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Mudança nas expectativas de juros nos EUA: apenas 2 cortes em 2024?
Na semana passada, o indicador de inflação ao consumidor americano foi o grande destaque, sacudindo as expectativas sobre cortes de juros nos EUA e os mercados em geral. O principal indicador de inflação continuou a mostrar que ela não está cedendo conforme esperado pelo mercado e pelo banco central americano. Assim, tanto o índice cheio quanto o núcleo da inflação não apresentam sinais de trégua.
E observando o núcleo (que exclui alimentos e energia), constatamos uma alta de 0,4% em março. Ou seja, foi o mesmo número registrado em janeiro e fevereiro, indicando, portanto, que a inflação subjacente não está diminuindo. Isso é motivo de preocupação e provavelmente influenciará as decisões dos dirigentes do Fed.
Os dados revelaram a resiliência da inflação e tiveram um impacto direto nas expectativas de política monetária pelo Fed. Notamos que a ferramenta CME FedWatch agora está precificando cortes de juros apenas na reunião de setembro.
Apenas 2 cortes?
E essa tem sido a história de 2024. O mercado tem ajustado suas expectativas de cortes de juros em resposta à resiliência da economia e aos dados divulgados. Após iniciar o ano com a possibilidade de até 6 cortes de juros em 2024, atualmente, o mercado estima no máximo apenas 2 cortes.
Na quinta-feira, tivemos o dado de inflação ao produtor. A inflação ao produtor americano se mostrou mais moderada do que a esperado pelo mercado. Isso indica uma desaceleração significativa em relação ao aumento de 0,6% observado em fevereiro. No entanto, em uma base de 12 meses, o PPI subiu 2,1%. Trata-se do maior ganho desde abril de 2023, o que sugere que as pressões inflacionárias ainda estão presentes.
Em resumo, alguns agentes do mercado especularam sobre possíveis aumentos de juros devido a um cenário inflacionário menos benigno. No entanto, parece prematuro apostar em aumentos de juros neste momento.
É um fato que a resiliência da economia americana demonstrada no início do primeiro trimestre de 2024, aliada aos dados recentes de inflação, praticamente eliminaram a possibilidade de cortes de juros em junho.
Isso ocorre porque toda a comunicação do Fed tem defendido a importância de observar os dados e ver uma melhoria consistente para considerar mudanças na política monetária (dependente dos dados). E os últimos dados certamente não mostram essa melhoria.
Earnings season vem aí!
Na sexta-feira, iniciou-se a temporada de divulgação de balanços nos EUA. Estamos falando da Earnings Season, na qual as empresas divulgam seus balanços e demonstrativos de resultados. Durante esse período, elas comunicam ao mercado seus lucros, prejuízos, custos, despesas, fluxo de caixa, entre outros. Essa é uma declaração pública oficial da empresa sobre seu desempenho atual e suas perspectivas futuras.
Mas o que são os arquivos 10-Q e 10-K?
As empresas públicas têm que apresentar o relatório 10-Q (trimestral) e o 10-K (anual) à Securities and Exchange Commission (SEC). Os principais componentes do 10-Q incluem a demonstração de resultados, o balanço patrimonial, a demonstração dos fluxos de caixa e os comentários da administração.
Não supervalorize os números apresentados
É importante ressaltar que os balanços e números apresentados se referem ao período de 30 de junho de 2023 a 30 de setembro de 2023. Em outras palavras, são um retrato do passado da empresa, abrangendo vendas e lucros que já ocorreram, sem garantia de repetição.
Por que, então, a Earnings Season é um evento importante para o mercado?
Porque fornece uma visão de como a empresa tem se saído no cenário atual e quais são seus planos e perspectivas para o futuro. Juntamente com os lucros passados, muitas empresas apresentam previsões (guidance) sobre seus resultados futuros e/ou realizam reuniões públicas, nas quais a administração se comunica com o público.
A Earnings Season é amplamente aguardada pelos analistas de mercado, que buscam fazer várias projeções sobre os números da empresa. Com a divulgação pública desses números, eles podem comparar se suas estimativas estão alinhadas ou não.
Essa comparação (expectativa vs. realidade) tende a gerar impactos nos preços das ações. No mercado de capitais, frequentemente trabalhamos com base em expectativas, e, por isso, números acima ou abaixo das expectativas de mercado tendem a causar fortes oscilações nos preços das ações.
Mas o que esperar dessa safra de balanços?
