Relações com investidores e influenciadores não são mais os mesmos
Eles mudaram por dois motivos: tecnologia e a chegada de novos poupadores
Ibovespa abaixo dos 100 mil pontos, juros lá em cima, inflação, medo de recessão mundial. Será que os investidores individuais que invadiram a Bolsa nos últimos anos têm casca grossa para suportar essas intempéries? A pergunta ficou no ar durante o painel “Investidor pessoa física e o mundo digital”, que abriu na segunda-feira o 23º Encontro de Relações com Investidores e Mercado de Capitais.
O Valor acompanhou os dois dias do encontro promovido em São Paulo pela Abrasca, a associação das companhias de capital aberto, e pelo Ibri, o instituto dos profissionais de relações com investidores.
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A partir de 2017, o mercado de capitais assistiu a chegada em massa de investidores que fugiam da renda fixa durante uma momento raro de juros baixos na história do País. Ao mesmo tempo, a tecnologia — ou o que alguém chamou de “gamificação” dos investimentos — tornou essa transição muito mais fácil.
Quantos investidores estão na Bolsa?
Foi um salto espetacular de perto de 600 mil CPFs para cerca de 5 milhões entre 2017 e 2022. “Esses investidores já representam 16% do volume negociado da Bolsa”, lembrou o superintendente de negócios para pessoa física da B3, Vinícius Brancher. Os estrangeiros respondem por 50% do volume e os investidores institucionais brasileiros pelo restante.
Qual é o perfil do investidor de Bolsa?
E o perfil também mudou: 70% desses novos investidores têm até 39 anos (entre 25 e 39), 25% mulheres (1 milhão). “Há dez anos, era o contrário, com uma faixa etária predominante acima dos 40 anos”, disse Brancher. As regiões Norte e Nordeste foram as que, proporcionalmente, mais cresceram em participação. Claro, porque ainda têm baixa representatividade, mas o dado também mostra que avanços tecnológicos ajudam a vencer a barreira geográfica.
Brancher deixou a questão do quão resistentes serão esses “novatos” a suas colegas do painel, Bettina Roxo, chefe de canais digitais da XP, e Gabi Joubert, chefe de análise do Banco Inter. As duas concordaram que é um momento de teste para o mercado, porém lembraram que os investidores de hoje são muito mais informados — houve uma democratização do conteúdo financeiro para o público não especializado, que hoje acessa nos seus aplicativos do celular as diversas redes sociais em que estão esses conteúdos produzidos por corretoras, bancos, fintechs, start-ups e mídias especializadas.
A CVM está no TikTok
Os tempos mudaram. A CVM está no TikTok. “Somos o primeiro regulador do mundo a entrar na plataforma”, gabou-se José Alexandre Vasco, durante o painel “Tecnologia e data science — a evolução do RI digital”, na manhã de ontem. Ele confessou que foi preciso contratar estagiários para dar um aspecto menos protocolar, menos ofício-circular (com a devida fiscalização para conter os arroubos dos jovens) aos vídeos disponíveis para os 251 seguidores, segundo dados do aplicativo baixado nesta quarta-feira. O próximo passo é se acostumar com o metaverso.
Como fiscalizar as recomendações feitas no mundo virtual
As redes sociais são solução e dor de cabeça. O chefe de Vasco, Marcelo Barbosa, participou da sessão de abertura do encontro e fez um balanço de sua gestão, que chega ao fim em três meses. Um dos assuntos destacados, além da onipresente “agenda ESG” e de temas esotéricos como o “sandbox regulatório”, foram os influenciadores digitais. “As pessoas me perguntam: o que vocês vão fazer sobre isso?.”
Num país com baixo nível de informações financeira (e políticos que dão faniquito quando o assunto é mencionado), é bom que haja pessoas fazendo esse trabalho, disse o presidente da autarquia. O que preocupa é a recomendação de investimento e, mais grave, a manipulação. “Isso sempre aconteceu, só que agora está no mundo virtual, o que dificulta a fiscalização”, disse Barbosa. A solução: contratar robôs e se aproximar dos “influencers”. TikTok e metaverso são apenas o começo.
O que fazem os profissionais que trabalham com RI?
Os profissionais de relações com os investidores (RI), e agora também com influenciadores, têm que dar conta desse novo público e precisam usar a tecnologia para conseguir passar a mensagem. As equipes de RI provavelmente vão continuar pequenas, como disse o VP financeiro do Ifood e membro do conselho do Ibri, Diego Barreto. “Não adianta querer atender todo o mundo pessoalmente, é preciso ter prioridades”, disse.
No mesmo painel sobre “Transformação digital nas empresas e o RI do futuro”, o diretor financeiro e de RI da Petrobras, Rodrigo Araújo Alves, acrescentou que atualmente há muita informação disponível na internet. “Isso facilitou a vida do RI”, disse. “O que antes era informação sigilosa, agora você encontra numa busca no Google.”
Na Entrevista da Semana, que está logo abaixo, Melissa Angelini, diretora de RI da Procaps Group, multinacional da área da saúde listada na NASDAQ e com 15 anos de experiência em mercado de capitais explica em detalhes quais são as funções de um RI: