Apostar em CDB pós-fixado agora vira encruzilhada mesmo com nova alta da Selic

O risco está na marcação a mercado, apontam analistas

A enxurrada de CDB (Certificado de Depósito Bancário) em plataformas de investimento voltou a chamar a atenção do investidor brasileiro. Desta vez, bancos de médio a pequeno porte oferecem prêmios médios de 113% do CDI em prazos de 4, 5 e 7 anos. Mas especialistas veem com cautela o investimento nesse tipo de ativo de renda fixa hoje, ainda mais em um CDB atrelado à Selic, que passa por reavaliação no mercado financeiro.

Se em dezembro o mercado esperava que os juros no Brasil poderiam saltar para 17% ao ano, hoje analistas ponderam uma taxa com teto para 15%. Isso pode levar à marcação a mercado dos CDB que rendem em percentual do CDI, na modalidade pós-fixado. Na visão de especialistas, apostar em crédito bancário com prazos médio e longo torna-se um risco.

O que são os CDB pós-fixados?

Os CDB pós-fixados são certificados de depósitos bancários atrelados à taxa DI, que oscila conforme a Selic. Tornaram-se mais populares entre investidores de varejo e fazem sucesso no Brasil pela recorrência de altas taxas de juros no País. Assim, fazem parte da renda fixa, e inclusive vem atraindo até os mais ricos.

Mas os pós-fixados agora estão no meio de uma encruzilhada para o investidor. Os certificados com investimento mínimo baixo, menor do que R$ 1, e de médio e longo prazo de vencimento entram em choque com a expectativa de queda de juros antes do esperado.

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    Por que investir hoje em CDB pós-fixado é arriscado?

    Os CDB com retorno sobre o CDI vendidos hoje por corretoras de investimento e distribuidoras, assim, correm o risco de serem marcados a mercado, na avaliação de Manfred Back, economista e professor de Mercado de Capitais da PUC-SP.

    O que é marcação a mercado?
    A marcação a mercado se aplica caso os juros caiam e o CDB pós-fixado passe a perder valor no mercado secundário. Back cita, por exemplo, o caso de um CDB que rende 100% do CDI com vencimento de dois anos. O investidor entra no título com R$ 1.000 mas precisa resgatar em 6 meses, e percebe que resgata R$ 800. O que aconteceu? O CDB sofreu o efeito da queda dos juros no ponto da curva em que contratou a taxa, porque o mercado não vê o mesmo valor no título se os juros serão menores. Nesse caso, o efeito do mercado secundário atinge o primário e provoca reajuste. Essa é a marcação à mercado.

    No caso dos CDB de longo prazo, Back considera o investimento “arriscado”. Isso porque o economista considera difícil prever a Selic em cenários superiores a um ano. Ele cita que o BC deve mudar a postura sobre o ciclo de juros em breve.

    Hoje, CDB de bancos emissores com baixo risco estão com taxas médias de 99,5%. Os de médio risco, de instituições que dependem mais da captação à mercado, tem prêmio médio de 105% sobre o CDI. Já os de alto risco passaram a oferecer seus CDBs com taxas de 113%, segundo levantamento de Back.

    “O que atrai o investidor pessoa física é principalmente a taxa”, afirma. “Mas ele precisa prestar atenção na liquidez a partir de agora. Faz toda diferença se ela for diária, ou se for na data de vencimento.”

    No caso da liquidez no vencimento, é possível, nos termos da oferta, que o banco aceite o resgate antecipado por parte do investidor, mas sob taxa.

    Onde investir em crédito bancário com risco de queda de juros?

    Dentro do prazo de dois anos, o Banco Inter recomenda investir em CDB em CDI com liquidez diária, diz Rafael Winalda, estrategista em renda fixa da fintech.

    Mas tudo depende do “timing da curva de juros”, comenta Winalda. “Depende até do mês de vencimento”, complementa.

    Em um cenário onde temos altas de juros, o CDB pós-fixado ganha com a marcação a mercado. Agora, vai ter espaço para BC cortar juros? Se sim, tudo se inverte. Num cenário onde a Selic cai, o CDB prefixado ou híbrido (IPCA+) performa melhor.”

    Rafael Winalda, estrategista em renda fixa do Banco Inter

    Acima do prazo de vencimento de 5 anos, o especialista afirma que o CDB IPCA+ tem o melhor retorno ao investidor.

    Back concorda. “Para o cliente do CDB não perder poder de compra, o ideal seria um ativo que rende em juros reais. Afinal você tem o efeito composto sobre a taxa, sem se preocupar com variação de preço.”

    Mas Laís Costa, analista de renda fixa da Empiricus, afirma que o CDB pós-fixado pode se valorizar porque o BC pode adotar um tom mais suave contra a inflação.

    A Empiricus acredita que a curva de juros futura pode abrir no vértice de 2027 após a autoridade sinalizar projeções de inflação menores que o esperado no horizonte de 2026. O reajuste viria no próximo Relatório Trimestral de Inflação (RTI), avisa Lais.

    O BC estaria menosprezando o quanto a economia do Brasil cresceu acima do potencial, diz a analista da Empiricus. De acordo com a corretora, o PIB de 2024 cresceu 3,3% acima de seu potencial. Nas contas do BC, essa diferença da expansão da economia real contra a potencial cai para 0,7%.

    “OBC estima queda maior da economia em relação ao potencial para 2025. Se essa diferença vira negativa, ele tem espaço enorme para cortar juros”, comenta a especialista.

    “Por isso, eu gosto do CDB com rendimento pós-fixado hoje. O mercado entraria em modo de risco, o que pode levar o prêmio a abrir a parir de 2027”, conclui a analista da Empiricus.

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