IPCA teria subido 0,70% em julho sem deflação de gasolina, etanol e energia

Índice ficou em -0,68%, a menor taxa mensal desde 1980

Gasolina, etanol e energia elétrica foram os três itens com maior influência para o resultado da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em julho, que ficou em -0,68%, a menor taxa mensal de toda a série histórica da pesquisa, iniciada em 1980.

Os dados divulgados hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que os preços desses produtos caíram 15,48%, 11,38% e 5,78%, respectivamente.

Já a influência para o resultado do IPCA foi de 1,04 ponto percentual, 0,10 ponto percentual e 0,24 ponto percentual ou 1,38 ponto percentual se somados. Isso significa que, sem esses três itens, o IPCA teria subido 0,70% em junho.

No fim de junho, foi promulgada a lei que reduziu o ICMS sobre combustíveis, energia elétrica, comunicações e transporte público, do fim de junho.

Ao comentar o IPCA de julho, o gerente do IBGE responsável pelo índice, Pedro Kislanov, ressaltou a importância da redução do ICMS para o resultado do mês, mas reconheceu o efeito deve ser pontual.

“A partir de agosto, se verá menos esse efeito [de redução do ICMS]. Esse efeito deve ficar concentrado no IPCA de julho”, afirmou ele.

Leite sobe 25% e puxa alta de alimentos em julho

A alta dos preços de alimentos acelerou de 0,80% em junho para 1,30% em julho, segundo a cesta do IPCA divulgado mais cedo pelo IBGE. O grupo teve impacto de 0,28 ponto percentual (p.p.) no resultado do índice no mês (-0,68%). Segundo Pedro Kislanov, gerente do IBGE responsável pelo índice, a aceleração dos preços de alimentos foi puxada principalmente pelos preços do leite e de derivados.

O leite longa vida teve alta de preços de 25,46% em julho, após alta de 10,72% em junho. Foi o maior impacto individual no resultado do IPCA: representou 0,22 ponto percentual da taxa de -0,68% do IPCA. No grupo de leite e derivados, o aumento de preços foi de 14,06% em julho, após variação de 5,68% em junho.

“O resultado [dos alimentos] foi puxado pelo leite longa vida, que subiu mais de 25%, e pelos derivados do leite, como queijo (5,28%) e manteiga (5,75%), por exemplo. Essa alta do produto se deve, principalmente, a dois fatores: o período de entressafra, em que as pastagens estão mais secas, o que reduz a oferta de leite no mercado, e o fato de os custos da produção estarem muito altos”, afirmou Kislanov.

O período de entressafra do leite vai de março até setembro ou outubro. Mas este ano este período ocorre quando também há aumento do custo de produção para o produtor, como a alta de soja e de milho, e também de fertilizantes e outros insumos, apontou o gerente do IBGE.

“Em 2022, temos uma entressafra mais forte que nos últimos anos aliada ao aumento do custo de produção”, disse.

A alta do leite contribuiu especialmente para o resultado da alimentação no domicílio, que acelerou de 0,63% em junho para 1,47% em julho. Já a alimentação fora do domicílio desacelerou de 1,26% em junho para 0,82% em julho.

Segundo o IBGE, isso refletiu altas menos intensas do lanche (1,32%) e da refeição (0,53%). No mês anterior, as variações dos dois subitens tinham sido de 2,21% e 0,95%, respectivamente.

Entre as altas dos preços de alimentos, as frutas subiram 4,40% e tiveram impacto de 0,04 p.p. no IPCA de julho. Por outro lado, os maiores recuos de preços vieram do tomate (-23,68%), da batata-inglesa (-16,62%) e da cenoura (-15,34%), que contribuíram conjuntamente com -0,12 p.p.