Novo corte na gasolina abre espaço para deflação em setembro, diz FGV Ibre

O combustível tem grande peso na formação do IPCA

A queda de 7,08% no preço da gasolina nas refinarias, anunciada nesta quinta-feira pela Petrobras, pode conduzir o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mensal de setembro a uma taxa negativa, segundo projeções do economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre)

O recuo, que entrará em vigor a partir de amanhã, 2 de setembro, deve pegar o “IPCA cheio”, nas palavras do economista, ou seja, impactar o resultado completo do indicador inflacionário no mês, visto que ocorre no início de setembro – e também deve ajudar a frear o resultado anual da inflação pelo índice, que mensura taxa de inflação oficial do país.

Após o anúncio de corte no preço do combustível, o economista reduziu estimativa de 6,6% para 6,4% para o IPCA de 2022. No ano passado, o indicador finalizou 2021 com alta de 10,06%.

Ao falar sobre o tema, o especialista ponderou que o produto tem grande peso na formação do indicador inflacionário.

“A gasolina tem peso de 6% do orçamento familiar no IPCA”, lembrou ele, detalhando que, assim, na prática, para cada um por cento de recuo no preço da gasolina, gera uma influência de decréscimo de 0,06 ponto percentual no índice.

“Na bomba [dos postos de gasolina] a queda no preço de gasolina deve ser de 4% em setembro”, afirmou, lembrando que todos os reajustes feitos pela Petrobras nas refinarias, sejam aumentos ou quedas, não são repassados em igual magnitude nos pontos de venda ao consumidor.

No entanto, mesmo que não ocorra um recuo de cerca de 7% na gasolina comprada pelo brasileiro nos postos, afirmou ele, o ajuste anunciado hoje pela Petrobras vai conduzir a um decréscimo de cerca de 0,24 ponto percentual no IPCA de setembro – tendo em vista o forte peso, do produto, na formação do resultado do indicador.

“Com corte, teremos então 0,24 ponto percentual a menos no IPCA. Isso aumenta chance para o IPCA registrar taxa negativa em setembro”, acrescentou ele.

O especialista comentou ainda que, em seu entendimento, os mais pobres não vão sentir esse recuo inflacionário. Isso porque esse ajuste não tem impacto direto na cesta inflacionária dos que têm menor poder aquisitivo, mais focada em alimentos, gás de cozinha e em transporte urbano.

Ele notou também que, se fosse efetuada queda de preço em diesel, o “efeito indireto” desse corte beneficiaria mais os de renda menor. Isso porque o diesel mais barato abriria espaço para frete menos caro, visto que produtos de alimentação são transportados, no país em sua maioria, por caminhões que usam diesel.

Com menor custo logístico isso abriria margem para preço menor, de alimentos por exemplo, no consumidor final, avaliou ele. Ao mesmo tempo, diesel mais barato também abriria espaço para possível tarifa de transporte público menor, visto que ônibus urbanos no Brasil usam diesel, majoritariamente.

Outro aspecto mencionado por ele é que, para os próximos meses, não há como saber “se essa queda no preço da gasolina vai se manter ano inteiro”.

Isso porque há muitos fatores externos e internos que podem ajudar a puxar para cima a cotação do preço do petróleo nos últimos quatro meses do ano. É o caso de possível acirramento conflito entre Rússia e Ucrânia, no Leste Europeu, região notadamente produtora de petróleo, notou ele.

“Tem muita água ainda para passar por essa ponte”, afirmou em relação à formação do preço de gasolina até o fim do ano.