CASH3: ações do Méliuz despencam e empresa vende parte do grupo para o BV. Investidor deve ficar de fora?
Juros e cenário macroeconômico fizeram papéis caírem 90% em 18 meses
Nascido em 2011 como uma startup de cashback, modelo de negócio que retorna ao cliente parte do valor de suas compras em dinheiro na conta, o Méliuz (CASH3) viu seus negócios expandirem ao longo dos anos.
Em 2016, a empresa lançou sua primeira versão do aplicativo e foi reconhecida pela Associação Brasileira das Startups como a startup do ano. Posteriormente, no ano seguinte, foi escolhida por pesquisa do Ibope, como um dos top 6 aplicativos de compra favoritos dos brasileiros.
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Além disso, pouco depois, em 2019, o Méliuz (CASH3) deixava de ser apenas uma empresa de cashback para se aventurar também no mercado financeiro. Assim, em parceria com o Banco Pan, lançou seu primeiro cartão de crédito com cashback de até 1,8%.
Mas a consagração viria no ano seguinte com a oferta pública de ações (IPO) na Bolsa de Valores. O negócio movimentou R$ 367 milhões e foi usado para adquirir outras empresas.
E a principal aquisição foi a do Acesso Bank, hoje Bankly, no valor de R$ 324 milhões. A incorporação do novo negócio permitiu ao Méliuz (CASH3) expandir seus negócios. Afinal, passou a realizar Pix, carga de créditos no celular, pagar boletos, negociar bitcoin e empréstimo pessoal.
Uma empresa que crescia, em média, segundo seus fundadores, a 75% ao ano desde a fundação, parecia voar sem limites.
Como o Méliuz se tornou um unicórnio
Além disso, o valor da companhia em junho de 2021 chegou a bater na casa dos R$ 10 bilhões. Isso a levou ao título de empresa unicórnio, isto é, quando uma companhia vale mais de U$$ 1 bilhão.
O negócio começou com um modelo simples, com parceiros pagando para anunciar em seus canais. E, a cada compra realizada por meio da sua plataforma, repassava parte da comissão recebida para o usuário (cashback). Mas logo passou a se tornar uma grande financeira e destaque do mercado de varejo.
Por que as ações do Méliuz (CASH3) caíram?
Mas, nos meses seguintes, a escalada dos juros, dos 2% ao ano até encostar nos 13,75%, derreteu as ações do segmento de varejo. E, portanto, levou com ela as ações do Méliuz (CASH3).
Dependentes de crédito barato e financiamentos com juros baixos, o consumidor brasileiro se afastou das compras e, ao longo dos meses, se endividou.
É o que mostra o último levantamento realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Afinal, são apontados que quatro em cada dez brasileiros adultos (40,43%) estavam negativados em novembro de 2022. Isso equivale a 65,53 milhões de pessoas, o maior número da série histórica do levantamento, realizado há 8 anos.
E o pior, a taxa de juros não deve cair tão cedo. Segundo relatório do Boletim Focus, a expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu para 2023 (de 5,23% para 5,31%), 2024 (de 3,60% para 3,65%) e 2025 (de 3,20% para 3,25%). Ou seja, com inflação em alta, os juros não cedem.
O que está acontecendo com o Méliuz (CASH3) hoje?
Com a escalada dos juros, a empresa que via lucros milionários ano a ano, resultados positivos de mais de 31% em 2020, viu nos períodos seguintes as contas deteriorarem e passou a contabilizar dívidas.
Em 2021, já somava prejuízo líquido de R$ 34 milhões. Já em 2022, o prejuízo acumulado até o terceiro trimestre já era de cerca de R$ 53 milhões.
Dessa forma, para tentar equilibrar as contas e evitar um derretimento mais agudo, no final de dezembro de 2022, o Méliuz (CASH3) anunciou uma operação com o BV (antigo Banco Votorantim).
O BV adquiriu 3,85% do capital do Méliuz (CASH3). Com a opção de compra dos 20% restantes do bloco controlador, formado por Israel Salmen, Lucas Marques, André Amaral e ORG Investments LLC. Isso faria do grupo de amigos fundadores da empresa deixarem de serem donos da startup.
Além disso, o banco também fechou um memorando de entendimentos para pagar R$ 210 milhões pelo controle do Bankly. Isto é, o braço de soluções financeiras do Méliuz.
O que os analistas falam sobre o Méliuz (CASH3)?
Apesar dos anúncios, o mercado ainda torce o nariz para as ações do Méliuz (CASH3). Isso porque a ação fechou o dia 3 de janeiro de 2023 cotada a R$ 1,08. Ou seja, valor mínimo desde o IPO, registrando queda de mais de 90% sobre a máxima de julho de 2021, quando era negociada a cerca de R$ 11, e retração de 35% sobre o valor de face do IPO em 2020, quando foi lançada a R$ 1,68, considerando o desdobramento de 1 para 6 realizado em setembro de 2021.
Para piorar, diversos bancos e cartões de crédito já oferecem o serviço de cashback, aumentando a concorrência com o Méliuz (CASH3), pressionando a empresa por melhores descontos, pressionando suas margens.
Vale a pena investir em Meliuz (CASH3)?
O head de Alocação da InvestSmart, Daniel Amaro, diz que a aliança com o BV pode ser positiva.
“Na última semana de 2022, o banco BV acertou uma aliança estratégica com o Méliuz. Nesse contrato, o Méliuz (CASH3) começará a comercializar produtos e serviços financeiros na sua plataforma via Votorantim, sendo remunerado pelas transações junto à base de clientes. Na outra ponta, o banco utilizará o Bankly para utilizar a sua oferta de serviços financeiros. Essa sinergia pode agregar muito valor além de ser uma porta de entrada para o Méliuz na distribuição de produtos financeiros”, afirma.
Já para Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, o momento é de cautela. “Méliuz (CASH3) surfou a onda da recuperação da pandemia, com excesso de liquidez no mercado, fascínio e carência de empresas de tecnologia na Bolsa brasileira, várias compras com o dinheiro do IPO como o Picodi, Bankly, Alter, recomendação de vários analistas de bancos, corretoras e influencers”, diz ele.
Idean explica ainda que o negócio com o BV, na prática é um “namoro” para a venda total do negócio por R$ 1,50 a ação. “O BV vai fazer o mesmo que o Banco Pan fez com a Mosaico, comprou uma empresa com grande base de clientes, a custo baixo, e com um caixa robusto, em que ele vai monetizar com serviços financeiros”, comenta.
Ele complementa: “Um negócio dos sonhos para o BV, e não tão bom para os minoritários que vão ver mais uma empresa de tecnologia brasileira de ‘alto potencial’ ser comprada por um grande player a preço de ponta de estoque. Muito provavelmente não era essa a expectativa deles ao investirem na empresa para longo prazo”.
Como comprar ações do Meliuz (CASH3)?
As ações do Méliuz (CASH3) são negociadas na B3, a Bolsa de Valores brasileira, e são comercializadas sob o ticker CASH3.
Portanto, para comprar os papéis você precisa ter conta em corretoras ou distribuidoras de títulos e valores mobiliários cadastradas e autorizadas na B3. Assim, a negociação pode ser feita de forma eletrônica até mesmo por meio de aplicativos em seu celular.