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Exclusivo: Após caso Americanas (AMER3), auditorias atrasam divulgação de balanços e diligências
O caso Americanas (AMER3) produziu abalo sísmico no mercado de capitais brasileiro. E o choque foi sentido até dia 30 de abril pelas auditorias mais famosas entre as grandes empresas da bolsa. Afinal, as “big four” (grupo que inclui Deloitte, PwC, KPMG e Ernst & Young) atrasaram a divulgação de alguns balanços e processos de diligência com trâmites legais envolvendo grandes empresas. O medo é de repetir o escândalo bilionário da varejista.
Fontes ouvidas pela reportagem relatam mais exigências abertas pelas auditorias antes da divulgação de balanços patrimoniais, distribuição de lucros sobre capital próprio e dividendos, além de operações de M&A. “Nunca tive tantas reuniões com membros das auditorias”, disse um advogado de um escritório da Faria Lima.
Auditorias com medo de uma ‘nova Americanas’
O relato exclusivo à Inteligência Financeira é de que, após o caso Americanas, as auditorias estão demorando mais para fecharem as contas dos balanços.
Especialmente em companhias fechadas, as big four não têm apenas demorado mais na análise dos balanços. Isso porque elas também vêm realizado mais exames de diligência prévia na análise de oportunidades de negócios, conhecida como due diligence.
Além disso, três advogados afirmaram à IF que as auditorias estão mais exigentes após o tal caso da Americanas, esticando o prazo para suas próprias análises dos negócios. Isso, de acordo com as fontes, vem da insegurança após o rombo bilionário descoberto pelo ex-CEO da Americanas, Sérgio Rial, em janeiro.
“Estão olhando tudo com mais atenção e menos apressadas”, disse uma fonte. Em uma ocasião, conta, as auditorias se recusaram aferir sobre a distribuição de lucros correntes de um cliente. “Simplesmente por decisão própria” — uma dor de cabeça que afetou o jurídico.
PwC, Deloitte, EY e KPMG rigorosas com varejo e Educação
Dois executivos de uma agência de publicidade que divulga os balanços das S.A. em jornais relataram a mesma dificuldade com as auditorias das big four. Assim, a demora na aprovação dos balanços vem gerando atrito entre os clientes e a própria agência.
“As auditorias estão demorando mais para entregar relatórios dos clientes. Eles têm reclamado, porque isso nos afeta. Esse atraso da auditoria está relacionado com um pente fino em cima dos números, com medo de algum dado maquiado”, diz um dos executivos aludindo ao caso da PwC, que foi responsabilizada imediatamente após a divulgação do caso Americanas.
Inclusive, relata a fonte, os resultados trimestrais de empresas do segmento de varejo e de educação sofreram atrasos no cronograma de divulgação por EY, KPMG, PwC e Deloitte. Dessa forma, a preocupação é com dados maquiados no e-commerce do lado do varejo e com aumento de M&As no setor de Educação.
“O que nos deixa preocupados é sair do cronograma. Alguns estão passando do prazo”, relata o publicitário.
‘Dor de cabeça’ na aquisição da Aesop
Mas a delonga das maiores auditorias do Brasil não se limita aos balanços financeiros. Afinal, ela também contamina o mercado de fusões e aquisições, ou M&A (na sigla em inglês).
Uma fonte familiarizada com a transação da Aesop, marca de cosméticos de luxo da Natura (NTCO3) vendida para a L’Oréal, disse que a aquisição foi “caótica” por conta dos pedidos feitos pela auditoria que avaliou a compra. O acordo efetuou o desembolso de R$ 2,525 bilhões pela compra da marca australiana da Natura.
Como atrasos nos balanços prejudicam o investidor?
O atraso das auditorias prejudica teses de investimento e, em geral, o mercado de capitais brasileiro. É o que avalia Lucas Muraguchi, diretor de administração fiduciária da Ouro Preto Investimentos.
“A transparência é elemento fundamental de toda empresa que abre seu capital na bolsa de valores. E a forma principal com a qual a empresa se comunica com seus investidores é por meio de suas demonstrações financeiras, que devem, de forma objetiva e confiável, atualizar o mercado sobre os resultados da empresa”, diz Muraguchi.
Se essas informações atrasam, a saúde das empresas é colocada sob suspeita, assim como a transparência de divulgação dos documentos. Isso, por sua vez, “reduz a segurança do investidor e afetando o valor da ação”.
Além da perda de credibilidade e de serem incomuns no mercado, os atrasos na divulgação de balanços e outros processos de due diligence prejudicam investidores institucionais e a pessoa física pela desestabilização da perda dos papéis. Assim como ocorreu no caso Americanas.
“Investidores e fundos que estão investidos em ações cujos balanços são colocados em xeque são prejudicados pois o preço dos papéis se desestabiliza e possíveis cronogramas de investimento/desinvestimento são comprometidos”, conclui Muraguchi.
O único investidor que se beneficia dos atrasos, de acordo com o especialista, é aquele que está “vendido” na bolsa. Ou seja, aquele que aposta na perda ou ganho dos papéis para lucrar.
Os atrasos na divulgação de balanços são passíveis de multa pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
O que dizem KPMG, Deloitte, PwC e EY?
Ao ser questionada sobre os atrasos em balanços das S.A, a KPMG afirma que realiza suas auditorias “em um ambiente com os mais elevados níveis de objetividade, independência, ética e integridade, de acordo com as normas brasileiras e internacionais de auditoria”.
“A KPMG no Brasil está comprometida com a qualidade e a excelência em tudo o que faz, ajudando a levar nosso melhor aos clientes e conquistando a confiança do público através de nossas ações e comportamentos, tanto profissional e quanto pessoal. Definimos ‘qualidade da auditoria’ como o resultado de auditorias executadas de forma consistente, de acordo com os requerimentos e a aderência aos padrões profissionais aplicáveis, dentro da um sistema robusto de gestão de qualidade”, diz a empresa.
Em nota, a PwC disse que “não comenta temas de clientes por questões de confidencialidade e regras de sigilo profissional”.
A Deloitte informou à reportagem que “não comenta nem confirma engajamentos com clientes de auditoria em respeito ao sigilo contratual e aos padrões éticos exigidos da atividade”.
Além disso, a reportagem entrou em contato com a Ernst & Young. Mas ela não respondeu ao pedido de posicionamento até a publicação deste texto.
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