Haddad: caso SVB é ‘grave’ e Fed tomou atitude ‘positiva’ ao resgatar banco

Crise no SVB foi causada por 'questões regulatórias' e maus investimentos, de acordo com Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comentou nesta segunda-feira (13) sobre o colapso do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank nos Estados Unidos. Haddad disse que a crise no sistema bancário americano foi causada por “questões regulatórias” e por maus investimentos de quem geria os ativos do banco. “Quem investiu, investiu muito mal”, observou.

Haddad participou do evento “E agora, Brasil?”, de organização dos jornais Valor Econômico e O Globo.

Ao ser questionado sobre o caso, o ministro disse que passou “o final de semana conversando com autoridade monetária do Brasil”, ressaltando que manteve contato com Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. Ele disse que conversou com dois banqueiros e está em contato com o sistema bancário para “saber sobre a percepção de risco que eles estão tendo”.

“Em primeiro lugar: as informações ainda não são suficientes para sabermos o tamanho do problema”, afirmou Haddad. Ele avaliou que a medida do Fed de garantir a liquidez dos investimentos contidos no SVB foi “positiva” para evitar uma corrida bancária e garantir o dinheiro dos depositantes.

“O SVB é um banco regional que atua no Vale do Silício, e que tem uma carteira descasada”, disse Haddad, ao deixar claro que não teve tempo de checar essa informação. Gestores especulam que a quebra do banco ocorreu pelo carregamento de títulos e bonds do Tesouro Americano de baixa liquidez. Com a alta dos juros imposta pelo Fed, que mantém a taxa anual a 4,75% a 5%, o banco perde valor ao sacar os investimentos.

“Se tivesse que liquidar as operações, o banco estaria em uma situação financeira horrível, porque descasou a carteira”. Haddad afirma que o motivo da quebra foi a má alocação. “Primeiro, porque quem investiu, investiu muito mal. Estava com uma previsão muito errada do que ia acontecer. E segundo, por questões regulatórias”.

“É grave o que aconteceu. Não sei se vai gerar uma crise sistêmica, não vi ninguém tratar esse caso como um Lehman Brothers”, disse o ministro em alusão ao banco que quebrou durante a crise financeira de 2008.

O limite prudencial de aumento de juros sem disrupção na economia americana, diz Haddad, pode coibir a alta de juros pelo Fed.

Reforma tributária vai atingir ‘com mais vigor’ ICMS estadual

O tema principal do evento, no entanto, era a reforma tributária, que o governo tenta aprovar este ano. Haddad destacou que a proposta busca colocar fim “a um enorme conflito distributivo no país”.

As leis atuais, disse Haddad, prejudicam tanto o setor privado, com foco nos investidores, quanto o poder público, tendo em vista a alta litigiosidade no Poder Judiciário. “Com a quantidade de impostos pagos na fase de investimento, você está punindo exportador, as famílias de baixa renda”, declarou.

Do ponto de vista do setor público, destacou, a reforma vai atingir “com mais vigor” o ICMS dos Estados, principalmente em um conflito intrafederativo entre o imposto estadual e o ISS – municipal. “É uma situação caótica, não tem segurança sob vários aspectos.”

“Não é possível estimar o choque de eficiência [que a reforma trará] de tão grande que será”, afirmou o ministro da Fazenda. A reforma nas leis tributárias, disse Haddad, “vai terminar com desonerações arbitrárias, de capitalismo de compadrio, que precisa acabar no Brasil”.