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Destravando oportunidades e crescimento: o papel crucial do mercado de acesso para o Brasil
Na minha coluna de estreia, não poderia deixar de abordar o tema que motivou a criação da BEE4, que é a importância do desenvolvimento do mercado de acesso brasileiro. E o que é mercado de acesso?
Mercado de acesso é um segmento do mercado de capitais para que pequenas e médias empresas (PMEs) acessem os investidores e vice-versa. Desta forma, elas podem captar recursos e financiar suas estratégias de crescimento. Além disso, para o investidor, é uma chance de investir nas PMEs que mais crescem.
Do mesmo modo, trata-se de uma porta de entrada para que essas companhias possam admitir seus ativos à negociação pública em mercado organizado. Ou seja, realizar IPO e se tornar efetivamente companhias de capital aberto.
Para isso, é preciso respeitar um conjunto de pré-requisitos e assumir obrigações regulatórias. Contudo, essas regras são mais simples, se comparadas às cumpridas por empresas como Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3).
A simplificação do arcabouço regulatório significa custos menores para as PMEs emissoras.
Qual o objetivo do mercado de acesso?
O mercado de acesso funciona como uma formação de base para impulsionar PMEs que podem ser as futuras grandes empresas nacionais. É como se fosse uma divisão de acesso para o grupo especial da B3.
Esta alternativa de financiamento é importantíssima para nossa economia pelo potencial de geração de empregos e crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Para os investidores desses ativos, o mercado de acesso oferece uma oportunidade de diversificação.
Para ‘tangibilizar’ a relevância das PMEs, 8 entre 10 empregos são gerados por esse segmento, responsável por cerca de 1/3 do nosso PIB, de acordo com o Fórum Econômico Mundial. Por outro lado, apesar de sua importância, as PMEs enfrentam grandes desafios no acesso ao financiamento.
Um relatório da consultoria McKinsey aponta que o déficit global de financiamento para esse segmento supera US$5 trilhões. Na América Latina, onde a economia brasileira é a mais relevante, o déficit estimado pela McKinsey corresponde a 20% deste total.
Mercado de acesso no Brasil e no mundo
A B3 foi criada em 1890 e até então era o único mercado de ações brasileiro. Hoje, cerca de 400 empresas negociam suas ações na bolsa de valores brasileira. Apesar disso, a iniciativa do Bovespa Mais, lançada em 2005, não decolou. Quase 20 anos depois conta com 15 empresas, sendo que apenas 3 negociam suas ações (Bahema, Biomm e Nutriplant) atualmente.
Por exemplo, para efeito de comparação, no Reino Unido, a London Stock Exchange que tem a AIM – Alternative Investment Market, conta com 1143 empresas listadas no mercado principal e 722 no mercado de acesso.
Já no Canadá, o Grupo TMX anunciou em agosto que conta com 1816 ativos na Toronto Stock Exchange, a maior bolsa de valores do Canadá. Já na TSX Ventures, bolsa de valores sediada em Calgary, também no Canadá, há outras 1881 companhias listadas.
Em 2024, a TSX anunciou que mais de 760 empresas migraram do segmento de acesso para o principal. Lembrando que a TSX foi fundada em 1999. Esse número representa quase o dobro das ações que temos listadas no Brasil atualmente.
Mudança de cenário
As notícias sobre iniciativas de mercado surgindo no Brasil para competir com a B3 no mercado principal estão cada vez mais presentes nos últimos meses. Alguns analistas mais céticos colocam como potencial entrave o tamanho limitado do mercado brasileiro.
A questão é perpetuar o momento atual ou criar as condições para mudar essa realidade. Sem formação de base, e foco para desenvolver esse novo segmento, de fato vai ser desafiador promover o crescimento do mercado.
Incomoda saber que o Brasil, cujo PIB está entre os dez maiores do mundo de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), tenha menos ações listadas do que economias bem menores.
Dados de 2022, publicados pelo World Bank Group, mostravam o Vietnã com 402 empresas listadas em bola de valores. Já o Paquistão, segundo o mesmo estudo, possui 494, a Tailândia com 810 e a Indonésia 825. No mesmo estudo o Brasil aparece com 361.
O que é a BEE4?
Lançada em 2022, a BEE4 é uma plataforma de negociação de ações com foco em PMEs.
Funciona como a bolsa de valores B3, só que no lugar de grandes companhias com faturamentos bilionários, quem está listado é emergente. Empresas com receita de 10 milhões a 300 milhões de reais — modelo adotado no início da Nasdaq, nos Estados Unidos.
A BEE4 é o único mercado, além da B3, autorizado pela CVM a negociar ações no país, e o primeiro a utilizar blockchain em sua infraestrutura.
Com pouco menos de 2 anos em operação, já listou 4 companhias (Engravida, Mais Mu, Plamev Pet e Eletron) em um período de seca de IPOs no Brasil.
A BEE4 foi criada no âmbito do sandbox regulatório da CVM (um ambiente controlado para desenvolvimento de novos modelos de negócio sob supervisão regulatória). Nesse sentido, o objetivo é democratizar o mercado de capitais para PMEs.
Uma de suas maiores inovações foi a proposta de um novo arcabouço, mais adequado à realidade de companhias de menor porte. Com isso, busca-se um equilíbrio entre as simplificações de condições e a exigência de obrigações mínimas para resguardar a proteção dos investidores.
Para abrir capital na BEE4, as companhias se comprometem a atender um grupo de pré-requisitos para listagem, entre eles a natureza jurídica de sociedade anônima (S.A.) e a manutenção de auditoria anual por auditor independente e credenciado na CVM.
Como já disse, o mercado de acesso é um segmento para que pequenas e médias empresas acessem os investidores e vice-versa. Vamos falar mais sobre esse mundo daqui pra frente!
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