Renda fixa: com alta na Selic, milionários correm do risco para o tradicional CDB

'Com esse juros, está difícil tirar os milionários da renda fixa, e do CDI', diz gestor de famílias ricas

O patamar alto da taxa Selic e as dúvidas em torno do cenário econômico mundial estão empurrando os milionários brasileiros para o quadrante mais conservador dos investimentos em renda fixa.

Segundo as family offices, casas que fazem a gestão do patrimônio das famílias ricas, os endinheirados, neste momento, estão atrás de liquidez e, principalmente, de baixo risco.

Assim, em um mundo com derivativo, fundos exclusivos, bitcoin, debênture e crédito estruturado, o alvo da vez entre os milionários é o… CDB.

Isso mesmo, o bom e velho Certificado de Depósito Bancário. Principalmente se for de banco grande, que hoje entrega um prêmio na casa dos 100% do CDI.

“Na alocação local, é 100% CDI. Muito CDB do banco Itaú, por exemplo”, confessa a gestora Hohad Harati, que atende famílias com ticket médio a partir de R$ 5 milhões.

“Muita gente se queimou com papel de empresa que entrou em recuperação judicial ou fundo de multimercado que não entregou o resultado”, conta.

Renda fixa: a tentação do CDB e do curto prazo

De forma geral, os especialistas dizem que, com uma taxa de juros que pode chegar a 15% neste ano, poucos se animam a apimentar o portfólio com ativos mais arriscados.

“O investidor, mesmo os mais ricos. olha para os juros e o curto prazo remunerando bem. Isso é uma tentação”, afirma Pedro Vendramini, sócio da One Wealth.

Com R$ 3,5 bilhões sob administração, ele atende famílias com um carteira média de R$ 60 milhões. Nesse patamar, o mercado financeiro se abre em oportunidades sofisticadas. “Mas é difícil tirar o cliente do CDI”, afirma. “Os mais conservadores têm até 60% (em investimentos pós fixados)”, diz.

Na Cimo, da multi-famiy offices Vita, com R$ 8 bilhões, o gestor Juan Schiavo diz que os endinheirados querem manter os recursos no caixa.

“Tem muito CDI pós fixado, seja LFT, seja CDB de bancão. Mas a gente também tem muito IPCA no portfólio”, diz.

Todo mundo quer pós. Mas também tem o prefixado

Schiavo, que atende famílias com R$ 12 milhões, diz que tenta ampliar o horizonte de investimento dos clientes com outros títulos de renda fixa, como o IPCA + (NTN-Bs).

“Gosto dos vértices de 2035. Não é um prazo curto, mas não é longo. Os prêmios de juros real de 7,5%, 7,8% são muito atrativos. Isso traz volatilidade no curto prazo, mas remunera um carrego de um juro real muito elevado e por muito tempo dentro do portfólio”, diz.

Na última edição do PodInvestir, Marcio Verri, que administra R$ 132 bilhões pela Kinea, também falou sobre o prefixado. Ele afirmou que a abertura da taxa na NTN-B a níveis que não se via há 20 anos abre oportunidades e preços para alocações que historicamente não acontecem.

“Se a gente olhar o nível da NTN-B agora, só em 3% das vezes da história do Brasil as taxas ficaram acima desses níveis que elas estão agora”, disse.

Juan Schiavo, da Cimo, fala sobre isso. Para ele, uma oportunidade como essa justifica manter o dinheiro em real, no Brasil. “Você não encontra juros (em renda fixa) tão elevados pelo mundo”, diz.

Renda fixa ou investimento offshore

Por falar nisso, além da renda fixa brasileira, as famílias milionárias também estão intensificando as aplicações fora do Brasil, principalmente nos Estados Unidos.

Por meio das family offices, os endinheirados têm acesso a produtos tradicionais, como o fundo de crédito da Oaktree, do lendário gestor norte-americano Howard Marks.

“Tem muita coisa no exterior. Hoje o S&P 500 não é o que mais gostamos, pelas realizações das empresas de tecnologia. Mas mesmo em ações, nós temos espaço no índice da S&P que equilibra o peso das empresas, o S&P Equal Weight”, diz Juan Schiavo.

Os gestores de family offices sempre aconselham aos milionários a manutenção de uma parte do portfólio no exterior. De uma forma geral, essa carteira está subindo de 2024 para cá, de uma proporção de 20% da carteira para 30%.

“A gente sempre recomenda uma parte do dinheiro em dólar. E se vai ser renda fixa ou renda variável, vai depender do perfil de cada um”, conta Pedro Vendramini, da One Wealth.

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