Campos Neto: ‘Precisamos entender como as medidas fiscais vão se dissipar na inflação’

Presidente do Banco Central sugere que alívio nos preços pode ter efeito limitado

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta segunda-feira que há uma discussão sobre como as medidas fiscais do governo, como redução de impostos e ampliação do Auxílio Brasil, vão se dissipar na inflação.

“A gente precisa entender como essas medidas vão se dissipar, é muito difícil modelar isso. Conseguimos ver que o mercado que mudou [para baixo] as expectativas para 2022, mas não mudou para 2023 e 2024. Ou seja, é como se tivessem as medidas do governo pressionando para baixo, mas os componentes dos anos subsequentes são maiores que a inércia, vemos isso bem claro nas expectativas de mercado”, disse em evento do Instituto Millenium, em São Paulo. “É muito difícil capturar isso, alguns modelos preveem até inércia maior da queda da inflação recente”, acrescentou.

Durante o evento, Campos também afirmou que a atividade econômica global está “claramente desacelerando”, mas que o Brasil é um dos poucos países “com revisão para cima” para 2022.

“A chance de recessão [global] é alta, mas essa é uma crise muito diferente, a mão de obra mudou estruturalmente, não temos como comparar”, ressaltou. No Brasil, segundo ele, o “mercado tem feito projeção de aumento em 2022 e estabilização em 2023, mas acho que em algum momento a inércia vai pegar”.

Campos destacou ainda que os gargalos nas cadeias de produção ocorreram na pandemia por demanda e não por oferta. “Começamos a ver desaceleração [na demanda] e ajuste na produção de bens”, pontuou.

Campos comento que a deflação global deve ser maior que o efeito no câmbio da fuga de capital em emergentes com ajuste monetário.

“Existe um ‘trade-off’ com ajuste de juros globais. Então podemos ter fuga de capital e isso influencia a taxa de câmbio, o que pode despertar um processo inflacionário. Mas, por outro lado, temos uma desaceleração global muito grande, preços de commodities caem e apesar de sermos produtores, isso influencia o câmbio também. Entendemos que a deflação global mais do que compensa o outro componente”, disse.

“A gente acha que o componente de desaceleração vai ser mais forte que o componente que vai vir via depreciação [cambial], mesmo porque o Brasil fez o ajuste na frente [dos outros países]. Mas podemos sim ter uma contaminação”, complementou.