Fed sobe taxa de juros em 0,25 p.p., em linha com as projeções

Jerome Powell sinalizou mais altas nas próximas reuniões

O Federal Reserve (Fed), banco central americano, anunciou, nesta quarta-feira (1), mais uma alta na taxa de juros, de 0,25 ponto percentual, em linha com o que o mercado aguardava. O anúncio foi feito por volta das 16h da tarde (horário de Brasília).

“O Comitê (FOMC) busca alcançar o máximo de emprego e inflação à taxa de 2% no longo prazo. Em apoio a essas metas, o Comitê decidiu aumentar a faixa-alvo para a taxa dos fundos federais de 4,50% a 4,75% por cento”, diz o Fed.

Com o aumento, os EUA estabelecem a maior taxa de juros do país desde 2007.

O acréscimo significa mais uma desaceleração do Fed, que já havia reduzido a força do aumento na última reunião, de 0,75 p.p. para 0,50 p.p.

Alta estava no roteiro

“Elevação de 25 p.p já era esperada. O aumento do emprego tem sido forte nos últimos meses e desemprego segue baixo, o que reforça a necessidade de manutenção de alta de juros”, diz Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos, empresa de educação financeira.

“Os gastos de famílias também estão altos e preços estão pressionados, mostrando que o Fed ainda precisa continuar trabalhando para ajustar a inflação”, completa o analista.

segundo os analistas do banco holandês ING, o Federal Reserve (Fed) não trouxe nenhuma surpresa em sua decisão de elevar a taxa de juros em 0,25 ponto percentual para o intervalo entre 4,5% e 4,75% ao ano.

O Fed reconheceu que “a inflação diminuiu um pouco”, mas ainda não pode declarar a vitória, pois a inflação “continua elevada” em um ambiente onde “os ganhos de empregos foram robustos” e que permanecem. Como resultado, eles mantêm a linha de que “aumentos contínuos na faixa-alvo serão apropriados”.

O banco holandês nota que a expressão “aumentos contínuos” [de juros] implica que o banco central americano fará pelo menos mais duas altas da taxa em mente, com o presidente do Fed, Jerome Powell, falando sobre a possibilidade de “mais alguns” aumentos antes que a política seja suficientemente restritiva. “Temos nossas dúvidas de que isso será alcançado e continuamos a esperar apenas um aumento de 0,25 ponto percentual da taxa março, com uma pausa depois disso.

Mais aumentos no horizonte

O Wall Street Journal afirmou que a autoridade monetária sinaliza a possibilidade de mais aumentos nas próximas reuniões e que o debate é sobre quando será possível estabilizar os juros.

Após a decisão, o CME Group calculava 86,3% de chance para outra alta de 0,25 p.p. em março, mês da próxima decisão do Fed.

Para o fim de 2023, as expectativas com maior probabilidade se dividiam entre juro nas faixas de 4,5% a 4,75% (34,3%), de 4,25% a 4,5% (29,2%) e 4,75% a 5% (18,3%).

Crescimento de gastos e produção mantêm aperto

O comunicado emitido pela autoridade monetária americana apontou que indicadores recentes mostraram um “crescimento modesto do gasto e da produção” e que “os ganhos de empregos foram robustos nos últimos meses e a taxa de desemprego permaneceu baixa”, o que segue impactando os preços. “A inflação diminuiu um pouco, mas continua elevada”, diz a nota.

Guerra também pesa

Além disso, o Fed aponta a guerra da Rússia contra a Ucrânia e “enormes dificuldades humanas e econômicas” como contribuições “para aumentar a incerteza global”, com o comitê “altamente atento aos riscos de inflação,” completa.

Tom mais duro que o esperado

O tom do comunicado de Fed veio mais hawkish (duro) do que o esperado, com a autoridade destacando a responsabilidade e compromisso grande de trazer a inflação nos EUA para a meta de 2%, afirma Cohen, da CNPI.

Além disso, o analista destaca as indicações do banco de que novas altas vão ser necessárias. “Apesar de a inflação ter arrefecido, ainda não está totalmente controlada. Comunicado não impactou o Ibovespa, que já caía antes da decisão de juros”, avalia o Cohen.

Discurso de Powell

Presidente do Fed, Jerome Powell falou em conferência de imprensa que ele e seus colegas de banco “tem muito trabalho para fazer” até reduzir a inflação, e sinalizou mais altas de juros para tentar conter os preços. “Vamos seguir por este curto até que o trabalho (de levar a inflação à meta) seja feito”, completou.

Ele se preocupou em rebater, ainda que indiretamente, as críticas a respeito do aumento dos juros em detrimento do crescimento econômico e do fortalecimento do mercado de trabalho.

“Sem estabilidade de preços, a economia não funciona para ninguém. Além disso, sem estabilidade de preços não atingiremos um mercado de trabalho que beneficie a todos”, afirmou.

Segundo a autoridade monetária, os EUA vivem um superaquecimento do seu mercado de trabalho, com mais vagas do que pode absorver.

“Apesar da desaceleração no crescimento, o mercado de trabalho continua extremamente apertado”, acrescentou. “A demanda por trabalho excede substancialmente o estoque de trabalhadores”, arrematou Powell.