Haddad: ‘Éramos um posto Ipiranga. Agora somos uma rede de postos’

Ao tomar posse como ministro da Fazenda, Haddad afirma que 'não aceitará' déficit maior de R$ 220 bilhões nas contas públicas em 2023

Ao tomar posse como ministro de Fazenda, o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), exaltou os outros três colegas que cuidam de ministérios relacionados à pauta econômica. Ao falar de Simone Tebet, ministra do Planejamento, Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e de Esther Dweck, ministra de Gestão, Haddad disse que o governo Lula terá “uma rede de postos”.

“Éramos um posto Ipiranga. Agora, somos uma rede de postos”, disse Haddad em referência à forma como o ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, era chamado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “É muito ruim colocar todos os ovos na mesma cesta, e foi o que foi feito. Nós queremos agir colegiadamente”, completou o titular da Fazenda. Haddad ainda falou que pretende apresentar o novo arcabouço fiscal, futura âncora de gastos públicos do novo governo, no primeiro semestre.

Resultado fiscal para 2023

Haddad afirmou em seu discurso de posse que não aceitará resultado “que não seja melhor do que os absurdos R$ 220 bilhões” de déficit previstos no Orçamento de 2023.

“O povo brasileiro, que acompanhou a fase de transição de governo, entende bem do que estamos falando. E sabe que esses e outros erros do governo precisam ser corrigidos. Portanto, é o que faremos com urgência nesse primeiro ano”, disse, acrescentando que o novo governo deve rever atos da administração Bolsonaro.

Novo arcabouço

O ministro da Fazenda também disse que o novo arcabouço fiscal a ser encaminhado pelo governo ao Congresso precisa ter a premissa de ser confiável e demonstrar tecnicamente a sustentabilidade das finanças públicas.

“Um arcabouço que abrace o financiamento do guarda-chuva de programas prioritários do governo, ao mesmo tempo que garanta a sustentabilidade da dívida pública”, explicou. “Não existe mágica nem malabarismos financeiros”.

O que garante um Estado fortalecido, argumentou, é a previsibilidade econômica, confiança dos investidores e transparência com as contas públicas. Haddad endereçou parte do pronunciamento a diminuir o tom “ortodoxo” da política econômica a ser implementada neste ano, falando que ele e sua equipe “não estão lá para aventuras”.

“Estamos aqui para assegurar que o país volte a crescer para suprir as necessidades da população em saúde, educação, no âmbito social e, ao mesmo tempo, para garantir equilíbrio e sustentabilidade fiscal”, pontuou. “Vamos trabalhar dia e noite para que o Brasil restabeleça a sua relação comercial com o mundo e garantir investimentos para o nosso país”.

Haddad fala em ‘democratizar acesso ao crédito’

Outra prioridade da gestão, de acordo com Haddad, é democratizar o acesso ao crédito, a exeplo do primeiro mando de Lula.

“O Brasil experimentou [a partir de 2003] um período de grande expansão do crédito, com responsabilidade. O que se viu foi uma política de ganha-ganha, para o povo e para o mercado. Sem contar o grande número de IPOs feitas naquele período – quantas empresas abriram seus capitais, entraram na bolsa?”, disse.

Ministro promete sistema tributário ‘mais simples’

Haddad também prometeu buscar um sistema tributário “mais transparente, mais justo e mais simples”. Ao se tornar mais eficiente, este sistema irá retirar o peso tributário das famílias de baixa renda e permitir que o Brasil se aproxime dos padrões das grandes economias mundiais, argumentou o ministro. A medida é prioridade e será discutida por toda sua equipe, sem divisão em “compartimentos”.

Também será necessário resgatar projetos parados no Congresso. O novo ministro da Fazenda disse que criará uma força-tarefa para movimentar projetos de lei e medidas paralisadas que podem, por exemplo, modernizar o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). “PPPs ainda têm muito entraves burocráticos; podemos dinamizar PPI, há empreendimento sem sustentabilidade de curto e médio prazo”, afirmou, reforçando uma agenda da reindustrialização do país.

A atuação da equipe econômica, frisou Haddad, será transparente: “Não vamos mentir que o déficit vai ser de R$ 60 [bilhões], quando ele está [previsto] em mais de R$ 200 [bilhões]”.

“A todas e todos que esperaram ansiosos por esse momento, quero dizer que enfim esse dia chegou: o dia em que o Brasil retoma o seu merecido lugar na história. E o governo retorna ao seu legítimo dono: o povo brasileiro”, finalizou Fernando Haddad em seu discurso de posse.