Afinal, o que dizem os especialistas sobre a Bolsa? Você deve comprar ações ou esperar mais um pouco?
O Ibovespa deve subir, mas com fortes emoções; veja o que levar em consideração
Em 2021, o Ibovespa caiu 12%. Desanimador, não? Mas tanto as estatísticas históricas quanto as projeções dos analistas apontam para a probabilidade maior de ano positivo no mercado de ações brasileiro em 2022, ainda que a economia fique estagnada e o cenário esteja recheado de incertezas.
Um alerta: exatamente esses fatores negativos e riscos que permeiam o ambiente é que devem diferenciar quais empresas e setores devem ser os vencedores ou perdedores na bolsa.
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O entendimento entre analistas é de que os fundamentos das empresas teriam condições de levar o Ibovespa mais para cima até o final do ano. Para o Santander, por exemplo, é esperado que o Ibovespa chegue a 125 mil pontos, o que equivaleria a 19% de retorno em um ano completo. Para o banco, o ciclo de lucro das empresas listadas na Bolsa tende a se normalizar. Isso significa que as empresas de commodities, minério de ferro, petróleo, que puxaram 2021, podem ter desempenho menor com a normalização do ciclo.
A Bolsa está barata
O valor de mercado da Bolsa brasileira está baixo em termos históricos. A tese é a de que uma parte dos eventos negativos, como a PEC dos Precatórios, a preocupação fiscal e o cenário de inflação já está embutida nos preços das ações. Dado a pontuação da bolsa hoje, a relação entre o valor de mercado e o lucro previsto para os próximos 12 meses estaria em 7,8 vezes, abaixo da média histórica de 11,5 vezes, segundo o Santander.
Os analistas do Bradesco BBI acreditam em um Ibovespa próximo a 130 mil pontos em 2022, o que representaria um retorno de 24% em relação ao fechamento da virada do ano.
Há o fator eleições presidenciais. A preocupação do mercado financeiro e dos investidores é menor com os candidatos ao cargo em si, mas sim com a política econômica que futuro presidente vai implementar. A pergunta-chave é se o ajuste fiscal vai continuar ou não, segundo os analistas.
Pelos cálculos feitos pela equipe do Bradesco BBI, hoje o cenário é mais positivo. Eles dizem que as probabilidades são assimétricas com viés positivo para a Bolsa numa proporção de 4 para 1. Trocando em miúdos: se tudo der errado, o investidor perderia 1; se der certo, ganha 4.
As estatísticas também jogam a favor de um Ibovespa no campo positivo em 2022. A repetição de dois anos seguidos de Bolsa no vermelho não seria fato inédito no Brasil. Mas um estudo do professor Carlos Heitor Campani, com base em dados dos últimos 20 anos e índices de sete Bolsas de diferentes países, aponta que essa dobradinha é improvável. O trabalho mostra que, de 2002 a 2020, houve um total de 34 rentabilidades anuais negativas para as sete bolsas analisadas. E em 30 oportunidades quem apostou na bolsa no ano seguinte teve retorno positivo.
Como ficam as empresas de commodities?
As empresas do setor de commodities têm uma tendência de alta em 2022 pela demanda vinda da retomada da atividade econômica em âmbito global, segundo analistas de mercado. A Vale, por exemplo, tem uma gestão operacional considerada boa, além de diferenciais em seu produto. O minério de ferro da companhia é negociado com prêmio no mercado. Seu principal cliente é a China, que cresce em ritmo mais acelerado que outros países. Além disso, ela está sempre reportando bons resultados e pagando bons dividendos. Ou seja, no médio e longo prazo, é uma ação para ter na carteira.
No caso da Petrobras, mesmo que haja um possibilidade de intervenção governamental na estatal para mudar a política de preços, esse risco já está no preço do papel. A empresa hoje é mais eficiente, tem margens de lucro maiores, pagou um valor alto de dividendos em 2021e negocia com desconto em relação a seus pares internacionais.
Já o agronegócio teria potencial menor de alta. Teve bons resultados em 2021, mas os analistas acreditam que os números não se sustentam. Não chegará a ir mal, mas talvez sua performance seja um pouco menor do que outras commodities, como minérios e metálicas.
As empresas de valor
Ainda na tentativa de separar o joio do trigo, mas com outra perspectiva, Victor Natal, estrategista de ações para pessoas físicas do Itaú BBA, destaca que a estratégia mais acertada na bolsa este ano será apostar nas chamadas “empresas de valor”, mais resilientes aos solavancos da economia doméstica e que são menos sensíveis à variação das taxas de juros de longo prazo, dado que já geram caixa no presente. “As ‘empresas de valor’, que mostram fluxo de caixa, devem ir melhores neste cenário do que as ‘empresas de crescimento’. Isso porque elas não dependem de uma tese de crescimento para, no futuro, gerar caixa”, explicou ele em entrevista concedida no fim de 2021.
