Zeina Latif diz que próximo presidente precisa ter compromisso com a disciplina fiscal

A economista avalia que quem assumir em 2023 deve priorizar a ‘arrumação da casa’ em gastos públicos

A economista Zeina Latif afirmou nesta quarta-feira (17) que o desafio do próximo presidente do Brasil será reafirmar o compromisso com o controle de gastos públicos e da política econômica. Segundo ela, quanto mais rápida for a “arrumação da casa” em 2023, mais facilmente a inflação voltará para perto da meta.

Durante painel no Congresso Brasileiro do Algodão (CBA), em Salvador (BA), ela reforçou a necessidade de respeito “cotidiano” à regra fiscal. “Nenhuma regra nunca vai ser boa se não houver compromisso de cumprimento. A Lei de Responsabilidade Fiscal vem sendo desrespeitada, a regra de ouro nem existe mais. O Brasil repetidamente vem desrespeitando essas regras”, observou.

“O que não pode é o tempo todo ficar fazendo furo no teto, é como se não tivesse regra, tira o benefício da previsibilidade”.

Latif ponderou que qualquer que seja o eleito em outubro para o Palácio do Planalto deverá adotar tom mais pragmático. “Não acredito que qualquer que seja o eleito vai sair rasgando manuais e que teremos quadro dramático. Existe uma visão pragmática de temas que precisam ter avanço. Não podemos tomar o ano eleitoral, de discurso político muitas vezes torto e de ações contaminadas, como parâmetro. O primeiro ano de governo é de arrumação”, disse.

Na avaliação da economista, Lula e Bolsonaro, líderes na pesquisa eleitoral para a Presidência da República, devem apresentar alguma regra – mas não se sabe o teor da disciplina fiscal. Segundo ela, o principal receio é que o país seja pouco ambicioso.

“Precisamos ser muito mais ambiciosos. O calcanhar de Aquiles é questão fiscal e que exige muita capacidade política. Meu medo é a mediocridade, de não ter ambição de entregar de fato as reformas que possam mudar patamar da economia brasileira”, completou.

No painel, a economista criticou ainda os motivos pelos quais a regra fiscal e de teto de gastos vem sendo desrespeitada no país. “É um problema de não saber gastar bem, não é só não fechar as contas, é a qualidade desse gasto público. Ainda se fosse para gastar mais e bem, valeria a pena, mas a gente gasta muito mal, inclusive na parte de investimentos”.

Latif disse que o compromisso com a disciplina fiscal é o que poderá dar ao Brasil uma taxa de juros de um dígito novamente, apesar de prever continuidade na inflação. “A inflação vai seguir desconfortável, o que aumenta a pressão no Banco Central. Acho que algum compromisso importante vem [na área fiscal, por parte dos candidatos]. A sociedade não tolera inflação alta. É questão de tempo para isso pesar na agenda política do próximo presidente”.

A economista frisou que o próximo presidente do Brasil precisa “pacificar a sociedade” e buscar dar um “salto de maturidade” para a aprovação de reformas necessárias para o crescimento econômico.

“O próximo presidente tem que pacificar a sociedade. O discurso de ódio é veneno para sociedade e para economia. É muito mais difícil construir consensos, de ter diálogo para aprovar reformas. Precisamos desse salto de maturidade no país”, afirmou.