De forma top-down, observamos que a economia americana surpreendeu positivamente ao longo dos últimos meses, apresentando dados que levaram o mercado a revisar suas expectativas de crescimento para o primeiro trimestre de 2024.
Em suma, tivemos um ambiente de crescimento na economia americana, o que tende a refletir nos resultados das empresas. Em termos de receitas, os analistas esperam que as empresas do S&P500 relatem um crescimento de receita (ano a ano) de 3,5%. Se isso se materializar, será o 14º trimestre consecutivo de crescimento da receita para as empresas do índice.
Lucros menores e concentrados?
Além do crescimento modesto de receita, espera-se que isso também ocorra nos lucros. Em geral, há uma visão relativamente conservadora no mercado em relação ao desempenho agregado dos lucros do S&P500 neste 1T24.
Prevê-se que as empresas do S&P 500 registrem o menor crescimento de lucro na comparação anual (1T24 versus 1T23) desde 2019, com um aumento de 3,9%, de acordo com dados compilados da Bloomberg Intelligence. Vale ressaltar que algo semelhante ocorreu no último trimestre (4T23), quando o mercado estimava um crescimento de 1% nos lucros, mas o resultado foi de mais de 8%.
Importante lembrar que a história mostra que o crescimento dos lucros tende a ser o principal motor para o desempenho do mercado de ações no longo prazo.
Pico de lucros para as Magnificent 7?
Um ponto importante a ser observado nesta temporada de balanços refere-se às expectativas para as “Magnificent 7” (Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft, NVIDIA e Tesla). A partir do segundo trimestre de 2023, as chamadas “Mag7” apresentaram uma forte expansão de lucros, enquanto as demais ações do S&P500 não tiveram o mesmo desempenho exuberante.
Essa tendência foi observada até o 4T23. Para este 1T24, espera-se que vejamos isso novamente, mas em menor medida, e que ao longo do ano essa discrepância nos lucros tenda a diminuir.
Para este primeiro trimestre, o mercado aponta para um crescimento de 38% nos lucros das “Mag7”; ao excluí-las do índice, as estimativas são de uma queda de 2% nos lucros das outras 493 empresas.
Olhar setorial
Olhando setorialmente, de acordo com as expectativas do mercado, espera-se que 5 dos 11 setores do S&P 500 apresentem crescimento nos lucros neste ano. Destaque para o setor de Utilidades Públicas e Tecnologia da Informação, que são esperados para terem a maior expansão de lucros neste 1T24.
Para Utilidades Públicas, dois fatores ajudam a explicar essa melhora:
- (i) uma base de comparação fraca;
- (ii) queda nos preços do gás, que é um insumo importante para muitas dessas companhias.
Já o setor de Tecnologia da Informação engloba empresas como Meta e Google e se beneficia do crescimento mencionado anteriormente das “Mag7”, além das medidas de controle de custos e despesas que muitas dessas empresas adotaram ao longo de 2023.
Por outro lado, apesar da melhoria nos preços do petróleo mais recentemente, os preços do gás natural ficaram significativamente mais baixos em comparação com o ano anterior. Além disso, diversas commodities também não tiveram um desempenho significativo em termos de preços, o que ajuda a explicar as perspectivas menos otimistas para os setores de Materiais Básicos e Energia.
Bancos: crescimento modesto
Para os bancos, que iniciam esta safra, espera-se um crescimento modesto nos lucros de 1,7% na comparação anual. Em suma, o ritmo de crescimento dos empréstimos tem sido relativamente fraco.
Após o susto com o Silicon Valley, as perdas de crédito continuam a normalizar-se, mas é possível que os bancos aumentem suas reservas para se prepararem para perdas futuras. Além dos bancos, espera-se que as companhias de seguros registrem forte crescimento dos lucros, beneficiando-se de uma base de comparação fraca, melhores índices de sinistralidade e yields ainda elevados.
Margens melhores
Talvez uma melhora nas margens de lucro não seja percebida neste trimestre, mas o mercado aposta que veremos uma melhora nesse sentido ao longo de 2024. As margens líquidas do S&P 500 estão atualmente em torno de 12,2%, mas o consenso aponta para 13,3% no terceiro trimestre de 2024.
Essa melhora nas margens depende de as empresas conseguirem implementar medidas de controle de custos e manterem expansões de receitas. Algo que sustenta essa visão é a diferença observada entre o índice de preços ao consumidor e o índice de preços ao produtor.
Por outro lado, para essa melhoria se materializar, as empresas terão que continuar conseguindo repassar as pressões de preços dos custos financeiros mais elevados e de um mercado de trabalho apertado.
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