Nord Stream 1, cujo fluxo de envio está em 40% atualmente. O país já interrompeu o fornecimento para Polônia, Bulgária, Dinamarca, Finlândia e Holanda por terem se recusado a aceitar o novo método de pagamento imposto por Moscou.

“O risco da interrupção total de gás é mais real do que nunca”, disse Timmermans, que voltou a acusar Putin de usar a energia como uma arma. “Ele não será capaz de nos dividir e vamos garantir que a Ucrânia vai sair desta guerra como um país independente, capaz de tomar suas próprias decisões”.

Antes da guerra, a Rússia era responsável pelo fornecimento de 40% do gás natural usado por países da UE.

No programa de emergência da UA, a fase de “emergência inicial” se foca em monitorar a oferta. Já a fase “alarmante” permite que as concessionárias repassem preços altos aos consumidores e ajudem a diminuir a demanda. O nível de “emergência” permite que os governos forcem a indústria a reduzir a atividade para economizar gás.