- Home
- Mercado financeiro
- Economia
- Equipe econômica: Appy foi ‘gol de placa’, mas mercado espera nomes fortes no fiscal
Equipe econômica: Appy foi ‘gol de placa’, mas mercado espera nomes fortes no fiscal
A nomeação de Bernard Appy como secretário especial para Reforma Tributária no governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi um “gol de placa” entre os anúncios realizados hoje pelo futuro ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT), mas o governo precisa “urgentemente de nomes muito fortes na área fiscal”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
“Foi o grande acerto. É o nome por trás da PEC [Proposta de Emenda à Constituição] 45, coloca uma possibilidade muito grande de a reforma tributária andar. Foi o gol de placa do anúncio do Haddad até agora”, afirma. Vale observa que Appy tem o perfil de responsabilidade fiscal, mas estará totalmente focado em viabilizar a reforma tributária, o que não é tarefa fácil por si só, aponta.
Para Vale, Gabriel Galípolo, indicado para a Secretaria-Executiva do Ministério da Fazenda, segundo cargo mais importante na pasta atrás apenas de Haddad, deve tratar mais de questões ligadas a investimentos e formulações de parcerias público-privadas (PPPs).
“É a área dele, muito do que trabalhou na sua carreira. Talvez, a gente esperasse, nessa primeira sinalização, alguém que fosse mais condutor da questão fiscal, porque muito da preocupação dos últimos dias tem a ver com a PEC da Transição muito mal feita e que vai exigir uma questão fiscal muito bem resolvida a partir do ano que vem para desmobilizar essa impressão”, diz.
Vale questiona, por exemplo, a resposta que Haddad deu em uma coletiva à imprensa ao ser questionado sobre se e como o Brasil voltaria a ter superávit primário, dado que os gastos adicionais da PEC da Transição devem fazer o país retornar ao déficit primário no ano que vem. “Falar que o que será feito em relação a isso será reavaliar a estimativa de arrecadação no ano que vem não é a resposta adequada para lidar com déficit dessa magnitude.”
Esse nome “forte” na questão fiscal não veio ainda, afirma vale, e ele diz que gostaria de ver nomeações nesse sentido, com um “perfil mais liberal” e de “responsabilidade fiscal bastante grande”, para a Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Fazenda, para o Ministério do Planejamento e o Tesouro Nacional.
“Dado o caminho escolhido para a Fazenda, gostaria de ver no Planejamento um perfil mais parecido com o do Persio”, diz Vale, em menção a Persio Arida, ex-presidente do Banco Central, um dos formuladores do Plano Real e integrante do Grupo de Trabalho (GT) da área econômica do governo de transição de Lula.
“Tem se falado na Cristiane Schmidt, secretária da Fazenda de Goiás. Seria um excelente nome. Seria muito bom se fosse alguém desse perfil”, afirma Vale.
Volpon: Primeiros nomes anunciados ainda não sinalizam equipe econômica plural
O anúncio de Gabriel Galípolo, Aloizio Mercadante e Bernard Appy entre os nomes que irão compor o segundo escalão da equipe econômica do governo Lula não surpreendem e também ainda não sinalizam para uma equipe “plural” como disse pretender o próximo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A avaliação é do ex-diretor do Banco Central, Tony Volpon.
Para o economista-chefe da CM Capital Markets, o anúncio, até o momento, não cumpre o papel de devolver alguma confiança aos investidores até que a nova regra fiscal seja anunciada.
Em relação aos três nomes anunciados, a maior surpresa foi com Mercadante para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ainda assim, os primeiros gestos teriam sido positivos, julga Volpon. Como noticiou o Valor, Mercadante afirmou ao presidente da Febraban, Isaac Sidney, que não haverá retomada de políticas de gestões passadas, como a política de subsídios ou empréstimos ao exterior.
“É uma boa primeira sinalização do Mercadante, não dá para dizer que entrou chutando a porta. Mas também não vai ser o BNDES do Guedes ou do Meirelles. O novo governo está tentando afastar a possibilidade de voltar a fazer coisas bastante nocivas, mas o que vão fazer de diferente, ainda estamos para ver”, disse Volpon.
Os demais nomes já eram amplamente esperados, segue. Galípolo, que será o secretário-executivo da Fazenda, é um “bom nome, que o mercado conhece”, mas está na órbita petista desde seus tempos no Banco Fator. Já Appy, que será secretário especial para a reforma tributária, é reconhecido pelo seu conhecimento do tema, mas tem passagem pelo primeiro governo Lula e sua chegada era amplamente esperada.
Para Volpon, a reação recente dos mercados aos nomes anunciados até aqui passa por um problema de expectativas. “O mercado vivia a ilusão de que poderia haver um governo do PT sem política econômica de esquerda. Achar que um governo Lula ocorrerá sem maior intervenção ou investimento público é uma expectativa fadada a não se concretizar. Não é culpa do Haddad ou do Mercadante”, critica.
“A questão é que existem várias formas de se fazer políticas de esquerda. Ainda não sabemos se elas vão funcionar ou não. Não necessariamente elas estão fadadas ao fracasso, vão nos levar ao buraco fiscal ou a uma queda crescimento”, acrescenta.
A “prova do pudim”, nesse sentido, só deve começar a acontecer com o anúncio da nova regra fiscal. O problema é que ela deverá levar tempo. Nesse ínterim, diz Volpon, seria importante anunciar uma equipe de peso para dar alguma mostra do direcionamento que se pretende seguir e evitar que o mercado fique adicionando prêmio de risco aos ativos.
“Não dá para julgar como será a cara da equipe econômica só com esses três nomes. O que dá para dizer, no momento, é que eles não contribuem com essa cara mais ao centro que Haddad prometeu”, afirmou, acrescentando que Marco Bonomo, professor do Insper, é um “excelente nome” e ajudaria nesse sentido.
Tendências: Equipe econômica aponta linha nacional desenvolvimentista
Os nomes até agora apontados para a equipe econômica do próximo governo apontam para a linha nacional desenvolvimentista que o mercado temia, afirma Silvio Campos Neto, economista e sócio da Tendências Consultoria.
Segundo ele, a escolha de Aloizio Mercadante para o BNDES e de Gabriel Galípolo para ser secretário-executivo do Ministério da Fazenda retoma um modelo que não foi muito bem-sucedido no passado.
“É a retomada de um modelo usado em períodos passados, que acredita no peso do Estado como fonte de crescimento econômico. Isso não apenas com o uso do Orçamento via políticas públicas, mas também das estatais e bancos públicos”, diz. “[Mas] esse modelo encontra agora seus limites. Há uma restrição fiscal clara. E mesmo para o BNDES, que contou com suporte do Tesouro para emprestar para as empresas, não tem mais essa possibilidade diante da dívida elevada do Brasil. São limites a um modelo que traz recordações não tão positivas.”
Enquanto Mercadante confirma essa visão nacional desenvolvimentista, segundo Silvio Campos Neto, Galípolo é defensor da ideia de “moto-contínuo”. “Ou seja, a aposta de que mais gasto público gerará mais crescimento, maior arrecadação e, consequentemente, resolverá o problema fiscal. Mas a experiência prática mostra que não é bem assim”, afirma.
Outro nome é o de Bernard Appy como assessor especial para a área tributária ou para reforma tributária. O economista da Tendências avalia que, por ora, o nome de Appy destoa dos outros, uma vez que é “bem avaliado pelo mercado”.
“Ótima notícia. Mas ele não terá facilidade. É uma reforma complexa e que encontrará resistência”, diz.
Leia a seguir