Na segunda-feira (25), as ações da Petrobras valorizaram mais de 6% na Bolsa de Valores brasileira – uma das maiores altas do dia. O salto aconteceu depois que a CNN Brasil divulgou novas informações sobre a possível privatização da empresa. De acordo com o veículo, o governo começou a discutir e a avaliar um projeto de lei e a operação “entrou no radar”. Se realmente se concretizasse, a União poderia se desfazer das ações da companhia. Ou seja, o governo deixaria de ser o principal sócio da Petrobras. E mais: há espaço para novos aumentos no preço da gasolina.
Atualmente, o governo federal tem o controle da empresa com 50,5% das ações ordinárias. Com a possível privatização, ele manteria a chamada golden share. A “ação de ouro” é um tipo especial de ativo que permite que decisões possam ser tomadas por apenas um acionista, mesmo que ele seja minoritário. Nesse caso, o próprio governo.
Segundo Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, a interferência política tem afetado diretamente as oscilações da companhia. “Criou-se um certo trauma nas ações da Petrobras e outras estatais. Não são empresas seguras porque a qualquer momento alguém pode mudar as regras do jogo. Isso ficou ainda mais acentuado no início do ano, com a troca de presidente da empresa”. Na época, as ações da companhia registraram queda de 20%.
A privatização realmente vai acontecer?
A aposta de Gustavo Cruz é que não – pelo menos agora. “É um assunto que ainda não está maduro e tem sido colocado em debate aos poucos. Se acontecer, ainda vai demorar muito”, ressalta. A tendência, segundo ele, é que no próximo ano seja difícil ter ações da Petrobras “de forma tranquila”, já que o momento da empresa ainda está muito ligado a variáveis e incertezas.
Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos, também acredita que a privatização é um passo complexo. “Pelo momento político turbulento, com muitas incertezas e com cenário de eleições de 2022 passando por coligações partidárias, acreditamos que seria um caminho difícil com alteração na Lei do Petróleo, visto que, por exigência a União, deve-se manter o controle da Petrobras”, ressalta.
Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, segue a mesma visão. “Sou bem categórico: a companhia é grande e abrangente demais para que finalize um processo desse em um tempo tão curto. Precisa de mais tempo, mais estudos”, explica. Por outro lado, segundo ele, se a pauta realmente seguir, o cenário pode ser muito benéfico para as ações da empresa.
Nesse contexto, é natural que surjam dúvidas e desconfiança dos investidores que queiram entrar agora na Bolsa ou daqueles que já têm ações da empresa. O que fazer com os papéis? É hora de vender, manter ou comprar mais ações? Para quem está chegando agora, este é um bom momento para se tornar sócio?
O cenário pede cautela
O ano que vem será desafiador (e agitado) quando o assunto é Petrobras. “Não aconselhamos ter ações de estatais em ano eleitoral. É muito provável que a gente veja intervenções na companhia focadas em diminuir os preços para a população”, ressalta Gustavo Cruz. Ou seja, o governo pode adotar estratégias mais com foco nas eleições e menos no conjunto da economia, o que faz com que os pregões continuem bastante voláteis.
Ilan, da Ativa Investimentos, acredita que é difícil definir ao certo como será 2022. “É muito difícil associar a história da companhia com a política do país. Por isso, também é difícil fazer uma projeção a curto prazo. É bem possível, por conta dessa questão política, que tenha um nível de volatilidade maior no ano que vem”.
Segundo Chinchila, da Terra Investimentos, o investidor que pensa em comprar ações da empresa deve considerar alguns pontos. “O foco para recomendação de compra segue concentrado na política de redução de dívidas, melhoria nos custos operacionais, desinvestimentos e foco em ativos geradores de receita e principalmente a retomada da geração de caixa da empresa a médio e longo prazo”, ressalta.
Já Gustavo recomenda que aqueles que querem investir no setor busquem informações e considerem outras empresas, como a PetroRio. “Ela tem a parte boa do petróleo e não tem a parte ruim da interferência estatal”, ressalta. Para quem já tem papéis da Petrobras, a recomendação do estrategista é ficar de olho no cenário e não se desfazer das ações de uma hora para outra. “Ainda tem o final do ano para continuar com a empresa. Mas, se aproximando da metade do ano que vem, acredito que o ideal seja se ausentar um pouco da posição”.