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O que precisa acontecer para o Copom não subir mais a taxa Selic?
A sinalização emitida pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) na decisão de quarta-feira indica que o cenário mais provável “parece ser o de encerrar o ciclo [da taxa Selic] em 13,75%”, afirmam os economistas da Itaú Asset Management.
Na visão da gestora, para que um ajuste adicional de 0,25 ponto percentual ocorra em setembro, o que levaria a Selic para 14%, “seria necessária a observação de uma inflação e, principalmente, de expectativas de inflação piorando no mesmo ritmo recente”.
Em relatório, os profissionais da Itaú Asset afirmam que a sinalização do Copom para a reunião de setembro foi o principal destaque do comunicado, com a indicação de que o comitê irá avaliar a necessidade de um ajuste residual. “Em nossa avaliação, isso sugere que o BC [Banco Central] já está indicando o encerramento do ciclo de alta de juros em setembro.”
Quanto às projeções de inflação, a Itaú Asset aponta que os números ressaltam os desafios com os quais o comitê se depara no momento e que o Copom optou por dar mais ênfase à inflação no primeiro trimestre de 2024.
Em relação ao balanço de riscos, os economistas enfatizam que a novidade ficou por conta da piora na leitura de risco fiscal como altista para a inflação, embora o comitê também tenha ponderado que o risco de uma desaceleração mais intensa da economia global possa ter efeitos baixistas sobre os preços.
O que esperar da taxa Selic em setembro
Surpresas adversas na frente fiscal e nos cenários de atividade econômica podem inclinar o Copom a agir novamente em setembro, mas sinalização do colegiado dá a impressão de que a autoridade monetária “preferiria deixar os juros onde estão”, observa o economista-chefe para Brasil do Barclays, Roberto Secemski, cujo cenário-base indica que o ciclo de aperto chegou ao fim com a Selic em 13,75%.
“Em nossa opinião, a decisão de setembro dependerá criticamente da evolução das expectativas de inflação até lá, principalmente na janela de seis trimestres destacada pelo comitê”, diz.
Em relatório enviado a clientes, Secemski destaca que, na leitura do Barclays, o comunicado da decisão de ontem do Copom foi “amplamente neutro”, também em relação à precificação do mercado, embora tenha visto como “relativamente ‘dovish’ na margem” a estabilidade da projeção do IPCA de 2024 em 2,7%.
“Esperávamos uma declaração aberta e dependente de dados, porque, em nossa opinião, era improvável que o BC fechasse inequivocamente a porta para novos aumentos, mas também não se comprometeria explicitamente com outra alta em setembro”, afirma.
Na visão do economista, se as expectativas inflacionárias de médio prazo não mudarem tanto até a reunião de setembro, o Copom pode manter os juros inalterados em 13,75% e, caso contrário, a taxa Selic deve ser elevada para 14%.
Segundo ele, “é claro que surpresas adversas na frente fiscal, mercado de trabalho e/ou crescimento também podem inclinar o BC a agir, mas nossa impressão é que, tudo o mais constante, o BC preferiria deixar os juros onde estão, também pela extensão do horizonte relevante em 2024 (quando deseja evitar o risco de ficar abaixo da meta)”.
De acordo com Secemski, embora o BC possa optar por analisar a volatilidade da inflação cheia causada por fatores exógenos à política monetária, uma posição fiscal estrutural mais fraca e um novo golpe na credibilidade do teto de gastos “podem, eventualmente, ter um efeito adverso sobre as taxas de juros neutras no futuro”. O Barclays, assim, mantém a expectativa de que o ciclo de ajuste da Selic chegou ao fim com a taxa em 13,75%.
BC comprou risco
A expectativa de grande parte dos agentes financeiros de que o Banco Central buscaria um maior grau de liberdade para suas próximas decisões não foi correspondida pelo comunicado do Copom, considera o BTG Pactual.
Em meio à deterioração firme das expectativas de inflação para 2023 e possibilidade de a autoridade monetária não cumprir sua meta pelo terceiro ano consecutivo, a sinalização de que o ciclo de aperto acabou, na avaliação de Álvaro Frasson, economista do banco, faz com que o BC acabe “comprando risco”.
“Fazer o movimento que fez, com as expectativas de inflação ainda bastante estressadas e um cenário muito incerto sobre a trajetória da inflação global, acho que o BC acaba comprando risco e torcendo, de uma certa forma, para que os eventos externos o ajudem nesse caminho de convergência da inflação”, afirma o economista, que manteve seu cenário de taxa de juros terminal de 14% após a decisão de ontem.
Na visão dele, havia a expectativa de que o colegiado repetisse o comunicado da última decisão, de que o Copom poderia promover um ajuste de magnitude igual ou inferior na próxima decisão de política monetária.
“Não foi isso o que ele fez, ao dizer que irá ‘avaliar a necessidade’ de mais um ajuste, no singular – o que também fecha a porta para novas altas em outubro. Fazer isso em um ambiente em que as expectativas de 2023 estão subindo e em que o BC corre o risco de perder o teto da meta por três anos seguidos, parece bem desafiador”, afirma.
Frasson aponta que a atual liderança do Banco Central possui a característica de acabar reduzindo os efeitos de suas decisões de política monetária por meio de comunicados mais “dovish”.
‘Nível extremamente contracionista’
O ambiente que ainda compreende uma incerteza elevada foi determinante para a decisão do Copom de manter aberto o ciclo de aperto monetário, avaliam os economistas do Banco do Brasil.
Eles, porém, ressaltam que, mesmo com a possibilidade de um novo ajuste na taxa Selic, “acreditamos que, diante do patamar extremamente contracionista dos juros básicos, o colegiado não elevará novamente a Selic na reunião de setembro”. O BB, assim, manteve inalterado o cenário-base que compreende uma taxa de 13,75% no fim deste ano.
Em relatório enviado a clientes, os economistas do BB observam que chamou atenção a forma como a autoridade monetária tratou das mudanças tributárias sobre as projeções do IPCA.
“Como o horizonte relevante para a política monetária contempla também o ano de 2024, o colegiado optou por avaliar a condução da política monetária à luz do IPCA acumulado em 12 meses projetado para o primeiro trimestre de 2024. Deste modo, ao indicar uma projeção de 3,5% para esse período e de 2,7% para o fim de 2024, o Copom suavizou o impacto altista das medidas sobre a inflação do próximo ano”, afirmam os economistas.
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