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Ciclo de juros altos no Brasil pode ser bom momento para investir… na Bolsa
A cartilha diz que, quando as taxas de juros estão altas, o melhor investimento é a renda fixa. Mas as perspectivas de manutenção da taxa Selic no maior patamar desde novembro de 2016, como sinalizado pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) nesta quarta-feira (21), oferecem uma oportunidade interessante para desafiar esse entendimento.
Sempre que os juros sobem, uma boa parte dos investidores de fato abandona as aplicações de renda variável, como as ações negociadas em Bolsa de Valores, para colocar seu dinheiro em títulos públicos, tidos como mais seguros. Em agosto, os fundos de renda fixa foram os que tiveram maior captação líquida, de R$ 18,5 bilhões. Enquanto isso, os fundos de renda variável registraram mais resgates do que aportes em agosto, com saldo líquido negativo de R$ 5,5 bilhões.
Essa realocação de recursos faz com que os preços dos papeis recuem, abrindo chances de comprar ações baratas, ou seja, que estejam sendo negociadas abaixo do seu verdadeiro valor. “O investidor de longo prazo, que investe em ações para ter liberdade financeira, viver de renda, aproveita esses momentos de baixa”, diz Vicente Guimarães, professor de economia e presidente da casa de análise de investimentos VG Research.
Uma das medidas de valor mais adotadas no mercado financeiro é o múltiplo preço (da ação)/lucro (por ação da companhia), o P/L. Quanto maior o número resultante dessa divisão, mais cara está a ação. E vice-versa.
O Ibovespa, principal indicador acionário da Bolsa brasileira B3, tem neste momento um P/L de 4,69 – o menor em 20 anos. Significa, de forma geral, que as ações de empresas locais estão baratas demais em relação ao retorno que podem dar.
Na opinião de Guimarães, é possível adotar essa tática de comprar ações nos momentos de queda devida a aumentos das taxas de juros mesmo sendo um investidor conservador. Basta escolher papeis de empresas mais conservadoras, que são menos voláteis e têm histórico de bom pagamento de dividendos. “Hoje, vários setores estão com boas condições de rentabilidade, como o bancário, o de seguros, o de saneamento e o de saúde”, afirma. “Cada crise impacta os setores da economia de maneiras diferentes, porém esses são mais blindados.” Seguindo esses princípios, o professor diz que aumentou seu patrimônio em 152% em 2020, ano em que o Ibovespa perdeu 11,5%.
Dicas para escolher
Filipe Villegas, estrategista de ações da corretora Genial, dá exemplos de quais papeis evitar – de acordo com uma escala de sofrimento com os juros altos. “A escolha é sempre feita por comparação, qual papel é melhor do que o outro em determinado momento”, diz Villegas.
O setor que tende a ser mais impactado é o de construção civil, cujos clientes dependem bastante de financiamentos bancários. Depois, vêm as empresas de menor capitalização de mercado e/ou mais endividadas. Em seguida, as varejistas e as que dependem do consumo da população brasileira de forma geral. Menos afetado é o elétrico, que assina com os governos contratos de concessão de longo prazo, geralmente corrigidos pela inflação. Mesmo que a alta da Selic faça a atividade econômica desacelerar, a energia elétrica é um serviço de primeira necessidade.
Já os bancos podem ser afetados pelos juros elevados de duas maneiras. Primeiro, quando a inadimplência está muito grande no país, porque obviamente o risco de calote aumenta. Segundo levantamento do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) e da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, agosto terminou com 39,4% dos brasileiros adultos negativados, o correspondente a 63,7 milhões de pessoas. Segundo, se a elevação é feita de maneira muito rápida, como no atual ciclo. Os bancos não conseguem ajustar as taxas que cobra nos seus empréstimos tão rapidamente.
Por isso, levam vantagem os bancos maiores, que têm mais recursos e conseguem negociar melhor os spreads, e os que contam com melhores sistemas de avaliação de risco potencial do cliente.
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