Atenção ao “beta”
Outro guia que pode levar a melhores investimentos no ano, em sua opinião, é o chamado “beta”, indicador que mede a correlação histórica da variação da ação com o Ibovespa. Num exemplo, se no dia que o Ibovespa sobe 1%, aquela ação quase sempre sobe mais, ela tem um “beta” mais arriscado, já que no movimento de baixa o comportamento será semelhante. Já se quanto o Ibovespa avança 1% ela sobe menos, o beta é inferior a 1 e a empresa é considerada mais “defensiva” na bolsa. “O que vemos nessa perspectiva são setores como o de papel e celulose, que é exportador e defensivo, e o de proteína animal, que deve continuar indo bem por uma parte de 2022”, adiciona, citando empresas que costumam ter “betas” mais baixos. Natal inclui nesse grupo também as empresas de serviços públicos, como as fornecedoras de energia, saneamento e telefonia. Entre essas últimas, as de energia são as preferidas do BBA, dado que o banco acredita na melhora do nível dos reservatórios e destaca a maior eficiência dessas empresas.
Os riscos do varejo
E se empresas exportadoras e já estabelecidas são as que mais devem se valorizar na bolsa brasileira em 2022, aquelas voltadas essencialmente para o consumo doméstico devem patinar. O cenário é favorável a quem estiver exposto ao que acontece no exterior, mas desafiador para quem está mais exposto ao mercado doméstico e aos indicadores macroeconômicos, como inflação e juros. Para os analistas, o cenário é cauteloso para empresas associadas mais ao risco Brasil, o que as ações de varejo já vêm refletindo. Empresas de consumo, de forma geral, terão ano mais difícil dado o que está acontecendo na macroeconomia, com inflação acima de 10% e juros em alta, podendo chegar a 11,50% ano que vem. Isso traz um viés negativo.
Dólar instável
O câmbio, por sua vez, deve ter um 2022 instável, seja pela preocupação com a pandemia lá fora, a recuperação econômica mundial ainda incerta, ou as eleições aqui dentro. Por isso, as empresas com receitas em dólar tendem a se beneficiar por estarem mais protegidas da volatilidade.
Cenário fiscal
Na opinião de Natal, do Itaú, o fato de a PEC dos Precatórios ter passado em dezembro no Congresso acabou sendo uma boa notícia, porque ela tira a chance de haver decreto de estado de calamidade, que abriria ainda mais espaço para o gasto público e deixaria o problema da incerteza fiscal ainda maior. Ele lembra que isso já foi embutido na curva de juros futura, que inclinou para baixo na parte mais longa.
Fique de olho no exterior
Há três fatores que vão ditar o tom dos investimentos em 2022: crescimento, volatilidade e liquidez.
No primeiro caso, do crescimento, a expectativa do mercado em geral é de que a economia global avance em torno de 4%, patamar pré-pandêmico. Mas não estão descartadas reviravoltas, uma vez que o avanço da ômicron já tem levado a problemas de produção em alguns países, e isso pode respingar por aqui em algum momento.
Vale ressaltar que a China segue sendo um importante agente de crescimento mundial e, em especial, para as empresas da bolsa brasileira. Se a covid avançar por lá, pode ser que novos fechamentos sejam decretados e isso interfira na recuperação da economia chinesa. É certamente, um país para acompanhar de perto.
Em segundo lugar, a volatilidade do mercado deve aumentar em 2022, dadas as incertezas sobre pandemia e do novo direcionamento do banco central americano, o Federal Reserve (Fed), de subir juros e retirar estímulos mais rápido do que se imaginava.
Por fim, a liquidez, que é a disponibilidade de dinheiro. A liquidez dita o apetite ao risco do investidor internacional. Farta liquidez leva a maior apetite para investir em países emergentes, como o Brasil. Se a liquidez diminui muito com o aperto monetário do Fed, o quadro pode se tornar perigoso.
Além disso, o aumento dos juros nos EUA é, por si só, um atrativo para investidores internacionais irem para lá. É a busca por maiores rendimentos em um mercado mais seguro.
Outro ponto importante é o risco de estouro de uma possível bolha do mercado de ações americano. O S&P 500 teve 70 recordes de pontuação em 2021. O ponto é que, se vier uma correção, a Bolsa aqui corrige também.
Com reportagem do Valor Investe