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Inflação: Cortes de gasolina, diesel e botijão de gás vão derrubar o IPCA?
Os recuos em preços de combustíveis anunciados nesta terça-feira (16) nas refinarias e distribuidoras pela Petrobras devem contribuir para reduzir a inflação mensal apurada pelos principais indicadores do país. No IPCA do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); e nos IGPs da Fundação Getulio Vargas (FGV).
No caso do IPCA, o anúncio da Petrobras vai gerar decréscimo total de cerca de 0,51 ponto percentual nas taxas de maio e de junho, juntas. Mas não deve alterar resultados de IPCA e de IGPs para taxa anual, de 2023.
Segundo o economista da fundação e analista de inflação responsável pelos IGPs, André Braz, a mudança na alíquota de ICMS para gasolina, a partir de junho, deve conduzir a um aumento de dois dígitos no preço desse combustível – que “compensaria”, no resultado anual inflacionário, o impacto benéfico, na inflação, das quedas divulgadas hoje.
Ao comentar sobre os impactos desses recuos nos resultados das taxas inflacionárias, Braz frisou que esses são diferentes ao se projetar resultados para desempenho mensal e anual.
No mensal, no caso do IPCA, a redução em gasolina deve gerar decréscimos de 0,21 ponto percentual no total do IPCA de maio; e de 0,21 ponto percentual no IPCA de junho.
“O peso da gasolina é de 5% do orçamento, e no total do IPCA. A cada um por cento de queda, a gasolina recua 0,05 ponto percentual [no IPCA]” ele explicou.
“Mas não podemos considerar que essa queda de 12,5% será repassada integralmente na bomba [nos postos de gasolina]” disse, comentando que o recuo vale para as refinarias.
“Calculamos que chegará um recuo em torno de 8,5% nas bombas [ao consumidor]”, disse. “Então podemos ter um recuo de 0,42 ponto percentual no total do IPCA, sendo 50% disso em maio; e 50% em junho” disse.
Ao ser questionado sobre impacto na taxa anual do IPCA de 2023, Braz ressaltou que não se sabe qual será aumento exato no preço da gasolina, a partir de junho, devido à unificação de alíquota de ICMS para esse combustível.
O especialista lembrou que alíquota de ICMS de gasolina e de álcool anidro vai aumentar para R$ 1,22 o litro a partir de junho. “Eu estimo uma alta em torno de 10% [no preço da gasolina nas bombas por causa de ICMS] mas alguns analistas apostam em aumento de 12%, de 15%”, disse.
Assim, na prática, o recuo anunciado o preço da gasolina pode ajudar a “contrabalançar” o aumento esperado nesse combustível em junho; e não mexer tanto com projeção para IPCA anual de 2023.
“Eu acho que o IPCA ainda vai encerrar em 6% esse ano”, disse o técnico. “Tudo que acontece em gasolina acaba definindo o IPCA”, resumiu.
Mas a gasolina não é o único combustível a ajudar na formação do IPCA. No caso do botijão de gás, com peso de 1% no total do indicador, o impacto projetado pelo especialista é de 0,09 ponto percentual de decréscimo nas taxas do IPCA de maio e de junho, sendo -0,04 p.p. em maio e -0,05 em junho.
No caso do diesel, o especialista comentou que esse combustível pesa muito pouco no IPCA, apenas 0,25% do total do indicador.
“O impacto maior do diesel mais barato é indireto” disse, comentando que a medida ajuda a diminuir tarifa de transporte urbano e rodoviário, visto ser combustível desses dois modais, além de baratear fretes. Com isso, diesel mais barato ajuda a reduzir custo de produção, notou ele.
Novas projeções
A redução dos preços da gasolina, diesel e gás de cozinha anunciados pela Petrobras levaram a Warren Rena a revisar sua projeção de IPCA para 2023, de 5,70% para 5,50%.
Nos cálculos de Andréa Angelo e Vinicius Valentin, a queda de R$ 0,40 (12,6%) do preço do combustível nas refinarias foi maior que esperavam (5%). Sozinho, isso tiraria 0,23 ponto porcentual do IPCA de 2023.
No entanto, lembram, esse reajuste será praticamente anulado pela nova fórmula de cobrança do ICMS pelos Estados (ad rem), que passará a ser R$ 1,22 por litro no início de junho. Com isso, o efeito líquido da medida é uma queda de 0,03 ponto porcentual.
Angelo lembra que, além do corte maior que o esperado da gasolina, outro impacto deve vir do etanol, que acaba acompanhando a queda para se manter competitivo.
No caso do gás de cozinha, os economistas da Warren estimam que o corte de R$ 8,97 resulta em uma queda de 9% no preço final ao consumidor. Isso retiraria 12 pontos do IPCA no fim do ano.
Entretanto, eles contavam com uma redução maior neste item, de R$ 10, o que implica que a contribuição deste item para a projeção de fim de ano aumentou em 0,02 ponto.
A redução dos preços pela Petrobras também já era esperada pela MCM Consultores, que revisou na sexta-feira sua projeção para o IPCA em 2023 de 6,50% para 6,35%. Uma vez que as estimativas era bastante parecidas com o que foi anunciado, a projeção deve pender para algo perto de 6,30%, diz a economista Basiliki Litvak.
A consultoria projeta uma variação de 5,39% no preço para o consumidor final no caso da gasolina após o anúncio da Petrobras, além de 6,95% no caso do diesel e 8,24% no caso do GLP.
Somados, esses anúncios geram um impacto baixista de 0,40 ponto porcentual sobre o IPCA, sendo 0,27 ponto da gasolina, 0,02 do diesel e 0,11 ponto do botijão de gás.
Já na avaliação da XP Investimentos, a redução de tem poder de tirar cerca de 0,39 ponto porcentual da inflação este ano. Segundo comentário assinado pelo economista Alexandre Maluf, a redução da gasolina traz um impacto estimado na bomba de 0,32 ponto, divididos entre maio e junho.
A queda do preço do GLP tira outros 0,06 ponto, também divididos entre os dois meses. No caso do diesel, que tem menor peso no cálculo do IPCA, este impacto é de apenas 0,01 ponto.
Com a medida, as projeções da inflação para maio e junho caíram para, respectivamente, 0,26% e 0,33%. Já a projeção para 2023 “recuaria” de 6,2% para 5,8%.
No entanto, a casa ainda vai recalibrar suas projeções, dado que o anúncio da mudança da política de preços da Petrobras e o cenário mais benigno para o real o petróleo “tendem a tornar tais patamares de preços mais duradouros”, diz Maluf.
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